Número de enterros em Manaus pode atingir pico de 4,2 mil no mês de maio, aponta Prefeitura

Pico de enterros ocorridos em abril, que, até o momento, é de 140, é usado como projeção do pior cenário de maio. Capital amazonense vive colapso funerário.

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Com uma média atual de 100 sepultamentos por dia, enterros noturnos e conflitos sobre o sistema de agrupamento de caixões, a Prefeitura de Manaus estima que a situação ainda pode piorar. Segundo projeção divulgada pelo órgão, o número de enterros na capital pode chegar a 4,2 mil no mês de maio. Neste domingo (26), Manaus registrou o maior número de enterros desde o início da pandemia do novo coronavírus, com 140 sepultamentos.

A Prefeitura de Manaus informou ao G1 que a demanda por sepultamentos, desde o agravamento da pandemia de Covid-19, elevou a projeção para o próximo mês maio, “que pode chegar a ordem de 4.260 enterros”. Essa projeção tem como base o pico de enterros em abril, quando a capital atingiu 140 enterros. A Prefeitura informou que esse quantitativo serve como projeção do pior cenário de maio.

O número total de sepultamentos registrados pela Prefeitura incluem mortes em geral e também por Covid-19. Segundo boletim epidemiológico divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), nesta terça-feira (28), o Amazonas já registrou mais de 350 mortes pela doença e tem mais de 4,3 mil casos confirmados. Do total de mortes pelo novo coronavírus, 274 foram em Manaus.

Por conta desse aumento, Manaus fez uma parceria com um crematório local e, desde o último sábado (25), quando o serviço teve início, 15 cremações foram realizadas. Equipes do cemitério realizam um trabalho para convencer familiares a adotarem pela método, evitando uma superlotação no local.

Um novo procedimento de empilhar caixões havia sido tomado por conta do aumento drástico no número de sepultamentos na capital. Diante da repercussão negativa sobre o empilhamento dos caixões de pessoas mortas em Manaus, a prefeitura voltou atrás e informou que não serão mais realizados sepultamento em ”sistema de camadas” no cemitério público Nossa Senhora Aparecida.

Com a alta demanda, o Cemitério Nossa Senhora da Aparecida, no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus, também recebeu frigoríficos para comportar corpos que aguardavam enterros. No último dia 26, o Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Amazonas (Sefeam) afirma que as empresas têm estoque de urnas para dez dias, caso a quantidade de enterros permaneça alta.

A Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF) informou por meio de nota, nesta terça-feira (28), que o Governo Federal negou um pedido de apoio logístico para adequar o estoque de urnas funerárias que serão enviadas a Manaus.

Antes da pandemia pelo novo coronavírus, a média de sepultamentos em Manaus era de 30 por dia. Há mais de uma semana, cartórios da capital também estenderam o regime de plantão para atender alta demanda de registro de óbito.

Famílias sofrem com colapso funerário

Maria Portelo, de 61 anos, morreu às 15 horas do domingo (26). Ela morava na comunidade São João, na BR-174, que liga Manaus a Boa Vista (RR). Mais de 24 horas depois, a família ainda esperava pelo SOS Funeral para a remoção do corpo. “É um direito sepultar”, declarou uma sobrinha.

A família de Maria conta que ela passou mal no domingo, mas o atendimento do Serviço de Atendimento Móvel (Samu) não chegou a tempo. Quando acionou o serviço público de sepultamento, também precisou esperar. O corpo da idosa ficou em cima da casa, na casa onde ela morava, até a chegada do atendimento, mais de 24h após o falecimento.

Idosa morre dentro de casa e família passa mais de um dia aguardando remoção pelo SOS Funeral em Manaus. — Foto: Divulgação

No domingo (26), dia do recorde de sepultamentos, uma família precisou enterrar o próprio pai, por falta de coveiros. Antes disso, a família precisou “revirar” câmaras frigoríficas para encontrar o corpo do pai. “Muitos corpos em cima do outro, sem identificação nenhuma. Nós tivemos que nos arriscar. Tivemos que nos arriscar dentro do freezer, dentro do frigorífico, para identificar nosso pai”, disse um dos filhos.