50 dias do novo coronavírus: compare a situação do Brasil com China, Itália, EUA e outros países no mesmo período da epidemia

Confirmação do primeiro caso da doença Covid-19 no Brasil completa 50 dias nesta quinta-feira (16).

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A confirmação do primeiro caso do novo coronavírus (Sars-CoV-2) no Brasil completa 50 dias nesta quinta-feira (16). Desde o registro inicial, o país chegou a mais de 28 mil infectados e ultrapassou os 1.736 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde.

A primeira morte por Covid-19 no Brasil aconteceu em 17 de março, em São Paulo. Nas quatro semanas seguintes, todos os estados do país já haviam registrado mortes.

Assim como o Brasil, outros países viram o número de casos e mortes aumentar nos primeiros 50 dias do surto e tomaram medidas para conter o avanço, em maior ou menor grau:

  • Com medidas duras, a China conseguiu estabilizar o surgimento de novos casos depois de 50 dias.
  • Com quarentena menos rígida no início da epidemia, a Itália viu o seu número de mortos ultrapassar o da China.
  • Alemanha demorou mais tempo que a Itália para colocar em práticas medidas de distanciamento social, mas a boa preparação do seu sistema de saúde ajudou a garantir uma letalidade mais baixa.
  • Com grande densidade populacional, a Coreia do Sul conseguiu fazer um bom controle dos casos nos 50 primeiros dias, mas a doença continua avançando.
  • Os EUA demoraram a implementar ações de isolamento e, quando foi feita uma testagem em massa, o país apareceu como o novo epicentro da doença no mundo.
  • Quando a Espanha se tornou um dos países mais afetados pela Covid-19, o governo espanhol decidiu decretar emergência e tornar o isolamento obrigatório.

Avanço do coronavírus nos países

País Infectados após 50 dias Mortos após 50 dias Infectados até 15/04 Mortos até 15/04
China 75.101 2.239 83.751 3.474
EUA 1.281 36 636.350 28.326
Itália 47.021 4.032 165.155 21.645
Espanha 25.374 1.375 177.644 18.708
Brasil 28.320 1.736 28.320 1.736
França 3.661 79 133.470 17.167
Alemanha 1.908 3 134.753 3.804
Japão 639 15 8.100 146
Coreia do Sul 8.236 75 10.591 225

 

Veja abaixo as curvas de casos e mortes nos países com as taxas calculadas por 100 mil habitantes. Essas taxas mostram o efeito do vírus em países menos populosos, como Alemanha (83 milhões), Itália (60,3 milhões de habitantes), Coreia do Sul (51 milhões) e Espanha (47 milhões), em comparação com China (1,4 bilhão) e EUA (329,5 milhões) e Brasil (210 milhões).

Gráfico mostra a taxa de mortes nos 50 primeiros dias de epidemia em cada um dos países — Foto: G1

Curva de contágio nos 50 primeiros dias de epidemia — Foto: G1

Os números de confirmações de casos de coronavírus e de mortes por Covid-19 foram compilados pela Universidade Johns Hopkins. O primeiro registro feito na plataforma da instituição de ensino foi em 22 de janeiro, quase um mês após o primeiro alerta da OMS para uma pneumonia desconhecida em Wuhan, na China.

Pesquisadores que acompanham o surto de coronavírus pelo mundo (leia mais abaixo) fazem a ressalva de que o índice de casos confirmados nos países depende da política de testes adotada em cada um deles – e também da quantidade de equipamentos à disposição. Além disso, os especialistas reforçam que cada país tem um cenário específico de combate à pandemia e que medidas de contenção têm que levar em conta as especificidades locais.

Veja, abaixo, os marcos dos 50 dias de Covid-19 em cada país:

