As Operações Financeiras no Exterior do Dono do Grupo Petrópolis

Documentos obtidos por VEJA revelam transações suspeitas realizadas por meio de offshores ligadas ao empresário Walter Faria

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O grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, é alvo da nova fase da Lava-Jato em Curitiba. Na mira dos investigadores estão transações financeiras suspeitas realizadas pela companhia por meio de offshores. A investigação é baseada numa farta documentação enviada pelas autoridades da Suíça para o Ministério Público Federal do Paraná. O material, obtido por VEJA, revela como foram realizadas operações que movimentaram centenas de milhões de reais — e, segundo os investigadores, tinham como objetivo pagar propinas para políticos no Brasil.

Para os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, há evidências de que o executivo Walter Faria, dono grupo Petrópolis, “atuou em larga escala na lavagem de ativos e desempenhou substancial papel como grande operador de propina”. O esquema, de acordo com os investigadores, funcionava com uma complexa estrutura financeira montada no exterior. As contas bancárias de offshores ligadas à companhia eram irrigadas com diversas transferências de recursos. Em contrapartida, o grupo disponibilizava dinheiro em espécie no Brasil para pagamentos de propinas.

 (Lava-Jato/VEJA)

Havia ao menos 38 contas relacionadas a Walter Faria na Suíça. Uma delas era operada pela empresa Somert AS – que recebeu 18 milhões de dólares da Odebrecht durante as eleições de 2014. Em delações premiadas, executivos da empreita disseram que utilizavam o grupo Petrópolis para arrecadar dinheiro vivo e como laranja para disfarçar repasses de propinas por meio de doações de campanha para diversos políticos. A investigação aponta que a fabricante de cerveja disponibilizou 208 milhões de reais em espécie à Odebrecht no Brasil entre junho de 2007 e fevereiro de 2011 — e repassou 121,5 milhões de reais em vantagens indevidas “travestidas de doações eleitorais” entre 2008 e 2014.

“É possível concluir que Walter Faria foi uma das engrenagens do aparato montado pela Odebrecht para movimentar valores ilícitos, destinados principalmente a pagar propina a funcionários públicos da Petrobras e da administração pública brasileira e estrangeira, por meio da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior, expediente conhecido como operações dólar-cabo, e por meio de entrega de propina travestida de doação de campanha eleitoral realizada por empresas do grupo Petrópolis em nome da Odebrecht”, dizem os procuradores da Lava-Jato.

Outras duas empresas offshores utilizadas pelo grupo Petrópolis para repassar propina, segundo os investigadores, são a Headliner e Gallpert Co SA. As companhias receberam, ao todo, 3,4 milhões de dólares de Julio Camargo e Jorge Luz, operadores e delatores do petrolão. De acordo com a força-tarefa de Curitiba, esses recursos seriam parte de pagamento de propina decorrente do navio-sonda Petrobras 10.000 para parlamentares do PMDB.

Investigadores da Lava-Jato apontam que o Walter Faria aderiu ao regime especial de regularização cambial e tributária (RERCT) e passou a declarar 1,3 bilhão de reais em seus impostos de renda. “Destaca-se que os ativos mantidos por Walter Faria no exterior não poderiam integrar o RERCT, pois a origem desses ativos – em grande parte ainda mantidos no exterior pelos investigados – são, em sua maioria, decorrentes dos crimes de corrupção ou faziam parte de complexa engrenagem de sistema de lavagem de dinheiro do grupo Odebrecht, principalmente relacionados a desvios na Petrobras”, diz o Ministério Público Federal.

Um relatório do Coaf, órgão de inteligência financeira ligado ao Ministério da Economia, revela que Walter Faria trouxe de volta para o país 185,8 milhões de reais e tentou adquirir em abril deste ano uma cédula de crédito bancário (CDB) junto a uma corretora. No entanto, o banco envolvido nessa operação não aceitou o dinheiro. Em parecer, disse que não concordava com a transação realizada por “falta de conformidade documental, da origem do dinheiro”. O documento ainda ressalta que havia a informação de que o empresário era investigado na Lava-Jato e utilizou a “repatriação junto à Receita Federal para legalizar contas na Suíça usadas como intermediárias do pagamento de propinas da Odebrecht no Brasil”.

 (Lava-Jato/VEJA)