Estudo aponta que cerca de 300 mil pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus em Manaus

Análise feita por pesquisadores da Ufam aponta que, na segunda-feira (11), cerca de 85 mil estavam com o vírus ativo, podendo realizar a transmissão. Governo usou dados para definir medidas de restrição.

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Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e apresentado ao Comitê de Crise estadual estima que entre 220 mil e 330 mil pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus em Manaus. O levantamento também aponta que, na segunda-feira (11), cerca de 85 mil estavam com o vírus ativo, podendo realizar a transmissão. Até esta quarta-feira (13), o número de pessoas testadas e confirmadas para a Covid-19 ultrapassava a marca de 15 mil.

O Governo do Amazonas informou que levou em consideração esses e outros dados na decisão de prorrogar a suspensão de atividades não essenciais até o dia 31 de maio. A Covid-19 já chegou a cerca de 90% dos municípios do interior e quatro cidades decretaram “lockdown”, ou seja, o bloqueio total de circulação de pessoas.

Levando em conta a taxa de letalidade em relação à estimativa de pessoas infectadas (0,75%) e o tempo médio entre a exposição ao vírus e o óbito (18 dias), os pesquisadores estimaram em cerca de 85 mil o número total de infecções ativas pelo novo coronavírus, em Manaus, no dia 11 de maio.

O estudo avaliou, ainda, o comportamento da curva epidemiológica em diferentes níveis de distanciamento social, sempre combinado ao uso de máscaras pela população.

Com o distanciamento mantido na faixa atual de 40%, a tendência é de diminuição lenta de infecções. No caso de um distanciamento com adesão de 60%, as infecções tendem a cair mais rapidamente, com previsão de diminuírem para menos de 40 mil no fim de maio.

A análise também estimou que, no caso de um relaxamento do distanciamento social (20%) a partir do dia 12 de maio, haveria uma queda inicial de infecções, mas com um aumento posterior e risco de um segundo pico da doença no mês de junho.

Na hipótese de nenhuma medida restritiva a partir da mesma data, o total de infecções em junho seria superior ao do mês de abril e haveria mais óbitos.

Segundo o doutor Alexander Steinmetz, do Departamento de Matemática da Ufam, o estudo “Curva Epidemiológica da Covid-19 em Manaus” foi solicitado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam) e teve a colaboração de professores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de São João del-Rei (UFSJ-MG).

Distanciamento social e uso de máscaras são eficazes

Uma das conclusões do estudo aponta que o distanciamento social e o uso de máscaras pela população têm se mostrado eficazes na contenção da pandemia de Covid-19 em Manaus.

Entre outras conclusões, o estudo aponta que a adesão das pessoas ao isolamento social (cerca de 40%), o uso mais disseminado de máscaras e a melhoria na capacidade de atendimento nos hospitais da capital se refletiram na queda dos óbitos por Covid-19 verificada no início de maio, com uma gradual diminuição também nas infecções ativas.

De acordo com Steinmetz, as estimativas se baseiam em dados de óbitos do Registro Civil e dos sepultamentos em Manaus. “Foram feitos poucos testes no Brasil, por isso resolvemos não trabalhar com os dados de testagem, e sim com os de óbitos, que nos dão um parâmetro mais confiável e próximo da realidade. Incluímos não só os óbitos confirmados por Covid-19, mas também aqueles por doenças respiratórias que estão acima da média mensal”, disse, por meio de assessoria.

A metodologia usada, conforme Steinmetz, é um modelo matemático compartimental, comum em epidemiologia. Basicamente, a população é dividida em diferentes ‘caixas’, como a dos suscetíveis à doença, a dos infectados e a dos recuperados.

A partir daí, ainda conforme o pesquisador, são estudados os fluxos e a velocidade com que as pessoas passam de um estado a outro, o que apresenta parâmetros sobre o comportamento da doença.

Coronavírus no Amazonas

Nos últimos dias, o estado registrou números recordes desde o início da pandemia. No dia 5 de maio, o foi registrado o maior número de mortes em um único dia por Covid-19. Quatro dias depois, um novo recorde: 1.198 novos casos confirmados do novo coronavírus no mesmo dia. Na terça (12), o salto foi de 1.249. E, nesta quarta-feira (13), foram 1.648 casos da Covid-19 em um dia.

O alto número de infectados sobrecarregou a rede pública de saúde, que opera com quase 90% dos leitos ocupados. O Governo do Amazonas diz que que o aumento no número de casos novos é reflexo da ampliação da rede de diagnóstico e do aumento da testagem.

O número de mortes em Manaus disparou desde o início da pandemia do novo coronavírus até o dia 25 de abril e está 108% acima da média histórica. Na capital, medidas extremas foram adotadas no maior cemitério público: caixões são enterrados em valas comuns, caixões enterrados empilhados – medida cancelada após revolta de familiares – e instalação de contêineres frigoríficos para comportar corpos que aguardam o enterro.

Coveiros do cemitério Nossa Senhora de Aparecida, em Manaus, enterram corpo de morto por Covid-19. — Foto: Carolina Diniz/G1 AM