Casos de coronavírus no Brasil — Foto: G1
  • 26 de fevereiro: Ministério da Saúde confirma o 1º caso do novo coronavírus no Brasil.
  • 10 de março: O presidente Jair Bolsonaro disse durante um discurso em um evento em Miami, nos Estados Unidos, que a “questão do coronavírus” não é “isso tudo” e se trata muito mais de uma “fantasia” propagada pela mídia no mundo todo. Boa parte da comitiva presidencial voltou da viagem contaminada com o novo coronavírus.
  • 16 de março: estado do Rio de Janeiro determina quarentena, com fechamento de escolas e restrição de aglomerações; em São Paulo, escolas começam a suspender aulas, e outros diversos estados também adotam medidas de restrição de circulação.
  • 17 de março: São Paulo registra a primeira morte pelo novo coronavírus no Brasil. No mesmo dia, Bolsonaro fala em “histeria” e diz que ações de governadores sobre isolamento prejudicam a economia.
  • 24 de março: começa a valer a quarentena em todo o estado de São Paulo, com fechamento de serviços não essenciais. O presidente Bolsonaro faz um pronunciamento pedindo “volta à normalidade”.
  • 26 de março: após um mês desde o primeiro caso, o Brasil já registrava 2.985 casos confirmados de coronavírus e 77 mortes.
  • 28 de março: o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, defende o isolamento social.
  • 6 de abril: criticado pelo presidente e ameaçado de demissão, o ministro da Saúde disse que permanece no cargo.
  • 8 de abril: O Secretário de Saúde de SP admite que há subnotificação de casos leves de coronavírus no estado; o Ministério Público começou a investigar a orientação de que apenas pacientes internados devem ser registrados em sistema e submetidos ao exame laboratorial.
  • 15 de abril: O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, pede demissão.
  • 16 de abril: ao chegar ao 50º dia desde o primeiro registro, o Brasil registra mortes em todos os estados.
  • Casos de coronavírus na China  — Foto: G1
  • 31 de dezembro: a China envia um alerta à Organização Mundial de Saúde (OMS) relatando uma pneumonia de causa desconhecida; no início de janeiro, a doença era tratada como pneumonia misteriosa.
  • 22 de janeiro: Wuhan, epicentro do coronavírus na China, é isolada e tem transporte público, trens e voos cancelados.
  • 23 de janeiro: China bloqueia transporte entre cidades próximas ao centro da epidemia de coronavírus.
  • 24 de janeiro: a quarentena chega a 40 milhões de pessoas.
  • 27 de janeiro: O prefeito de Wuhan admitiu ter demorado para responder ao surto de coronavírus e anunciou que deixaria cargo.
  • 30 de janeiro: o presidente chinês, Xi Jinping, coloca o país inteiro em restrição de viagens
  • 31 de janeiro: a China completa 1 mês após os primeiros registros oficiais do novo coronavírus e tem 9.812 casos confirmados de Covid-19 e 213 mortes, segundo o levantamento da Universidade Johns Hopkins e a OMS. A taxa de letalidade é de 2,2%
  • No início de fevereiro, a China passou a usar seu sistema de vigilância para controlar o isolamento decretado no país. A polícia chegou a usar drones para mandar quem estivesse na rua de volta para casa.
  • 6 de fevereiro: Morre o médico chinês Li Wenliang, que tentou alertar colegas sobre surto de coronavírus na China logo no seu início.
  • A China inaugurou dois hospitais construídos em tempo recorde, o primeiro em 3 de fevereiro, que demorou 10 dias para ser entregue e um segundo em 8 de fevereiro com mais de 1,6 mil leitos.
  • 13 de fevereiro: O número de registros aumenta após mudança na metodologia que aprova exames clínicos para o diagnóstico da Covid-19.
  • 14 de fevereiro: A China fez uma revisão no número de mortes, reduzindo o total à época para 1.380, 100 a menos que o levantamento anterior, alegando que havia duplicação de registros.
  • 18 de fevereiro: Número de mortes na China por coronavírus passou de 2 mil.
  • 20 de fevereiro: Com 50 dias desde o início da pandemia naquele país, as autoridades de saúde já registravam 75.101 casos de coronavírus e ao menos 2.239 mortes por complicações da Covid-19. Neste dia, o número de novos casos diários começar a cair. Depois, em março, estabiliza em 100 diários.
Casos de coronavírus na Itália — Foto: G1
  • 31 de janeiro: Itália registra os dois primeiros casos; no mesmo dia, o governo suspende os voos com origem e destino da China.
  • 21 de fevereiro: Itália confirma sua 1ª morte por Covid-19; país totaliza 17 casos da doença
  • 22 de fevereiro: governo declara toque de recolher somente na Lombardia, região que fica ao norte do país e é a mais afetada pelo surto; medida afeta 11 cidades e população em torno de 50 mil pessoas.
  • 24 de fevereiro: primeiro-ministro Giuseppe Conte suspende decreto do governador da região de Marche que previa fechamento de escolas e proibia aglomerações; o premiê italiano argumentou que esse tipo de ação descentralizada “contribuía para gerar o caos”. Na mesma época, o governador da Lombardia decreta o fechamento de bares e restaurantes, medida também anulada pelo governo central de Roma.
  • 29 de fevereiro: Itália completa 1 mês dos primeiros registros do novo coronavírus e tem 1.128 casos e 29 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins e a OMS. A taxa de letalidade é de cerca de 2%.
  • 8 de março: Itália decidiu isolar toda a região da Lombardia, afetando cerca de 16 milhões de pessoas. No dia seguinte, o isolamento foi estendido para todos os 60 milhões de habitantes do país.
  • 19 de março: o número de mortos na Itália ultrapassa o da China.
  • 20 de março: Quando completou 50 dias desde o primeiro caso identificado da doença, a Itália já contabilizava 47.021 casos e 4.032 mortes, no dia seguinte, em 21 de março, os italianos tiveram o pico de mortes em apenas um dia, com 793 registros.
  • 22 de março: O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, admitiu ter errado ao apoiar a campanha “Milão não para”, que pedia que a cidade não paralisasse suas atividades no início da pandemia de coronavírus na Itália.
Casos de coronavírus na Espanha — Foto: G1
  • 1 de fevereiro: a Espanha registrou seu primeiro caso de coronavírus. O paciente era um turista que visitava o arquipélago das Canárias, território espanhol no atlântico.
  • 27 de fevereiro: é registrado o primeiro caso em Madri.
  • 1 de março: 30 dias após a confirmação do primeiro paciente com Covid-19 em território espanhol, o país registrava apenas 84 casos e nenhuma morte.
  • 13 de março: a comunidade autônoma da Catalunha decreta isolamento total da região para conter o avanço da doença.
  • 14 de março: A Espanha decretou estado de emergência e torna o isolamento obrigatório. O país registrava 5.753 infectados e 136 mortos.
  • 21 de março: Com 50 dias desde o primeiro contato com o novo coronavírus, o país ibérico disparou com 25.374 casos confirmados de Covid-19 e ao menos 1.375 mortes.
  • 25 de março: a Espanha se tornou o segundo país com maior número de mortes por coronavírus, atrás apenas da Itália.

