Sessão Solene entrega Voto de Louvor a personalidades e entidades que contribuíram com atendimento ao autismo

Solenidade marcou o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado nesta terça-feira

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Para marcar as comemorações do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado na terça-feira (2), a Assembleia Legislativa realizou, na tarde desta segunda-feira (1), Sessão Solene, proposta pelo deputado estadual Cirone Deiró (Podemos), com entrega de Voto de Louvor para 77 entidades e 21 personalidades que contribuíram para o atendimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autistas (TEA).

“O objetivo principal é chamar a atenção do poder público, e também da sociedade, sobre a necessidade de se ter um carinho especial com a causa das pessoas autistas. Essa é a nossa missão aqui: debater e contribuir para que o Transtorno do Espectro Autistas (TEA) deixe de ser visto de forma preconceituosa e que as pessoas abracem essa causa. Entender essa condição de saúde, que afeta os autistas, é importante para toda a sociedade”, destacou.

Cirone revelou que após ter sido aprovada a realização da Sessão Solene, algumas pessoas, de forma insensível, na opinião dele, vieram questioná-lo nas redes sociais se não haveria temas mais importantes para tratar. “Eu respondi que cuidar das pessoas é a nossa maior missão enquanto homem público. Construir prédios, fazer asfalto e entregar máquinas, não é tudo, pois isso é passageiro. Mas, cuidar das pessoas sim, é a maior e mais duradoura missão”.

Logo na abertura, o Grupo de Autistas da Associação de Pais e Amigos do Autista, fez uma apresentação musical, com a música “Natureza”. Também foram exibidos vídeos com mensagens sobre a importância da conscientização sobre o autismo. Houve ainda a apresentação musical do aluno autista Euderlei, que cantou e tocou teclado, emocionando a todos.

Os deputados estaduais Cassia Muleta (Podemos), Alex Silva (PRB), Chiquinho da Emater, Dr. Neidson (PMN) e Anderson Pereira (Pros), participaram da solenidade. O deputado federal Léo Moraes (Podemos), o subdefensor público geral, Hans Lucas Immich, a presidente da Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais de Rondônia, Hilda Salvático, a presidente da Associação de Pais e Amigos do Autista (AMA), Nilza Maria Ferreira, o juiz Flávio Henrique, representando a Associação dos Magistrados de Rondônia (Ameron), o promotor Marcelo Oliveira; a chefe do Núcleo Educacional da Seduc, Heloísia Lara, Igor Valério, acadêmico de Direito da Faculdade Católica de Rondônia, também prestigiaram a Sessão Solene.

Pronunciamentos 

Chiquinho da Emater fez o reconhecimento de que o poder público, tem feito pouco pelas pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Tem feito pouco, muito pouco mesmo e esse cenário precisa mudar, para que o segmento tenha a devida atenção. Como o deputado Cirone falou, gostar de gente, cuidar das pessoas, é coisa para poucos”.

Ele cobrou ainda que haja mais apoio do Governo para o funcionamento das unidades das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), para garantir o atendimento de quem precisa, especialmente nos municípios menores. “Meu gabinete está de portas abertas, para acolher as demandas das Apaes”, garantiu.

Igor Valério, que é autista e acadêmico de Direito, fez um breve relato de sua trajetória de vida. “Após ter sido diagnosticado com o TEA ainda pequeno, somente aos 17 anos é que fui informado que era autista. Quando criança, tinha dificuldade de me socializar e entre os dois e cinco anos, parei de falar. Com o apoio principalmente de minha mãe e da família, me superei e ano que vem me formo em Direito e procuro viver uma vida normal”, pontuou.

O juiz Flávio Henrique pontuou, de forma emocionada, que os autistas são especiais. “Sou pai de um autista, com muito orgulho. Estou aqui como pai e como magistrado e me sinto honrado em participar desta solenidade. A Ameron, a magistratura, está engajada nesta causa. Minha motivação é muito grande para estar integrado nessa luta para que haja leis, ações do Executivo e maior implementação de leis, para que, de fato, as pessoas sejam incluídas”, destacou.

