Com falta de vagas em hospitais de Manaus, pacientes passam madrugada em ambulâncias, diz coordenador do Samu

Segundo governo, quase 100% dos leitos para atendimento de casos de Covid-19 estão ocupados. Amazonas possui mais de 2,4 mil casos confirmados.

463

Em Manaus, pacientes tiveram que passar a madrugada dentro de ambulâncias à espera de leitos em hospitais da rede pública de saúde, segundo o coordenador geral do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O médico fez o desabafo em um aplicativo, e as mensagens viralizaram. O Amazonas vive corrida para evitar um colapso na saúde com a pandemia e o governo admite que quase 100% dos leitos de UTI para pacientes de Covid-19 estão ocupados.

O Amazonas já registra 2.479 pessoas contaminadas e 207 óbitos, enquanto o número de pacientes recuperados da doença chega a 879.

Segundo o médico Ruy Abraim, do Samu, “todas as unidades de saúde estavam de portas fechadas e não aceitavam mais nenhum paciente”, com isso, oito pessoas passaram a madrugada desta quinta-feira (23) dentro de ambulâncias à espera de vagas em leitos.

Em nota, o Governo do Amazonas confirmou que opera “em capacidade máxima” na rede pública e que busca, junto ao Governo Federal, formas de ampliar o atendimento.

Em entrevista ao G1, o médico contou que atua há 13 anos no Samu e nunca viu uma situação tão crítica. “Nunca aconteceu nada igual”, afirmou. Ele conta que equipes do serviço passaram a madrugada “perambulando” pela capital em busca de vagas para deixarem os pacientes.

“Hoje, podemos classificar a nossa situação, e acho que de todas: à beira do desespero. Muito complicado. Estamos com uma sobrecarga muito grande, mas, o maior problema é pegarmos os pacientes, atender e aí não ter vagas em unidades para receber essas pessoas. Está tudo lotado”, disse Ruy.

O médico falou, também, sobre os materiais e equipamentos de uso do Samu estarem ficando presos em hospitais.

“O nosso material está ficando retido nas unidades. Você chega lá [no hospital] não tem leito, não tem oxigênio, nossos cilindros estão ficando em hospitais e com isso, nossas ambulâncias ficam inoperantes”, completou.

Ainda de acordo com o coordenador, o Samu possui 25 ambulâncias de suporte básico e oito de suporte avançado, que funcionam como UTIs. Ele enfatizou que as equipes estão atuando com todos os equipamentos de proteção necessário.

Após passarem a madrugada dentro de ambulâncias, o coordenador disse que as equipes conseguiram distribuir os pacientes em unidades de saúde de Manaus, mas contou que não é a primeira vez que o caso acontece desde o início da pandemia.

Ainda segundo ele, no Amazonas, o serviço de atendimento possui 900 funcionários, mas cerca de cem estão afastados pois testaram positivo para Covid-19.

Questionado sobre as medidas, ele explicou que a situação foi repassada para a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), que é responsável pelo Samu. O órgão municipal entrou em contato com a Secretária de Saúde do Estado (Susam) para que medidas sejam tomadas.

O que diz o governo?

Em nota, a Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam) disse que possui 15 unidades de saúde de porta aberta atendendo pacientes com síndrome respiratória, incluindo casos suspeitos de Covid-19 e ainda os hospitais de referencia par internação Nilton Lins e Delphina Aziz, que atendem via sistema de regulação inter-hospitalar.

“Com o crescimento de casos, as unidades estão operando na capacidade máxima. Uma opção também é o hospital de campanha do município, que pode receber pacientes quando as unidade da rede estaduais estiverem com sua capacidade máxima. O governo do Amazonas está trabalhando junto ao Governo Federal para ampliar a capacidade de atendimento”, diz trecho da nota.

Sobre a denúncia de que os equipamentos de oxigênio das ambulâncias estão ficando presos em hospitais, a Susam disse que a rede de gases do HPS João Lúcio opera normalmente e que não há falta de oxigênio no Hospital.

Corrida contra colapso

Nesta terça-feira (21), a secretária estadual de saúde, Simone Papaiz, informou que, em média, a taxa de ocupação de leitos no Amazonas está em torno de 96% a 97% – tanto em UTI, quanto nos leitos de internação.

A taxa de ocupação de salas rosas, para onde são levados pacientes de Covid-19 que não conseguem leitos nos hospitais, costuma a chegar na sua totalidade.

“Sala rosa, chegamos a 100%. Varia muito de 95% a 100% de internação, dependendo do dia. Ontem, por exemplo, nós estávamos com 100% de capacidade operacional da sala rosa, no Hospital 28 de Agosto. Os leitos com maior taxa de ocupação são os de UTI. Por isso, estamos nos debruçando na questão de contratação de médicos intensivistas para poder ampliar os leitos de UTI. Este é um de nossos desafios”, disse.

Segundo o governo, os dados ainda não incluem no levantamento os leitos do Hospital de Retaguarda Nilton Lins, inaugurado no último sábado (18). O Governo do Amazonas informou que Hospital de Retaguarda iniciou as atividades com 50 leitos clínicos e 16 de UTI, e que busca insumos e recursos humanos para alcançar a capacidade máxima da unidade, de 400 leitos.

Na atualização da Susam, não constam também dados referentes ao Hospital de Campanha do Município de Manaus, nem os da rede privada.