A CBA explica, em nota à BBC News Brasil, que para uma pessoa com necessidade especial ser aceita na confederação é preciso avaliar a intensidade da deficiência dela. “No âmbito do esporte a motor, sob a alçada da Confederação Brasileira de Automobilismo, há pilotos filiados com deficiência física, sensorial, intelectual, visceral”, diz comunicado da confederação.

O acidente e a luta para seguir no automobilismo
No fim de setembro, Dimy correu em mais uma etapa do Campeonato Mato-grossense de kart. Mas ele não concluiu a disputa, porque o automóvel do jovem teve novos problemas, dessa vez ainda mais graves.
“O meu kart estava muito complicado para pilotar na corrida. O banco estava quebrado, mas meu mecânico tentou arrumar. O freio também estava com problema. O bico do meu kart estava amassado, torto e arrastando no chão, por isso a roda levantava. Eu não consegui ficar com as quatro rodas no chão”, detalha Dimy.
O jovem conta que esses problemas surgiram durante a corrida, porque até então o veículo parecia apto para a disputa. “Essas coisas acontecem. Fui pilotando do jeito mais ousado possível, mas foi muito difícil e cansativo”, diz Dimy.
Enquanto corria, ele perdeu o controle do veículo. “O kart embicou, ficou na perpendicular e fui arremessado para fora da pista”, detalha Dimy.
No acidente, ele tentou se proteger e acabou fraturando a mão esquerda. Semanas depois, Dimy precisou passar por uma cirurgia e segue em recuperação até o início de 2022. “Nesse período tenho que ficar com o braço engessado, não posso pilotar ou fazer qualquer atividade física”, diz o jovem.
Ele ainda não sabe se voltará a correr com o kart que pilotava no acidente. “O que sei é que está quebrado. Talvez tenha conserto, mas não sei detalhes porque ainda não vi isso”, explica.
A única certeza que ele tem sobre o futuro é que deseja voltar a pilotar o quanto antes. Ele considera que cada período longe das pistas é um tempo a menos para avançar no automobilismo. “É triste ter que esperar mais um pouco, porque agora era o meu começo”, lamenta.
O tempo é um fator que preocupa muito o rapaz, porque ele teme que as pessoas o considerem “muito velho” para um iniciante. Por isso, prefere não revelar a idade, por medo de perder patrocinadores por não ser mais tão novo como os outros que estão iniciando na atividade agora. O jovem limita-se a dizer que tem mais de 20 e menos de 25 anos.
O kart, diz Dimy, é o seu passo inicial no automobilismo, assim como foi para grandes nomes como o piloto Ayrton Senna, que se destacou na Fórmula 1.
“Se eu puder escolher, quero chegar à Fórmula Indy, mas não é necessariamente um objetivo, o importante é avançar para outra categoria”, diz. “O meu objetivo principal é um dia ganhar a vida com o automobilismo, receber para correr e poder viver disso”, acrescenta o jovem.
Cada pequeno avanço de Dimy no automobilismo é uma enorme vitória para a mãe dele. Por diversas vezes, ela ouviu comentários de pessoas próximas que a aconselharam a fazer o jovem desistir de ser piloto.
“Muitos duvidaram, disseram que ele deveria abandonar esse sonho, porque achavam que era ilusão, e falavam para buscar outra área. Falavam: já que ele gosta de automobilismo, por que não tenta engenharia mecânica? Por que não trabalha como mecânico em uma oficina?”, diz Branca.
Nunca teve outra opção para Dimy, diz a mãe. Isso é um temor para ela, que teme que o filho se sinta muito frustrado caso não consiga prosseguir com a carreira. “É um medo que eu tenho”, diz Branca.
Ela e Dimy frisam o quanto o jovem precisa de patrocínio: sem isso, dizem, a carreira dele acaba por falta de recursos. “Já tentei diferentes patrocínios nos últimos anos, mas nunca consegui nada”, lamenta o piloto.
“O meu filho é um talento que está sendo desperdiçado por falta de oportunidades. Isso me dói”, diz Branca.
Além do prazer que sente com a velocidade, Dimy destaca que se sente acolhido no automobilismo. “Já sofri muito na escola por reagir como autista. No automobilismo nunca sofri nada assim, sempre me receberam muito bem e sou muito respeitado”.
E o jovem afirma que hoje não corre apenas por si, mas também para representar outros autistas. “A mãe de um menino de seis anos, que também tem autismo, me procurou para falar que ele conheceu a minha história (em reportagens locais), achou incrível e ele também quer ser piloto”, conta Dimy. “Acabo me tornando exemplo também”, diz o jovem.