Hospital em RR tem leitos com redes para indígenas infectados pelo coronavírus: ‘mantém cultura e ajuda na recuperação’

Enfermaria tem 80 suportes para redes. Ideia é fazer com os indígenas se sintam familiarizados mesmo estando internados no Hospital de Campanha. Infectologista que atua na unidade afirmou que tratamento não muda, mas pacientes se sentem confortáveis e isso ajuda na recuperação.

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Pacientes indígenas infectados pelo coronavírus que tiverem de ser internados no Hospital de Campanha, em Boa Vista, serão acomodados em redes, em uma enfermaria montada para seguir a cultura e a tradição dos povos.

Dentro do hospital, estruturado para atender exclusivamente casos de Covid-19, foram colocados 80 suportes com os “leitos-rede”. O espaço será utilizado caso o paciente escolha ser internado na rede.

O protocolo de atendimento a pacientes internados em redes é o mesmo para os que são acomodados em camas hospitalares comuns. O que muda é o conforto do indígena, em razão da questão cultural, conforme explica a infectologista Fabiana Zimmermann, que atua dentro do hospital.

“A gente quer fazer um ambiente mais acolhedor possível para eles, afinal, é um ambiente completamente estranho. Como eles se sentem mais confortáveis, isso até ajuda na recuperação. Mas, o tratamento é o mesmo dos demais pacientes”, disse a médica.

Nesta terça-feira (23) havia quatro indígenas internados no hospital, mas nenhum deles havia optado por ocupar o redário, informou a Operação Acolhida, responsável pela unidade, e que também atende imigrantes venezuelanos no estado.

A maioria dos pacientes do Hospital de Campanha são pessoas com sintomas leves da Covid-19, classificados como níveis 1 e 2. Por isso, conforme a infectologista, não há impedimento que os indígenas fiquem nas redes e ainda preserva o costume que eles têm quando estão nas comunidades.

“Não há problema nenhum que eles sejam atendidos em redes. Eventualmente, se precisar de fisioterapia respiratória, eles são colocados nas camas. Mas, depois, no resto do tratamento eles ficam na rede, onde é mais confortável. Assim, a gente respeita e mantém a cultura deles”, explicou Fabiana.

A iniciativa de criar a estrutura para atender os indígenas surgiu de uma parceria entre a Operação Acolhida, o Distrito Sanitário Especial Indígena, a Fundação Nacional do índio (Funai) e o governo do estado.

Além dos leitos-rede, a Acolhida permite que os indígenas tenham acompanhantes na unidade e os médicos da unidade atendem com a ajuda de tradutores das línguas maternas, em caso de necessidade.

“Foi por esse motivo que decidimos implementar a ideia, pois o paciente indígena ao ficar internado se sentirá familiarizado e confortável mesmo estando dentro de um hospital”, afirmou o general Barros, responsável pela unidade e chefe da Operação Acolhida.

Em Roraima havia 363 indígenas infectados pelo coronavírus e 15 mortes até essa segunda-feira (22), conforme boletim divulgado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Os dados são dos Distritos Sanitários Leste e Yanomani.

Roraima já possui o serviço de internação em rede no Hospital Geral (HGR), o maior do estado, e na Maternidade Nossa Senhora de Nazaré, única que atende pacientes dos 15 municípios, ambos administrados pelo governo.

Redário foi instalado dentro do Hospital de Campanha, construído para atender somentes casos da Covid-19 — Foto: Governo de Roraima/Divulgação

Redário foi instalado dentro do Hospital de Campanha, construído para atender somentes casos da Covid-19 — Foto: Governo de Roraima/Divulgação

Na maternidade, as indígenas grávidas podem contam com enfermarias com leitos e armadores de redes instalados. O dispositivo é alternativa dar conforto e a familiarização das pacientes de maneira humanizada, segundo o governo.

A Coordenação Indígena é responsável por ser elo entre paciente, Maternidade e Casa do Índio (Casai). O setor trabalha com o acolhimento logo na porta de entrada com a presença de intérpretes de língua indígena à disposição dos profissionais de saúde.

No HGR, o acolhimento nos leitos-rede existe desde 2001, sob responsabilidade do setor da saúde indígena. O serviço é feito em parceria com a Casai. A equipe é composta por antropólogo e gerente do serviço, técnicos de enfermagem, assistente administrativo e intérpretes de língua indígena.

Hospital de Campanha

Construído para atender somente pacientes com a Covid-19, o Hospital de Campanha começou a funcionar na última sexta-feira (19), após três meses de ter a construção finalizada. A unidade é coordenada pela Operação Acolhida e funciona em parceira com o governo e prefeitura de Boa Vista.

O hospital tem 80 leitos de internação, sendo 10 de UTI. A unidade não atende pacientes que queiram ir direto ao local, é necessário que a pessoa seja encaminhada do HGR, que até então, operava acima da própria capacidade.

Roraima chegou a 10.340 infectados pelo coronavírus nessa segunda (22). O estado contabiliza 250 mortes.