Brasil provavelmente tem mais casos de Covid-19 do que os relatados, afirma diretor da OMS

Diretor de emergências da entidade, Michael Ryan, afirmou que o número baixo de testes no país leva a uma provável subnotificação de casos.

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O diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou nesta segunda-feira (22) que o Brasil provavelmente tem mais casos de Covid-19 do que os que são oficialmente relatados, mesmo com os altos números registrados nos últimos dias.

Na sexta (19), o país alcançou a marca de 1 milhão de casos da doença, conforme levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o G1 faz parte.

Às 13h desta segunda-feira, o país tinha mais de 50,7 mil mortes causadas pelo novo coronavírus.

Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) — Foto: Christopher Black/OMS

Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) — Foto: Christopher Black/OMS

“Ainda há um número relativamente baixo de testes em relação à população. Esse alto número de casos não reflete testagem exaustiva, mas provavelmente subestima os números reais de casos”, afirmou Ryan.

“As taxas de positividade para os testes ainda são bem altas: na semana epidemiológica 17 [19 a 25 de abril], a taxa de positividade foi de 31% para o Brasil. Isso significa que há, provavelmente, mais casos do que os que estão sendo reportados”, explicou. “Nós tendemos a ver essa taxa de positividade cair para 5% ou menos em países que estão detectando todos os casos”.

No boletim mais recente da OMS, que mostra um recorde de 183 mil novas infecções apenas no domingo (21), o Brasil aparece com o maior número de novos casos reportados: mais de 54 mil.

Ryan pontuou, entretanto, que este número ainda precisa ser analisado para entender se foram incluídos casos represados de vários dias da semana passada, por exemplo.

“Na quarta, quinta-feira da semana passada, o número de confirmações no Brasil ficou na verdade abaixo da média. Certamente houve um pico de casos nas últimas 24 horas, mas estamos analisando o quanto disso é factual e o quanto se refere à semana passada”, explicou.

“Se você olhar para os casos em junho, eles se mantiveram relativamente estáveis, mas o que se vê é que há um padrão de número de casos na semana e uma diminuição no fim de semana”, disse Ryan.

O diretor já havia apontado, na semana passada, uma tendência de estabilização no número de casos no Brasil, mas frisou que a situação no país ainda é grave.

Tendência para a América Latina

Ryan destacou, ainda, que a situação do Brasil reflete a tendência em toda a América Latina, que registrou um aumento de 25% no número de casos na semana passada.

Segundo o diretor de emergências, outros países na região tiveram os seguintes aumentos percentuais em número de casos:

  • Guiana Francesa: 86%
  • Chile: 41%
  • Guatemala: 39%
  • Argentina e Honduras: 38%
  • Colômbia: 35%
  • Bolívia: 33%
  • Costa Rica: 28%
  • Panamá e Haiti: 26%
  • Venezuela: 25%
  • El Salvador: 24%

“O que estamos vendo ainda na América Latina em uma pandemia evoluindo e que está afetando todos os países”, disse Ryan.

“Certamente, o Brasil, como o país mais populoso, está profundamente afetado, mas está entre muitos outros. Também vimos aumentos preocupantes de mortes no mesmo período em alguns desses países. Sob essa perspectiva, acho que é importante ver o Brasil no contexto regional e global”, afirmou o diretor de emergências.