Mas Brasil, Argentina, México e Chile aparecem entre os destinos mais buscados, principalmente por conta dos valores e qualidade dos serviços de maternidade.
“Houve um aumento dessa migração desde que a guerra começou, especialmente depois de 21 de setembro, quando houve a mobilização parcial”, diz a pesquisadora da UFSCar.
“Mesmo antes da guerra, muitas famílias buscavam uma alternativa para os seus filhos, porque existe essa percepção de que a Rússia não tem futuro, vai viver fechada e sem oportunidades, inclusive econômicas.”
Ainda segundo Ruseishvili, muitas chegam ao Brasil com a intenção de ficar definitivamente ou usar o país como destino intermediário antes de migrar para outro local.
E a facilidade de regularização dos pais de crianças nascidas no Brasil é parte importante do processo.
A lei brasileira concede a pais de bebês nascidos no país autorização de residência imediata. É possível ainda pedir a naturalização após um ano vivendo no Brasil, desde que se prove um nível básico de proficiência no português.
Anastasia e o marido obtiveram autorização de residência após o nascimento de seu bebê, mas decidiram retornar à Rússia em maio de 2022.
“Sabemos que podemos voltar ao Brasil para tentar o processo de naturalização, mas ainda não decidimos se esse é o caminho que queremos seguir”, diz. “A vida de imigrante não é fácil e eu amo meu país.”
A procura das famílias russas pelo Brasil cresceu tanto que foram criadas agências específicas para atendê-las.
Entre os serviços oferecidos estão tradução, auxílio para encontrar moradia, indicação da equipe médica, aluguel de berço, assistência para obtenção de documentos e até motorista particular, sessão de fotos e outros ‘extras’.
O preço varia de acordo com a assistência escolhida, mas a média é de mais de US$ 5.000 (R$ 23 mil).
As famílias também costumam trocar experiências e indicar serviços por meio de comunidades nas redes sociais.
“Tive uma tradutora para me ajudar, embora minha parteira falasse inglês. Foi útil, porque me senti mais confortável usando minha língua nativa durante o trabalho de parto”, contou Anastasia à BBC Brasil.
A russa também aprendeu um pouco de português e conheceu mais sobre a cultura local durante sua passagem pelo país. “O Brasil se tornou parte da nossa vida. Eu até comecei a fazer aulas de samba depois que voltei. Eu adoro!”.
A pesquisadora Svetlana Ruseishvili afirma que, feita da maneira correta, a prática não é considerada ilegal.
Na Argentina, o movimento gerou muitas críticas após o anúncio pelas autoridades locais de uma investigação sobre um “negócio milionário e rede ilícita” que supostamente fornecia a mulheres russas grávidas e seus parceiros documentos falsos emitidos em tempo recorde para permitir que elas viessem morar na Argentina.
Mulheres também foram detidas ao chegarem no país por “problemas com a documentação”, segundo a agência de migração argentina.
“Mas não existe ilegalidade nenhuma nessa prática no Brasil”, opina Ruseishvili. “E é preciso tomar cuidado para que essas mulheres não se tornem vítimas de um discurso xenofóbico.”
Para ela, o termo ‘turismo de parto’, usado para descrever o movimento de mulheres grávidas que dão à luz fora de seu país, também não é o melhor.
“Creio que o melhor termo para descrever seja ‘mobilidade de parto’, pois não é um fenômeno simplesmente turístico. Turismo significa um deslocamento de curta duração, mas essas mulheres não necessariamente estão voltando para seus países”, diz.
“Aqui estamos falando de uma forma de imigração extremamente contemporânea.”