Henrique observou que o autista não é uma pessoa diferente, mas que enxerga o mundo de forma diferente, particular. “Por outro lado, o orçamento público é limitado e o Judiciário pode destinar recursos obtidos com ações para esse segmento. Estamos reunindo informações para que a justiça de Rondônia possa estar preparada para apoiar a causa, quando necessário. Precisamos inserir essas pessoas na sociedade e me coloco à disposição para trabalhar em conjunto com as entidades. Essa é uma causa que vou entrar de cabeça”.

O deputado Alex abriu a sua fala, lamentando que a iniciativa do deputado Cirone, tenha recebido críticas, nas redes sociais. “O que falta para o ser humano é amor. E, graças a Deus, o que temos visto aqui é que sobra o amor. Na semana passada, visitei a Casa Família Rosetta, e vi o amor como as crianças são tratadas, apesar das indiferenças de alguns e da falta de apoio do poder público. Que esse amor continue. Que Deus abençoe a todos e me coloco à disposição para contribuir com a causa”.

Léo Moraes ressaltou que leis, são palavras frias, se não forem postas em práticas e atenderem a quem se destinam. “É o caso da lei que garante filas exclusivas para as pessoas com Transtorno do Espectro Autistas em comércios, que tem sido muito pouco respeitada. Temos que dialogar, pois depende de orçamento e de ações concretas, para que possamos incluir os autistas de forma efetiva na sociedade”, completou.

Dr. Neidson afirmou que o preconceito social é muito grande, até mesmo impondo que as famílias se isolem na sociedade. “É importante a conscientização e é importante essa reflexão, para que possamos reduzir o preconceito e a discriminação contra as pessoas com o Transtorno do Espectro Autista. Espero que o Governo também se integre nesse papel de conscientização”, explicou.

Para ilustrar a sua fala, Neidson relatou que, há duas semanas, fez a entrega de um micro-ônibus adaptado para a Associação Pestalozzi de Guajará-Mirim, que três dias depois pegou fogo. “Nas redes sociais, os comentários eram, quase em sua totalidade, denegrindo a ação da entrega e criticando o sinistro ocorrido. Ninguém se sensibilizou com o prejuízo para as pessoas que deixaram de ser atendidas, daí a necessidade de conscientização”.

Anderson Pereira disse que o deputado Cirone acertou na homenagem às entidades e personalidades que trabalham com o autismo. “Pena não poder homenagear os órgãos governamentais, em nenhuma esfera, por não estarem fazendo a sua parte, infelizmente. A AMA recebeu investimentos, mas a sede ainda é pequena e sugiro que possamos fazer uma emenda coletiva, para construir sede própria da AMA, para atender à grande demanda”, destacou.

Pereira declarou que, ao assumir o mandato, no lugar da saudosa deputada Lúcia Tereza, manteve as emendas alocadas por ela para a Apae de Espigão do Oeste, “que realiza um dos melhores trabalhos na área em Rondônia e não deixei de contemplar com recursos, mantendo as emendas e apoiando as ações”.

Cassia Muleta firmou compromisso de ajudar a retirar as leis do papel e cobrar do poder público soluções. “Tenho certeza que esse trabalho ganharia muito com as leis, já existentes, sendo implantadas e efetivadas. Meu gabinete está aberto ainda para discutir projetos e emendas para apoiar essa causa”.

O promotor Marcelo Oliveira reforçou que o amor precisa estar presente, para que as ações se efetivem. “Mesmo em lei, há uma dificuldade de se fazer o Estado cumprir o seu papel de prestar educação e saúde aos diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista. Essas entidades, essas pessoas que abrem mão de sua vida, não podem substituir esse papel que é do Estado, que tem que ser cobrado, por força constitucional”, observou.

Ele criticou que leis aprovadas pela Assembleia Legislativa, desde 2012, para cuidadores, por exemplo, até hoje não foram implementadas. “Há um jogo de empurra e nada se faz, infelizmente. Quero registrar que essas entidades fazem um trabalho importante de apoio, mas quem deve conduzir a política pública de atendimento à causa, deve ser, por dever constitucional, do Estado”.

O neuropediatra Marco Antônio abriu a sua fala ressaltando privilégio de poder desfrutar da convivência com os autistas. “Os autistas são autênticos, nós não. Eles são cristais, com brilho próprio e cabe a nós entender esse reluzir do brilho. E, cabe a nós, entender e explicar para os ditos ‘normais’, a essência do ser humano. Somos egoístas, invejosos e perdemos a essência do ser humano, que ficou lá para trás”.

