Aposentada sofre amputações em tratamento contra a Covid-19 e relata luta: ‘Não é brincadeira’

Paciente de 60 anos ficou 44 dias internada e se recupera em casa, em Sorocaba (SP). Durante internação, irmão também contraiu doença e morreu.

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A cena da única mão levantando a placa com os dizeres “Eu venci o Covid” é equiparada com a de um atleta com o troféu no topo do pódio. Aos 60 anos, a aposentada Cleide Moreira, de Sorocaba (SP), deixou a UTI na segunda-feira (4) depois de 44 dias de luta e vitória contra o coronavírus.

A paciente foi tratada em um hospital particular da cidade e teve alta rodeada por bexigas e um corredor feito por profissionais que a aplaudiram.

Ao G1, Cleide contou que se recupera em casa e terá que se acostumar a uma rotina com mudanças, já que precisou amputar os dedos de um dos pés e uma das mãos depois que complicações surgiram durante o tratamento.

“Não é brincadeira [a doença] e é muito sofrido. Quando não tira a vida, deixa a gente destroçada, muito machucada. Além de ter amputado a mão e o pé, também perdi o meu irmão com a mesma doença”, disse.

A moradora do bairro Jardim Maria do Carmo não sabe explicar como teria se infectado com o coronavírus, mas se lembra bem dos primeiro sintomas.

“Tosse e dor no corpo. Depois disso eu fui internada no hospital. Foram dias entre a UTI semi-intensivo. Não sei falar sobre o tempo em que estive lá porque a minha mente sumiu, fiquei muito medicada”, conta a aposentada.

Enquanto a infecção na paciente era combatida pelos médicos, ela também perdeu um irmão, Luiz Carlos Moreira, de 51 anos, para a Covid-19. Segundo a família, a doença afetou o funcionamento dos rins, foi aplicada a hemodiálise, mas ele não resistiu ao tratamento e morreu no dia 4 de abril.

Luiz Carlos não resistiu à infecção em Sorocaba — Foto: Arquivo pessoal

Covid-19 x sangue coagulado

Segundo o médico especialista em cirurgia vascular Tauá Fortes Veiga Ferraz Santos, com o aumento de casos da infecção no mundo, uma complicação da doença vem chamando a atenção dos médicos e pesquisadores: a incidência de trombose.

A trombose é um estado em que se forma um coágulo sanguíneo dentro do vaso e pode ocorrer em artérias ou veias. Com relação ao coronavírus, ele afirma que a complicação em pacientes infectados ainda não é totalmente esclarecida.

“Sabe-se ser uma doença viral que agride os pulmões e, nos casos graves, causa lesões nos tecidos e leva a liberação de muitos fatores. Esses processos podem ativar a coagulação de uma maneira severa e causar um estado chamado de hipercoagulabilidade, favorecendo a formação de coágulos em todo organismo”, explica.

As complicações da trombose nas artérias, ainda segundo o médico, pode causar o infarto agudo do miocárdio, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a isquemia de membros, que pode levar a amputações.

“Quando o sangue coagula dentro de uma veia temos a Trombose Venosa Profunda. Outro fator importante para formação de coágulos na circulação, que é comum aos pacientes com Covid-19 e a outros pacientes internados, é o tempo de imobilização ou repouso prolongado.”

No caso da aposentada de Sorocaba, que é diabética, o risco de amputação pode aumentar, segundo Santos.

“A presença de doenças prévias como diabetes, hipertensão arterial, doenças pulmonares, oncológicas e obesidade podem aumentar o risco de complicações em pacientes com o novo coronavírus. Quanto ao uso de anticoagulantes, ainda estão sendo estudadas as medicações e as doses ideais para o uso na pandemia. Por enquanto, mantêm-se as doses tradicionais para prevenção ou tratamento de trombose”, detalha.