Petrúcio Ferreira ganha ouro nas Paralimpíadas, e esposa comemora: ‘Ele dá 100% do corpo todos os dias’

Petrúcio ganhou medalha de ouro nesta sexta-feira (27) na prova de 100m, na classe T47, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

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A esposa de Petrúcio Ferreira, Martha Pereira, assistiu a vitória do marido na casa onde moram, em João Pessoa. Emocionada, ela confessa que estava confiante e já esperava pelo ouro. “Ele dá 100% do corpo dele todos os dias e a consequência é essa medalha. Um orgulho para o Brasil inteiro”, disse Martha Pereira. Petrúcio ganhou medalha de ouro nesta sexta-feira (27) na prova de 100m, na classe T47, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

Os períodos de treino de Petrúcio foram de muito trabalho para que continuasse sendo o corredor paralímpico mais rápido do mundo. E deram resultado: o paraibano bateu o recorde paralímpico atingindo um tempo de 10s53.

Após um distanciamento social por quase sete meses do atleta da classe T47 (para amputados de braço), o treinador paraibano Pedrinho Almeida comandou treinos com o velocista em areia de praia, pista de barro e academias improvisadas até que as atividades físicas na pista sintética da Universidade Federal da Paraíba pudessem ser retomadas em janeiro deste ano.

Pedrinho, além de se preocupar com o aspecto físico e mental do atleta, levou em consideração outro fator para colocar seu trabalho em prática: a maré do mar.

“Na época, exploramos muito a dinâmica da maré do mar para elaborarmos os treinos. Na maré baixa, por exemplo, aproveitava a areia mais dura para trabalhar mais o aspecto técnico, tiros, enquanto na maré alta, fazia atividades aeróbicas na areia mais fofa”, explica Pedrinho.

Petrúcio também é pura gratidão ao treinador, que o acompanha e o forma como atleta desde 2014. “Fenomenal para mim, um pai que ele é”, declarou logo após a prova. Antes de entrar na pista, conversou com o técnico. “Nesse momento eu perguntei: você confia em mim? e ele disse: ‘confio, Petrúcio, não confio 100%, confio 200%'”, conta Petrúcio.

História do paratleta mais rápido do mundo

Petrúcio Ferreira nasceu em São José do Brejo do Cruz, cidade do Sertão da Paraíba distante pouco mais de 394km de João Pessoa. Uma família simples de agricultores, que mora ainda hoje num pequeno sítio da zona rural do município.

A vida do corredor até aqui foi repleta de acasos que modificavam para sempre o seu destino, ainda que ele, não raro, sempre disse que havia em tudo um sentido em sua vida, algo que ele, homem de fé, credita a Deus.

Por exemplo, ele tinha menos de dois anos de idade quando o principal desses “acasos” aconteceu. Justamente o mais trágico, ao mesmo tempo aquele que abriria caminho para o multicampeão que ele se tornaria.

No sítio, o pai dele, Paulo, foi moer capim para servir de comida para o gado e o filho resolveu ir junto. Foi um instante. Num momento, ele estava ao lado no pai. No outro, o pai do menino escutou um grito alto e um choro. Petrúcio, curioso, colocou a mão esquerda no buraco da forrageira e a lesão foi imediata. Desesperados, a família levou o menino ao hospital e lá houve a confirmação da amputação da mão e de parte do antebraço.

O corredor não lembra dos episódios daquele dia. Nem carrega traumas. Sempre levou a situação com naturalidade e cresceu como uma criança feliz. Até que veio o segundo acaso de sua vida, esse bem mais feliz.

Petrúcio era apaixonado por futebol. Jogava futsal em seu colégio. E foi a Patos jogar a etapa regional dos Jogos Escolares da Juventude. Lá, jogando de igual para igual com os adversários, correndo e demonstrando uma velocidade incomum, acabou chamando a atenção de Ricardo Ambrósio, um dos organizadores da competição naquele dia.

Foi ali mesmo que Ricardo ligou para Pedro Almeida, o Pedrinho, técnico de atletismo da Universidade Federal da Paraíba. Era um achado, dizia Ricardo Ambrósio, que Pedrinho precisava conhecer.