CPI volta com nova articulação do governo e pressão para demitir servidores

Comissão retorna nesta terça (3) com Ciro Nogueira agora na Casa Civil e apreensão sobre convocação de Braga Netto

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“Ciro, não retire a minha pasta. Você está sendo filmado.” Com — literalmente — esse bilhete, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) marcou lugar na comissão pedindo ao então integrante da CPI da Pandemia Ciro Nogueira (PP-PI) para não retirar os objetos dela e nem ocupar a cadeira que costumava sentar na comissão.

Enquanto Ciro chegava a ficar dias sem aparecer na CPI, Eliziane era presença cativa, apesar de não ser integrante titular nem suplente. Escolhido ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira agora não é mais membro da CPI. Mas se manterá como jogador no time governista em articulações para reduzir os danos para o governo, nesta segunda temporada da comissão.

A Ciro, que toma posse como ministro nesta semana, foi dada a tarefa de evitar estragos maiores dentro de uma CPI, que tem como alguns de seus objetivos apontar corrupção e negligência do governo federal na pandemia.

Um dos focos da oposição esta semana é aprovar a convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Com o pretexto de ouvi-lo sobre sua atuação na Casa Civil, no início da pandemia, o ministro é aguardado mesmo para falar de eleições 2022 e os riscos para o pleito, caso o voto impresso não passe na Comissão Especial da Câmara.

Senadores ouvidos pela CNN devem argumentar que um convite, no lugar de convocação, seria o mais adequado. E que a Câmara já o convidou a falar no dia 17 deste mês, na Comissão de Fiscalização. Integrante da CPI, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) afirma que não irá apoiar o requerimento.

“Tudo está na base da emoção, na sanha por um projeto de poder. Os fins não justificam os meios. Trazer o ministro Braga Netto para ouvir sobre vacinas é uma coisa. Agora, querer colocar outro assunto por causa do momento político, desvirtua completamente”, disse à CNN.

A cúpula da comissão se reuniu na noite desta segunda-feira (2) para definir o calendário nos próximos dias. É esperado o depoimento secreto do ex-governador Wilson Witzel, que também ficou para este retorno do recesso.

Witzel pediu para escolher os policiais que fariam sua segurança, com medo de represálias, de acordo com integrantes da comissão. Os detalhes dessa organização ainda estão indefinidos.

De qualquer forma, o novo depoimento de Witzel ocorrerá nesta nova fase da CPI, que agora conta com a participação de Flávio Bolsonaro, opositor de Witzel, na condição de suplente.

“Nós esperamos que o senador assuma dentro das regras de convivência parlamentar. A CPI não investiga pessoas, investiga fatos. Se essa investigação conduzir a determinadas pessoas não seremos intimidados por quem quer que seja para avançar nessa apuração. Então, acho que não muda nada”, respondeu o senador Humberto Costa, à CNN.

Além de requerimentos de depoimentos e análise de documentos, a comissão acredita que conseguirá pressionar o governo a exonerar a secretária de Gestão da Educação e do Trabalho, do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro. Ela promoveu informações do Tratecov, aplicativo que informalmente sugeria dosagem de remédios para tratamento precoce contra a Covid-19.

Relatório prévio em setembro

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) fala em antecipar seu relatório e entregá-lo em setembro, ainda que a comissão possa funcionar até novembro. A avaliação interna é que a CPI já chegou ao auge e arrastá-la pode fazer com que as atenções à comissão virem chateação do público em continuar acompanhando.

O relatório prévio trará recomendações de demissões de alguns funcionários do Ministério da Saúde, protocolos mais rígidos a serem adotados pelo governo em contratos, e a temida versão final da lista de investigados.

Horas antes da reestreia da comissão, nesta terça-feira, senadores do grupo majoritário se encontraram na casa presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). O encontro foi simbólico, já que assunto não faltou para eles nessa, digamos, “férias”.

Um dos ambientes de debate está no celular deles. Pelo Whatssapp, em um grupo chamado “Filhos de Otto e Tarso”, os parlamentares homenageiam os nomes dos senadores mais antigos do time, Otto Alencar (PSD-BA) e Tarso Jereissatti (PSDB-CE), para debater estratégias. Se algum depoente vai faltar, pretende ficar calado, ou se surge um nome novo para convocar, com certeza esse debate se passa por lá.