Ilustração de DNA se fragmentando simboliza o gatilho do caos genético no câncer agressivo.
Estudo identifica enzima que fragmenta cromossomos e acelera a evolução de tumores agressivos.

Pesquisadores descobriram um mecanismo decisivo que ajuda a explicar por que alguns tipos de câncer evoluem de forma extremamente rápida e, consequentemente, se tornam mais resistentes às terapias disponíveis. Segundo o estudo, existe um verdadeiro “gatilho” do caos genético, capaz de quebrar cromossomos inteiros de uma só vez. O gatilho do caos genético no câncer é um processo que favorece tumores mais agressivos e difíceis de controlar.

Além disso, a descoberta amplia a compreensão sobre a cromotripsia, fenômeno associado a alterações genéticas bruscas e, portanto, à perda de eficácia de muitos tratamentos convencionais.

Tumores que evoluem em saltos, não em etapas

Durante anos, cientistas observaram que certos cânceres não seguem o padrão clássico de evolução lenta, marcado pelo acúmulo gradual de mutações. Em vez disso, esses tumores passam por transformações rápidas. Como resultado, mudam seu comportamento e escapam com mais facilidade das terapias. Esse gatilho do caos genético no câncer altera o modo como esses tumores evoluem.

Agora, o novo estudo esclarece a causa desse processo. Segundo os pesquisadores, uma única enzima é capaz de iniciar a cromotripsia. Nesse evento, um cromossomo se fragmenta em dezenas ou até centenas de pedaços dentro da célula. Assim, o material genético perde sua organização original.

Consequentemente, instala-se um caos genético, que favorece a adaptação do tumor e acelera sua progressão de forma significativa.

O que é cromotripsia e por que ela preocupa

Em condições normais, as alterações no DNA ocorrem de maneira gradual. Já na cromotripsia, tudo acontece de uma vez. Para ilustrar, os cientistas comparam o fenômeno a um livro rasgado em várias páginas e, depois, reencadernado fora de ordem.

Embora seja raro em células saudáveis, esse tipo de evento aparece com frequência surpreendente em tumores. De acordo com estimativas, cerca de um em cada quatro cânceres humanos apresenta sinais de cromotripsia. Além disso, em tipos mais agressivos, o fenômeno surge em praticamente todos os casos.

Por isso, esse processo oferece ao câncer uma vantagem evolutiva. Com muitas alterações genéticas simultâneas, as células malignas encontram rapidamente formas de driblar medicamentos e, ao mesmo tempo, continuar se multiplicando.

O mistério por trás da quebra dos cromossomos

Apesar de a cromotripsia ser conhecida há mais de uma década, os cientistas ainda não compreendiam exatamente como ela se iniciava. A principal hipótese envolvia falhas na divisão celular, isto é, no momento em que uma célula se divide em duas.

Quando ocorre um erro nesse processo, um cromossomo pode ficar isolado do núcleo principal. Dessa maneira, ele acaba preso dentro de uma estrutura frágil chamada micronúcleo. Se essa “bolha” se rompe, o cromossomo fica exposto e, portanto, vulnerável a danos severos.

Nesse contexto, a grande dúvida era identificar qual enzima conseguia acessar esse micronúcleo e, assim, iniciar a destruição do DNA.

A enzima que aciona o caos genético

Para responder a essa questão, os pesquisadores analisaram diversas enzimas capazes de cortar DNA. Enquanto isso, observaram em tempo real o que acontecia dentro de células cancerígenas.

O resultado foi claro. Apenas uma delas, chamada N4BP2, conseguiu entrar nos micronúcleos e provocar danos extensos ao DNA. Quando os cientistas removeram essa enzima de células tumorais, a fragmentação cromossômica caiu de forma acentuada. Por outro lado, ao forçar sua presença em células saudáveis, cromossomos intactos começaram a se quebrar.

Assim, os dados indicam que a N4BP2 não apenas está associada ao fenômeno, mas, de fato, é suficiente para desencadear o caos genético. Este gatilho do caos genético no câncer representa uma nova forma de estudo.

Impacto direto no tratamento do câncer

Além das análises laboratoriais, os pesquisadores avaliaram milhares de genomas tumorais. Como resultado, identificaram um padrão consistente. Tumores com altos níveis da enzima N4BP2 apresentavam mais sinais de cromotripsia e, ao mesmo tempo, maiores quantidades de DNA extracromossômico.

Esse tipo de DNA, diferente daquele organizado em cromossomos, aparece em pequenos anéis soltos dentro da célula. Além disso, costuma carregar genes que aceleram o crescimento do câncer. Por esse motivo, ele está fortemente associado a tumores mais agressivos e difíceis de tratar.

Os dados indicam, portanto, que o DNA extracromossômico pode surgir como consequência direta da cromotripsia, a partir dos fragmentos gerados quando um cromossomo se quebra de forma desordenada.

Um novo caminho para frear tumores agressivos

Ao identificar a N4BP2 como o gatilho desse processo, o estudo abre uma nova frente no combate ao câncer. Em vez de focar apenas na eliminação imediata do tumor, os cientistas avaliam estratégias para bloquear a enzima ou as vias que ela ativa. Dessa forma, seria possível reduzir o caos genético e, consequentemente, a capacidade de adaptação da doença.

Por fim, os pesquisadores destacam que compreender como a cromotripsia começa muda a lógica do tratamento. Em vez de perseguir mutações que surgem depois, a ciência passa a olhar diretamente para o momento em que o gatilho do caos genético no câncer é iniciado.