Sem citar Bolsonaro, Fux diz que STF está atento a “ataques de inverdades”

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O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, fez críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro e seus aliados na tarde de hoje. Em pronunciamento, o ministro não citou o presidente nominalmente, mas falou sobre a preocupação do STF com “ataques de inverdades” que, segundo o ministro, “deslegitimam veladamente as instituições do país”.

Ontem, bolsonaristas fizeram atos em 23 capitais em defesa do voto impresso nas urnas eletrônicas. Os manifestantes foram às ruas três dias depois de Bolsonaro enumerar, em sua live semanal, uma série de suspeições sem provas sobre o sistema de apuração de votos no país.

O discurso de Fux, feito na abertura do semestre de atividades na Corte, ocorre num momento de escalada dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral.

Segundo Fux, tais ataques “ferem não apenas biografias individuais, mas corroem sorrateiramente os valores democráticos consolidados ao longo de anos”. O ministro afirmou, ainda, que “o povo brasileiro jamais aceitaria” medidas inconstitucionais.

“Numa sociedade democrática, momentos de crise nos convidam a fortalecer, e não deslegitimar, a confiança da sociedade nas instituições”, declarou o ministro.

“Afinal, no contexto atual, após trinta anos de consolidação democrática, o povo brasileiro jamais aceitaria que qualquer crise, por mais severa, fosse solucionada mediante mecanismos fora dos limites da Constituição”, completou.

Ataques de Bolsonaro  

Bolsonaro tem feito declarações hostis especialmente ao ministro Luis Roberto Barroso, atual presidente do TSE. Em entrevista na manhã de hoje à rádio ABC, de Novo Hamburgo (RS), o presidente acusou Barroso de querer “eleições manipuladas”.

“Por que alguns do Supremo acham que são os donos da verdade, podem tudo e ninguém pode reclamar de nada? Ele tem que baixar a crista dele um pouquinho e se adequar à realidade”, declarou Bolsonaro, referindo-se a Barroso.

Na manhã de hoje, antes da declaração do ministro, um conjunto de ex-presidentes do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) emitiu uma nota reafirmando a segurança do atual sistema de votação. O comunicado lembra que nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas desde sua implantação, em 1996, e afirma que as mudanças pretendidas por Bolsonaro é que abririam brecha para a manipulação de resultados.

“A contagem pública manual de cerca de 150 milhões de votos significará a volta ao tempo das mesas apuradoras, cenário das fraudes generalizadas que marcaram a história do Brasil”, afirma um trecho da nota.