Pesquisador avalia comportamento e mutações do coronavírus no Amazonas

Embora mutação seja comprovada, não é possível associar à gravidade da doença, ou velocidade de contaminação, diz Fiocruz Amazônia. Governador chegou a comentar que vírus presente no estado 'tem carga viral maior que de outras regiões'.

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O novo coronavírus tem sido foco de diversos estudos em todo mundo. No Amazonas, pesquisadores buscam entender como ele se comporta na região. No estado, com mais de 1,2 mil casos confirmados de Covid-19, a Fiocruz Amazônia pesquisa e analisa possíveis mutações lociais.

Com a quantidade de amostras analisadas até o momento na região, o vice-diretor de pesquisa e inovação da Fiocruz Amazônia, Dr. Felipe Naveca, afirma que, embora o vírus tenha sofrido mutação, ainda não é possível comprovar a associação do fenômeno aos casos mais graves, ou mais leves, ou a velocidade com a qual ele tem se disseminado no estado.

Em pronunciamento pelas redes sociais neste domingo (12), o governador Wilson Lima relacionou o aumento no número de casos de Covid-19 ao comportamento do coronavírus na região amazônica. “De acordo com os especialistas, o vírus que chegou aqui tem uma carga viral maior que o vírus de outras regiões, como da China, ou da Europa e também Estados Unidos”, afirmou o governador.

O pesquisador Felipe Naveca explicou à Rede Amazônica que, para dizer que uma mutação do vírus está associada a um quadro mais ou menos grave da doença, é necessário analisar um grande número de amostras.

“Aqui em Manaus, até onde eu sei, temos um estudo, que foi o que nós conduzimos, de uma pessoa assintomática que chegou da Espanha. As diferenças que foram encontradas nessa pessoa não poderiam, só com esse dado, ser associado a uma forma mais grave da doença”, afirmou.

Naveca ressaltou ainda, que o pequeno número de análises em Manaus não permite afirmar se foi uma única vez que o vírus entrou na região. “A gente não pode dizer que todos os vírus que estão circulando no estado tem uma mesma origem, seja da Espanha, Itália, ou China. É preciso aumentar esse tipo de análise para poder ter certeza”, acrescentou.

Em relação à declaração do governador, o pesquisador confirma que, no caso do paciente estudado, houve uma mutação do vírus antes dele chegar ao Amazonas. “Se esse vírus é o mesmo que se espalhou pela cidade, ou se a gente tem diferentes subtipos de vírus pela cidade, a gente ainda não sabe”, pontuou.

O agravamento dos casos de Covid-19, explica o pesquisador, não depende apenas das condições climáticas da região. “Do ponto de vista biológico, tem várias explicações que podem contribuir para o aumento ou maior gravidade de uma doença numa determinada região. Pode ser um vírus mutante, como pode ser a própria adversidade genética da população. Ou a combinação de ambos”, afirmou Naveca.

Segundo o especialista, mais estudos relacionados ao novo coronavírus serão realizados para responder questões como: se o Amazonas recebeu diferentes introduções de vírus; como ele se espalhou no estado e, também monitorar se os testes de diagnósticos podem ser melhorados ou não, diante da variação do vírus.