De Rondônia para Glasgow: quem é a jovem indígena que discursou na COP26

Txai Suruí, de 24 anos, contou aos líderes mundiais que seu amigo de infância foi morto por proteger a floresta e pediu ações imediatas pelo clima

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A jovem indígena Txai Suruí, de 24 anos, saiu de Rondônia e chegou até Glasgow, na Escócia, para discursar diante de líderes mundiais na COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, nesta segunda-feira (1º).

Da mesma plenária onde discursaram o premiê britânico, Boris Johnson, o chefe da ONU, António Guterrres, entre outras autoridades mundiais, Txai pediu ações imediatas pelo clima. Ela abriu sua fala lembrando do pai, o cacique Almir Suruí.

“Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.”

Segundo ela, a Terra está dando sinais de que mudanças favoráveis ao clima são fundamentais. “A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo. Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais. Não é 2030 ou 2050, é agora”, disse a jovem. Txai é estudante de Direito e fundou o Movimento da Juventude Indígena em Rondônia.

A ativista do povo Paiter Suruí revelou aos líderes mundiais que seu amigo, o líder indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, foi morto em abril de 2020.

“Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza”, diz Txai na plenária da COP26.

Ari foi encontrado morto na Linha 625 de Tarilândia, distrito de Jarucom, em Rondônia, com sinais de espancamento às vésperas do Dia do Índio, celebrado em 19 de abril. Ele integrava um grupo de vigilância para fiscalizar e denunciar as invasões na terra indígena Uru-eu-wau-wau.

Ari e seu primo Awapy já sofriam ameaças de morte feitas por grileiros que cooptam terras da região.

Em sua fala, Txai afirmou que os povos indígenas estão “na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui”.

Em outubro, a jovem se tornou conselheira da World Wide Fund For Nature no Brasil (WWF Brasil).

“Nós temos ideias para adiar o fim do mundo”, disse a jovem – evocando o livro do líder indígena Ailton Krenak, “Ideias para adiar o fim do mundo” (Cia das Letras). A obra critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza e faz reflexões sobre o meio ambiente.

“Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis. É necessário sempre acreditar que o sonho é possível”, concluiu Txai em sua fala na COP26.

Cacique Almir Suruí e o povo indígena Paiter Suruí

Almir Narayamoga Suruí foi eleito cacique geral do povo Paiter Suruí em setembro e tem ampla participação em debates sobre a preservação do meio ambiente, inclusive em eventos internacionais.

Ele vive na terra indígena Sete de Setembro, em Cacoal, no estado de Rondônia.

Nas redes sociais, Almir aparece ao lado de políticos e defensores do meio ambiente em diversos países. Ele e a filha se posicionam contrários ao Marco Temporal sobre terras indígenas.

Em maio, Almir Suruí foi intimado a depor em um inquérito aberto na Polícia Federal (PF) em razão de divulgações na internet que, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), difamavam o governo federal.

Na época, Sonia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), também foi intimada a prestar depoimento sob a mesma acusação. As intimações foram alvo de requerimento na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, e consideradas abuso de autoridade. O inquérito, no entanto, foi arquivado.