Peixe ‘gigante’ é flagrado por mergulhadores de Taiwan

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O registro de um peixe diferentão avistado em Taiwan viralizou nas redes sociais nos últimos dias. As imagens foram gravadas por mergulhadores em junho e mostram uma espécie quase do tamanho de uma pessoa adulta, sem nadadeiras laterais, com escamas lisas e reflexivas e olhos grandes.

A cena deixou os internautas se perguntando: “afinal, que peixe é esse?”

Há quem diga que se trata do peixe-remo, mas especialistas consultados pelo g1 explicam que se trata de uma espécie da família Trachipteridae, do gênero Trachipterus. Segundo o biólogo Pedro Henrique Tunes, a espécie das filmagens é o peixe-fita.

Entre as principais características da espécie, estão:

  • Corpo alongado, mas achatado lateralmente.
  • Inexistência de nadadeira na parte inferior.
  • Olhos grandes, distantes da boca.
  • Parte inferior afinada.
  • Escamas lisas e muito próximas, que causam um efeito reflexivo.
O peixe-remo também é bem achatado e comprido, mas a principal característica da espécie, que dá seu nome, são justamente nadadeiras em formato de remo que ficam na frente de seu corpo. Além disso, na cabeça, o peixe-remo tem uma nadadeira em vermelho-vivo, diferente do peixe-fita.
— Pedro Henrique Tunes, biólogo e divulgador científico

Mas as espécies têm outra similaridade, que é o tamanho massivo. Enquanto o peixe-remo pode passar dos 3 metros, o peixe-fita é um pouco mais discreto, podendo medir de 1 metro a 3 metros. Em casos raros, a espécie pode chegar aos 4 metros de comprimento.

Buracos no corpo

O peixe flagrado pelos mergulhadores chamou a atenção ainda por outro motivo. Em um lado de seu corpo, é possível ver dois buracos, que também geraram curiosidade.

Pedro Henrique Tunes explica, no entanto, que não existe um grande mistério sobre essa característica.

Esses buracos são bastante comuns em animais marinhos grandes. Eles são causados pelo tubarão charuto, uma espécie que já foi encontrada aqui no Brasil e é conhecida por se alimentar de pequenos pedaços de suas presas.
— Pedro Henrique Tunes, biólogo e pesquisador.

Diferentemente de outras espécies de tubarão, que matam e se alimentam de todas as partes possíveis de seus alvos, o tubarão charuto dá mordidas e nem sempre mata sua presa. Aqueles que sobrevivem ficam com as cicatrizes em formas de buraco.

Espécie, gênero e família

Os especialistas ouvidos pela reportagem concordam que o animal do vídeo é do gênero Trachipterus e da família dos Trachipteridae. Mas não há consenso sobre a espécie.

“É difícil de dizer porque a taxonomia do gênero é um pouco incerta hoje”, explica Mario César Cardoso de Pinna, ictiólogo e professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).

Já Pedro Henrique Tunes arrisca e sugere se tratar da espécie Fukuzaki.

Esse gênero de peixes é encontrado no mundo todo, e essa espécie vive no Oceano Pacífico. Mas, como são animais que vivem em águas relativamente profundas, a cerca de 500 metros de profundidade, em média, é difícil fazer o rastreamento e, eventualmente, aparecem em outros lugares.

Raridade de avistamento e lenda sobre terremoto

Apesar de serem raras as aparições do peixe-fita e de não se saber qual é sua população atual, ele não está classificado como espécie ameaçada de extinção.

A maioria dos peixes da ordem Lampriformes, à qual pertence Trachipterus, são peixes raramente avistados. Isso não quer dizer que sejam realmente raros ou ameaçados. São simplesmente de um habitat profundo ao qual não se tem muito acesso.
— Mario César Cardoso de Pinna, ictiólogo e professor do Museu de Zoologia da USP

E, justamente por ser um animal pouco observado, surgiram lendas urbanas sobre as raras ocasiões em que a espécie foi vista.

Existe uma lenda muito comum na região do Japão, Taiwan e nas Coreias de que o peixe-fita é visto sempre que tem um terremoto chegando.
— Pedro Henrique Tunes, biólogo e pesquisador

Isso, no entanto, não passa de uma crendice. “Por muito tempo, houve essa teoria de que, por ele viver em águas relativamente mais fundas, seria sensível e iria perceber alguma vibração que indicasse terremoto, e subiria para a superfície por causa disso”, explica o biólogo.

No entanto, nenhuma pesquisa encontrou correlação entre os avistamentos do peixe e a ocorrência de terremotos. Para o pesquisador, a lenda teve origem de outro desastre natural, os tsunamis.

“Depois de tsunamis, que são frequentes na área, aparecem muitos peixes nas praias e, de vez em quando, aparecia o peixe-fita, que as pessoas não conheciam. Por isso, tanto o peixe-fita quanto o peixe-remo passaram a ser associados a terremotos”, conclui Pedro Henrique Tunes.