Operação da PF mira esquema de falsificação de documentos do Exército para venda e porte de armas no RJ; 3 são presos

A própria Força alertou sobre a fraude e acompanha as equipes nesta quinta (10). Mais de 100 agentes foram mobilizados e apreenderam armas e milhares de munições até o início da tarde desta quinta (10).

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A Polícia Federal (PF) iniciou nesta quinta-feira (10) a Operação Confessio, contra um esquema de falsificação de documentos do Exército para facilitar a venda e o porte de armas no Rio de Janeiro. Três pessoas haviam sido presas até o início da tarde.

A própria Força havia alertado a PF sobre as fraudes e acompanha as equipes nesta quinta.Mais de 100 policiais foram mobilizados para cumprir 27 mandados de busca e apreensão. Até o início da tarde, haviam sido apreendidas armas e milhares de munições.

Uma das equipes foi para Vilar dos Teles, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Não há mandados de prisão, mas há a possibilidade de os alvos serem pego em flagrante.

Policiais federais cumprem mandado em São João de Meriti — Foto: Reprodução/TV Globo

Como era a fraude

Segundo a investigação, a quadrilha falsificava:

  • Certificados de Registro de Armas de Fogo (Crafs);
  • Guias de Tráfego;
  • Certificados de Registro (CRs);
  • Requerimentos para Aquisição de Arma de Fogo e Acessório.

Esses documentos são obrigatórios para quem quer comprar ou possuir armas. A expedição legal dessas licenças depende, por exemplo, de avaliações psicológicas e testes de capacidade técnica — mas, na fraude, os papéis falsos saíam sem qualquer fiscalização.

A falsificação começava com o registro forjado de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC). A partir daí, os demais papéis frios eram emitidos.

A PF disse ainda ter encontrado “declarações de próprio punho” de alguns compradores “afirmando estar sem o documento essencial ao recebimento do armamento” e “plenamente conscientes de que isso configura crime” — daí o nome da Operação Confessio.

Os investigados responderão pelos crimes de falsificação de documento público federal, uso de documento falso, comércio ilegal de arma de fogo e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, cujas penas máximas podem somar 28 anos de prisão.

Desburocratização das armas

Desde o Decreto 9.846, de 25 de junho de 2019, qualquer atirador, por exemplo, pode adquirir 60 armas, sendo 30 de uso restrito, e até 80 mil balas e 20 kg de pólvora por ano.

Os caçadores podem adquirir até 30 armas e 90 mil projéteis. Já os colecionadores, que antes podiam adquirir um modelo de cada arma, podem ter cinco exemplares de cada marca.

Em setembro, o g1 mostrou que o ritmo de emissão de licenças para caçadores mais que triplicou durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Em 2 anos e 8 meses de gestão, de janeiro de 2019 a agosto de 2021, o Exército concedeu 193.539 certificados de registro (CRs) para caçadores no Brasil. É um aumento de 243% em relação aos 56.400 emitidos entre 2016 e 2018.

A caça é proibida no Brasil. A única exceção é o javali. Desde 2013, a legislação autoriza o manejo do animal – ou seja, o abate para evitar que se reproduza de forma descontrolada, contamine rebanhos de porcos e destrua plantações. E desde que o animal não sofra maus-tratos.

A liberação da caça é uma das promessas de campanha de Jair Bolsonaro. Desde que ele assumiu a presidência, o governo federal já publicou 37 decretos, portarias e projetos de lei que facilitam o acesso a armas e reduzem a fiscalização dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs). A Justiça barrou várias dessas medidas.

Pouca fiscalização

Em outubro, o g1 mostrou que em 2020 o Exército fiscalizou apenas 2,3% dos arsenais privados do país — armas que estão nas mãos de caçadores, atiradores e colecionadores, além de lojas e clubes de tiro.

Diferentes decretos presidenciais atribuíram à Força o dever de monitorar o armamento registrado por pessoas ou estabelecimentos. O Exército deveria ter inspecionado 311.908 endereços em todo o Brasil em 2020, mas foi somente a 7.234 desses locais.