O melhor do projeto Jovens pela Vida é que suas atividades irão além das palestras previstas para o mês de setembro em escolas de Porto Velho. De outubro em diante, ele prosseguirá normalmente com novas reuniões entre organizadores/monitores e grupos de alunos dispostos não apenas a ouvir palestras, mas ao acompanhamento permanente.
“Eles clamam por ajuda para suas inquietudes”, afirmou o coordenador de Políticas Públicas do Estado, Gabriel Barbosa, durante a abertura oficial do projeto, segunda-feira (2), na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio João Bento da Costa, no bairro Eldorado.
Jovens pela Vida, idealizado pela Superintendência Estadual de Juventude, Cultura, Esportes e Lazer (Sejucel) e as secretarias estaduais de Saúde e Educação, visitará outras escolas durante o Setembro Amarelo, a campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida, Conselho Federal de Medicina e Associação Brasileira de Psiquiatria. Também colaboram com o projeto o Tribunal de Justiça e o Ministério Público Estadual.
O master coach pela Sociedade Brasileira de Inteligência Sistêmica (Febracis), Edimilson Oliveira, demonstrou a necessidade “não apenas de identificar emoções, mas de conviver com elas”.
“Contem até 40!”, ordenou a todos. Quando terminaram, os alunos souberam que, a cada 40 segundos, alguém comete suicídio no mundo.
A cada ano, mais de 11 mil pessoas tiram a própria vida, número que segundo estimativas do Ministério da Saúde em 2016, tende a ser até 20% maior, devido a mortes erroneamente identificadas como acidentais. Em cinco anos, de 2013 a 2018, Porto Velho teve 180 casos de suicídio.
Em números globais, em 2003, seguindo a estatística do MS, cerca de 900 mil pessoas tiraram a própria vida. A maioria dessas com idades entre 15 e 35 anos.
“O que leva um jovem a desistir da vida?” – indagou. E foi explicando: “Os sentimentos se manifestam dentro da pessoa, criando uma imagem mental. De onde vêm as emoções?” – perguntou Edimilson Oliveira.
“Pelo ar? Não, elas são produzidas pela escolha das próprias pessoas, algumas se viciam em álcool, drogas ilícitas, até em trabalho, e também podem viciar em emoções” – disse Oliveira.
Segundo o palestrante, se a pessoa sente uma emoção mais de cinco vezes, vicia-se nesse sentimento. eguiu instigando os alunos: “O que é preciso em sua vida para ser feliz?”. Alguns responderam: dinheiro. Risos na platéia.
“O que é preciso para realizar algo” – ele indagou novamente. Emendando: “Nada! Nossas emoções são produzidas por nossos próprios pensamentos, e no que pensamos acreditamos”.
Oliveira entrou no assunto depressão, classificando-a de “conjunção de sentimentos”. Disse que não se fica depressivo de uma hora para outra, mas alertou: “Se a pessoa começa a olhar pra baixo, pensa em tudo quanto é besteira e acredita ser realidade”.
“Eu vi minha mãe morrendo, quando ouvi a letra de uma música na qual a mãe morre na sala de cirurgia”, exemplificou.
“Yes! Por nossas conquistas escolares! Pelo Enem! Pelo vestibular” – ele apelou, erguendo as mãos para o alto, todos repetindo seu gesto e batendo palmas.
VENCENDO O MEDO
“A gente colhe amanhã o que planta hoje: se planta uva, não colhe chuchu, se planta chuchu não colhe uva” – iniciou o secretário estadual de Saúde, Fernando Máximo. “Em dois anos de plantação eu concluí que viveria até aos 70 anos, e vocês, ao que tudo indica, viverão até os 90”, animou.
Engraxate e picolezeiro quando menino, ele também sonhou com um futuro melhor. Começou largando a balada e o futebol para se dedicar aos estudos, 15 horas por dia.
“O segredo é iniciar alguma coisa, ter atitude, não se acomodar, e aí eu me perguntava: será que ser aluno de escola pública me garante esse futuro?”, ensinou Máximo.
“Se querer é quase sempre poder, eu tenho que ir atrás da minha chance. Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho, disse um dia Tiger Woods, o primeiro atleta bilionário do mundo, e a sorte é a junção de oportunidade e preparação, por isso, se um cavalo passar com arreio em sua porta uma vez na vida, prepare-se para montá-lo: assim é o Enem e o vestibular”, aconselhou o titular da Sesau.
Passou a falar do medo, “uma coisa ruim que te bota pra baixo”. Máximo confessa que teve três, um deles, aprender matemática, sem a qual não chegaria a ser médico. Passou no vestibular e foi para as olimpíadas.
O segundo medo, na Universidade Federal do Amazonas, foi de cadáver. Questionava-se: como ser médico sem conhecer o assunto? “Na primeira semana de medicina, eu entrei no laboratório de anatomia e abracei um”.
O terceiro: falar em público. Este durou até o dia em que se ofereceu dicas de primeiros socorros a uma emissora de rádio de Manaus, minutos depois de salvar uma pessoa em crise convulsiva. “Eu, magrinho, capinha da gaita, fui falando essas dicas para as pessoas, logo entregaria cinco programas”.
De lá para cá, o médico passou a cativar estudantes, médicos, outros profissionais liberais, proferindo palestras sobre primeiros socorros e motivacionais.
Com cinco pós-graduações, entre as quais cirurgia geral, bioética, medicina do trabalho, videolaparoscopia, Máximo faz trabalhos voluntários. Numa dessas ocasiões, salvou um homem com o pescoço cortado por linha de pipa com cerol.
Ao se consolidar profissionalmente, adquiriu o primeiro carro zero quilômetro, uma camionete que deu de presente aos pais. “Meu pai passou fome na vida, ele e minha mãe são donos do meu sonho, por isso me contentei em seguir com o velho carro com o qual fiz diversos plantões hospitalares”, revelou.
Encerrou a palestra com sua frase de luta na tela do audiovisual: #Youcanmore ! (Você pode mais.)
Ao som de Jenn Johnson, o grupo Express Art, nascido na Comunidade Cristã de Rondônia, apresentou o número musical e de dança “Vai ficar tudo bem”. Segundo a coordenadora Joadna Oliveira, a líder geral da equipe, Gabriela Farias, recebeu pedidos de apresentação da equipe formada por criança, em todas as escolas que receberão o projeto Jovens pela Vida.
Lohanna Valente, 16, porto-velhense, aluna do 2º ano, gostou do modelo. “Tem muito conteúdo, mostra situações de maneira artística; o sonho deve estar acima de tudo”. Ela quer ser médica.
André Marcos, 18, 2º ano, nascido no Acre, viveu em Manaus e se mudou há dois meses para cá, diz que se adaptou muito bem à cidade e à escola. “Gostei de toda a programação, até pensei que esse tema seria mais difícil de ver e ouvir, mas tudo aconteceu de maneira descontraída, foi muito legal”.