Casos de coronavírus na Alemanha — Foto: G1

  • 27 de janeiro: a Alemanha registrou seu primeiro caso de um paciente com infecção pelo novo coronavírus, na Baviera. Autoridades de saúde reconheceram que o caso também foi o primeiro de transmissão interna, já que o paciente não tinha histórico de viagem para o exterior.
  • 25 de fevereiro: ao completar 1 mês desde o primeiro registro de coronavírus no país, a Alemanha ainda acumula 17 confirmados e nenhuma morte.
  • 16 de março: o país completa 50 dias desde o primeiro caso e registra 7.272 casos confirmados de coronavírus e 17 mortes.
  • 22 de março, o governo de Berlim decreta que encontros em público com mais de duas pessoas no país estavam proibidos. O país registrava ainda 94 mortes.

Casos de coronavírus nos EUA — Foto: G1

  • 22 de janeiro: EUA registram o primeiro caso do novo coronavírus.
  • Primeiras semanas: os EUA mantiveram quarentena apenas para repatriados, como as pessoas retiradas de Wuhan, na China, e as saídas de um navio de cruzeiro do Japão
  • 4 de fevereiro: o governo do presidente Donald Trump decretou a restrição de viagens para a China e com origem no país asiático.
  • 20 de fevereiro: os Estados Unidos completam 1 mês do primeiro registro do novo coronavírus e tem 13 casos confirmados de Covid-19 nenhuma morte, segundo a Universidade Johns Hopkins e a OMS.
  • 11 de março: com 50 dias desde o primeiro caso confirmado de coronavírus nos EUA, o país já saltava para as 1.281 confirmações e registrava 36 mortes; Trump suspende viagens da Europa aos EUA.
  • 16 de março: O presidente dos Estados Unidos enviou cartas à população norte-americana com a recomendação de ficar em casa e de evitar contato com idosos.
  • 24 de março: a OMS disse ver uma “aceleração muito grande” em número de casos de coronavírus nos Estados Unidos, o que representaria um potencial para o país se tornar o novo epicentro da epidemia. No mesmo dia, o presidente Donald Trump disse que esperava pôr fim às medidas de restrição até a Páscoa.
  • 25 de março: Trump voltou atrás e disse que não iria pôr fim às medidas de isolamento nos EUA de maneira precipitada, neste dia, o Senado chegou a um acordo sobre um plano federal de estímulos de US$ 2 trilhões para aliviar as consequências da pandemia.
  • 27 de março: os EUA ultrapassaram os 100 mil casos confirmados de Covid-19, após uma ação de testes em massa. Com 101.657 o país já contabilizava 1.581 mortes.

