Pesquisadores investigam quanto tempo infectados pela Covid-19 ficam imunes

Por ser uma doença nova, muitas questões sobre a Covid-19 ainda estão sem respostas. Como as vacinas ainda estão em testes e não há certeza sobre a duração da imunidade adquirida com a infecção pelo novo coronavírus, especialistas recomendam a manutenção dos cuidados.

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Por ser uma doença nova, muitas questões sobre a Covid-19 ainda estão sem respostas. Uma delas é por quanto tempo a pessoa que foi infectada fica imune.

Com ou sem sintomas, já são milhares os brasileiros que sobreviveram ao coronavírus. Uma pesquisa feita pelo Hemocentro de São Paulo mostrou que, em abril, 2,6% dos doadores de sangue já tinham anticorpos contra a Covid-19. Em maio, eles já eram 5% e, em junho, 12% dos doadores já tinham imunidade contra o vírus.

Mas a ciência está em busca de uma resposta fundamental: quanto tempo dura a proteção de quem já teve o vírus? O nosso sistema imunológico funciona com duas linhas principais de defesa: a primeira delas é inata, já nascemos com os glóbulos brancos no sangue, responsáveis por dar o primeiro combate a invasores como os vírus. A segunda linha de defesa é a dos anticorpos. Eles se formam quando a primeira linha falhou e a doença já se instalou. São como soldados mais especializados que analisaram e descobriram os pontos fracos do inimigo.

“A maior parte das pessoas tem uma forma muito leve, assintomática. Porque eles têm uma resposta imune dos glóbulos brancos muito boa, muito forte. Então, isso quer dizer que as pessoas não vão pegar de novo a infecção? Muito provavelmente, porque eles continuam com essa imunidade boa. Eles têm células de memória. A gente só não sabe quanto tempo vai durar”, explica Celso Granato, infectologista e diretor do Grupo Fleury.

Descobrir quanto tempo dura a imunidade de quem já teve a doença ou o vírus no organismo poderia significar um certo alívio para essa parcela da população. Já se pensou até em criar uma espécie de passaporte de liberação para o trabalho e algumas atividades, mas as dúvidas ainda são muitas e os cuidados necessários também.

Pesquisadores chineses relatam queda acentuada de anticorpos de dois a três meses depois da doença. O estudo publicado na revista Nature foi com um grupo pequeno de 74 pacientes, com e sem sintomas, mas acendeu o alerta. A grande proteção, aquela que as vacinas buscam, é a dos anticorpos.

“A maior parte das vacinas, quase a totalidade, elas focam no desenvolvimento de anticorpos neutralizantes, né? Agora, se esses anticorpos neutralizantes, que vão ser gerados nessas pessoas imunizadas, vacinadas, vão durar bastante tempo, isso a gente ainda não sabe. Todas essas perguntas estão lá, estão sendo respondidas justamente pelos testes com vacina”, destaca Renato Astray, diretor do laboratório Multipropósito do Instituto Butantan.

Como as vacinas ainda estão em testes e não há certeza sobre a duração da imunidade adquirida com a infecção pelo novo coronavírus, os especialistas recomendam a manutenção do distanciamento social, uso de máscara e a lavagem das mãos para quem teve ou não o vírus.

“Se ninguém sabe por quanto tempo a pessoa fica imune e vai ficar nessa situação, realmente o mais adequado é que todos continuem tomando as atividades de prevenção”, destaca Astray.

É o que faz a Juliana. Ela e os pais tiveram Covid-19 há um mês. “A gente continua se preocupando da mesma forma, porque a gente não tem certeza se a gente fica imune. Então não tem como contar com isso. A gente continua usando máscara, passa álcool. Isso aí que todo mundo está vendo o tempo todo”, conta.