À Base de Plantas: “NotCo” Recebe Aporte de US$ 85 Milhões e Mira Expansão no Brasil

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Startup chilena que produz alimentos como maionese, leite, hambúrguer e até sorvete à base de plantas, a NotCo recebeu um aporte de 85 milhões de dólares para impulsionar sua expansão internacional. O investimento realizado em uma rodada de Serie C faz com que a companhia atinja valor de mercado próximo de 250 milhões de dólares, de acordo com avaliações privadas. A informação foi obtida com exclusividade pela EXAME.

Fundada em 2015 pelos empreendedores Karim Pichara, Pablo Zamora e Matias Muchnick, a NotCo tem sede em Santiago, na capital do Chile. Para desenvolver os produtos, a companhia desenvolveu um algoritmo chamado de Giuseppe que, ao ser abastecido com uma grande quantidade de dados, utiliza inteligência artificial para sugerir a combinação de moléculas de alimentos à base de plantas para replicar o sabor, a textura e o aroma de alimentos com base animal. O infográfico no fim desta reportagem explica o processo.

O aporte foi negociado durante cerca de três meses. “Era exatamente o valor que estávamos buscando”, afirma Muchnick, em entrevista para a EXAME. O aporte foi coliderado pelos fundos Future Positive, dos empresários Fred Blackford e Biz Stone (cofundador do Twitter), e L-Catterton, que já investiu em empresas como Petlove, Espaçolaser e a rede de supermercados St Marche.

Além dos 85 milhões de dólares captados nesta rodada de investimento, a NotCo já aportou 33 milhões de dólares em rodadas anteriores. A maior parte deste valor veio da Bezos Expedition, o fundo de investimento de Jeff Bezos, fundador da Amazon e homem mais rico do planeta. Outros fundos que injetaram dinheiro na operação da startup chilena são General Catalyst, IndieBio, Maya Capital, The Craftory, Humboldt Capital e Kaszek Ventures.

O valor aportado será utilizado para ampliar os negócios em mercados internacionais, principalmente no Brasil. “Os recursos vão ser alocados para que a NotCo mantenha a posição de liderança no mercado de alimentos plant-based na América Latina e na expansão para o mercado norte-americano”, afirma Muchnick, que diz que este tem sido o objetivo da empresa desde o início da operação.

A expansão internacional, aliás, não se dará apenas para a América do Norte. Nos próximos meses, a NotCo deve iniciar a exportação de seus produtos para mercados como Peru, Colômbia, México e Uruguai. Isso ainda não tem uma data exata para acontecer, mas deve ser feito antes da expansão para os Estados Unidos. Atualmente, além do Brasil e do Chile, a NotCo também opera na Argentina.

A estratégia vai de encontro com a demanda global. O mercado mundial de alimentos plant-based deve crescer exponencialmente nos últimos anos. A consultoria indiana Meticulous Research aponta que o setor deve crescer 11,9% ao ano até 2027, quando deve movimentar 74,2 bilhões de dólares. Além da NotCo, empresas como as americanas Impossible FoodsBeyond Meat e até a brasileira Fazenda Futuro estão de olho em uma fatia deste bolo.

Foco no Brasil

O mercado brasileiro é uma peça importante neste plano. “O Brasil deve ser o maior mercado para a NotCo em 2021”, diz Muchnick, que diz que a operação por aqui cresceu seis vezes nos últimos meses e já representa a segunda maior fonte de renda da NotCo, atrás apenas do Chile. Os negócios estão concentrados em São Paulo, mas os produtos já são encontrados na região Sul, no Nordeste e no Rio de Janeiro.

Para fazer isso, a empresa focou em um plano de marketing agressivo que foi composto desde a criação e um e-commerce até a abertura de um restaurante próprio da marca. Chamada de Why Not, a dark kitchen fica em São Paulo e oferta em seu cardápio do iFood itens como sanduíches, porções de frango crocante vegano, milkshakes e brownies, além de uma área dedicada à venda dos próprios produtos da NotCo.

Um dos desafios para crescer por aqui é o preço. E a carga tributária é o principal empecilho. Por não contar com subsídios, como o leite tradicional de vaca, o produto da NotCo chega aos supermercados custando até cinco vezes mais do que um leite comum. “Um produto tem imposto de 70% e o outro é totalmente subsidiado. A competição não é igual”, afirma Muchnick. Mesmo assim a expectativa é alta.

Por ora, a companhia entende que o momento é de focar na expansão de seus negócios e não de seu portfólio. Isso não significa, porém, que a empresa não trabalhe em novos produtos. A foodtech já testou a criação de produtos como manteiga e até um creme de avelã com chocolate e que ganhou o apelido de NotElla – nós provamos e o gosto é bem semelhante ao produto da Ferrero.

A próxima novidade que deve chegar ao varejo brasileiro é o NotBurger. O hambúrguer feito de planta já está disponível no restaurante Why Not, mas só deve chegar ao varejo em outubro. O anúncio foi feito em fevereiro deste ano, quando a companhia anunciou uma parceria com a rede de fast food Burger King para o fornecimento do hambúrguer vegetal usado no lanche Rebel Whopper, da rede no Chile (a fornecedora do composto vegetal no Brasil é a Marfrig Global Foods).