Casos de coronavírus na Coreia do Sil — Foto: G1

  • 20 de janeiro: registra o primeiro caso do novo coronavírus. Ainda no início do surto: governo sul-coreano começa a rastrear os possíveis focos de transmissão no país, com monitoramento de casos suspeitos; também estabelece quarentena para todas as pessoas que chegam de Wuhan, na China
  • Outras medidas aplicadas: testes em massa da população; isolamento de infectados; rastreamento de suspeitos por imagens de videovigilância, cartão de crédito ou celular; envio de SMS à população da área perto de onde é confirmado um caso; incentivo a home office; limpeza e desinfecção de algumas das principais estações de metrô
  • 3 de fevereiro: mais de 300 escolas na Coreia do Sul adiam o retorno às aulas (apenas das áreas com casos confirmados de Covid-19)
  • 19 de fevereiro: autoridades identifica que o número de casos de Covid-19 explodiu porque uma pessoa infectada participou de um evento religioso. A cidade de Daegu entra em quarentena, afetando 2,5 milhões de pessoas
  • 20 de fevereiro: a Coreia do Sul completa 1 mês do primeiro registro do novo coronavírus e tem 104 casos confirmados de Covid-19 e uma morte, segundo a Universidade Johns Hopkins e a OMS. A taxa de mortalidade é de 0,9%
  • 11 de março: o país chega aos 50 dias desde o primeiro caso da doença com 7.755 casos confirmados de coronavírus e ao menos 60 mortes.

Diferentes reações

A professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Deisy Ventura, disse ao G1 que os países têm diferentes formas de lidar com a doença. Segundo ela, apenas o isolamento social não representa a melhor forma de combater a pandemia de novo coronavírus.

“Um país como a Espanha fazer um retorno gradual, por exemplo, é um teste. Essas decisões têm que ser feitas com base exclusivamente em evidências científicas”, reforçou a especialista. “Se for o caso de sair, talvez sair aos poucos e com a possibilidade de voltar a qualquer momento, em contato constante com o sistema de saúde.”

Ventura defendeu que, além das medidas de distanciamento social, é importante que haja políticas públicas de manutenção de renda e garantias de direitos sociais. Ela alertou também para casos como Suécia e Japão que teriam abandonado “cedo demais” ou nem chegaram a tomar medidas de isolamento e que agora voltaram atrás ao aplicar medidas mais expressivas de bloqueios.

A especialista em saúde internacional falou também que um bom exemplo é Portugal, que criou alternativas para garantir o distanciamento social, como a abertura de catracas no transporte público. Na última semana, o país também anunciou que imigrantes passariam a ter o direito de ser atendidos no sistema público de saúde.

Preparar-se para o pior

Para o ex-diretor do Instituto Adolfo Lutz e epidemiologista da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Waldman, é difícil criar projeções para o Brasil a partir de dados de outros países. Segundo ele, cada governo se posicionou de forma diferente no início da pandemia.

“Na minha opinião, não devemos fazer previsões do que vai acontecer no Brasil com base nos outros países. A gente tem que se preparar para o pior cenário para região”, explicou Waldman.

Ele reforçou que a pandemia acontece de diferentes formas em todo o mundo e as reações são variadas. Inicialmente, os especialistas acreditavam que o cenário chinês seria o pior possível, mas a Itália e os EUA ultrapassaram as cifras do país asiático.

“Não se esperava inicialmente que a pandemia alcançasse os resultados nas dimensões que tem alcançado nos EUA, que é um país muito rico e com um sistema de vigilância muito bom, ainda que o sistema de saúde não seja universal”, disse o epidemiologista.

Ele destacou também que a governança foi decisiva para que países apresentassem respostas rápidas para o vírus como a Alemanha e Portugal, que, segundo o pesquisador, conseguiram conter rapidamente o avanço da pandemia.