Ele questionou como pessoas puderam desmerecer a realização de tão importante solenidade. “Como questionam que uma solenidade dessas não é importante? O que é importante, afinal? Os carrões, os restaurantes de luxo? Temos que trabalhar para proteger os autistas, que são autênticos, de nós, da sociedade”.

Antônio Bisconsi afirmou que é um momento de alegria, com tão importante homenagem. “É um trabalho de quase quatro décadas. Muitas pessoas contribuíram e contribuem com o Cernic ao longo desse tempo. Atendemos com vários profissionais e com uma estrutura física referência em Rondônia. É um momento de reflexão, de enaltecermos as conquistas e seguirmos lutando por mais cidadania e de inclusão para todos”.

Hans Immich disse que a Defensoria Pública atendeu, em 2018, mais de 500 mil pessoas. “Não se faz cidadania sem acesso a direitos e a Defensoria atende um universo muito grande de pessoas. E esta Sessão Solene é importante para promover a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista”.

Nilza Maria Ferreira, da AMA Rondônia, agradeceu aos parceiros e pediu apoio para a AMA e as demais entidades que trabalham com crianças e jovens com autismo ou outras síndromes.

Hilda Salvático desabafou contra o abandono das pessoas com necessidades especiais. “Nada de esconder, chega de ter medo, chega de abandono. As entidades fazem o trabalho que o Estado deveria fazer e ficamos de pires na mão, muitas vezes. O trabalho voluntário é o que sustenta as instituições”.

Maxilene Bezerra enalteceu o trabalho da Igreja Wesleyana, que paga o aluguel e apoia as ações do Centro Multidisciplinar Movidos pelo Amor ao Autismo, há sete anos. “O amor não pode ser imposto, ele deve ser voluntário. Acredito que, através de informações, vamos conscientizar a sociedade e cobrar que ações efetivas aconteçam e as nossas crianças e jovens possam ser atendidas com a dignidade que merecem”.

Maria Aparecida, da AMAC de Cacoal, lamentou que a sociedade ainda não conheça a realidade e não respeite os autistas. “Tem pais que escondem que têm filhos autistas. Desde antes de ser deputado, o Cirone Deiró sempre esteve presente e nos apoiou”.

Pamela Carneiro, coordenadora do curso de Fonoaudiologia da São Lucas, informou que a clínica de fonoaudiologia realizou mais de mil atendimentos com autistas em 2018. “Mas, é preciso expandir ainda mais esse serviço, para atender mais e melhor os nossos autistas, pois temos muito ainda desassistidos, no atendimento multiprofissional”, explicou.

Sirleia Bacelar, diretora da Escola Bilíngue de Porto Velho, também defendeu políticas públicas para a promoção de direitos dos autistas.

Louvor 

Foram entregues títulos de louvor ao deputado federal Léo Moraes, a presidente da Federação das Apaes, Hilda Salvático, a presidente da Apae de Ariquemes, Jussara Beatriz; a presidente da Associação Multifuncional para Autistas de Cacoal (AMAC), Maria Aparecida; o presidente do Cernic de Cacoal, Antônio Bisconsi; o presidente da Apae de Porto Velho, Antônio Carlos Bressani, a presidente do Centro Multidisciplinar Movidos pelo Amor ao Autismo, Adriana Patrícia; a psicopedagoga Luzia Cristina; a embaixadora da AMA Rondônia, Margarete Coimbra; a diretora da AMA Rondônia, Silvia Cristina; a madrinha da AMA Rondônia, Maria Maciel; a coordenadora do Centro Multidisciplinar Movidos pelo Amor ao Autismo, Maxilene Bezerra, e a diretora da AMA Rondônia, Silvia Regina.

Outras entidades e personalidades, que atuam com o atendimento ao autismo, também foram agraciadas com o Voto de Louvor, proposto por Cirone Deiró e aprovado pela unanimidade dos deputados estaduais.

Ao encerrar, Cirone disse que saia da Sessão Solene de alma limpa e “testemunho como uma das mais produtivas e emocionantes. Os autistas são nossos anfitriões e precisamos na melhor forma de atendê-los. Não temos que impor o nosso modelo, nosso ambiente aos autistas, mas adequar nosso ambiente a eles”, finalizou.