Arte mostra o impacto das mudanças climáticas na saúde humana, com metade do rosto de um homem fundido ao planeta Terra em chamas.
O aquecimento global já provoca doenças, mortes e crises econômicas em todo o mundo, segundo o relatório Lancet Countdown.

As mudanças climáticas deixaram de ser apenas um problema ambiental. Elas estão afetando diretamente a saúde humana. De ataques cardíacos e exaustão pelo calor a problemas de saúde mental e à disseminação de doenças tropicais, a crise climática está ameaçando cada vez mais pessoas no mundo.

O alerta vem do relatório Lancet Countdown 2025, elaborado por 128 cientistas internacionais e publicado pela University College London. O documento mostra que as consequências do aquecimento global nunca foram tão perigosas para a saúde.

A escalada das doenças e mortes ligadas ao calor

Segundo o relatório, as mortes relacionadas ao calor aumentaram 23% desde os anos 1990, ultrapassando meio milhão por ano.
Além disso, a fumaça de incêndios florestais foi associada a um recorde de 154 mil mortes em 2024, enquanto a poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis mata 2,5 milhões de pessoas anualmente.

“Estamos vendo milhões de mortes todos os anos por causa da dependência de combustíveis fósseis e da falta de adaptação às mudanças climáticas”, afirmou Marina Romanello, diretora executiva do Lancet Countdown.

Os riscos se espalham para todos os cantos do planeta

As conexões entre saúde e aquecimento global estão se tornando mais evidentes. O relatório mostra que o ano passado foi o mais quente já registrado, e os níveis de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera atingiram novos recordes.
Em média, o mundo enfrentou 16 dias adicionais de calor extremo prejudicial à saúde. Entre bebês e idosos, esse número chegou a 20 dias extras.

Além disso, treze dos vinte indicadores de saúde humana analisados pioraram significativamente no último ano. Assim, segundo Romanello, “quase todos estão indo na direção errada”.

Calor, secas, enchentes e desnutrição

Os efeitos das mudanças climáticas estão intensificando os eventos climáticos extremos, que se tornam cada vez mais frequentes e severos.
As ondas de calor — consideradas a forma mais mortal de evento climático — sobrecarregam órgãos vitais e dificultam o sono.
Por outro lado, inundações contaminam a água potável e espalham infecções. Já as secas agravam a fome e a desnutrição com a perda de colheitas.
A fumaça de incêndios florestais, que em 2024 atingiu área superior ao território da Índia, prejudica pulmões, coração e até bebês em gestação.

Além disso, os danos à infraestrutura e a interrupção da energia elétrica dificultam o acesso a cuidados médicos. Consequentemente, a maioria das pessoas afetadas não tem seguro de saúde, o que aumenta ainda mais a vulnerabilidade.

O impacto financeiro do aquecimento global

Esses riscos custam caro. A escassez de alimentos e água, somada à precariedade sanitária após desastres, gera centenas de bilhões de dólares em prejuízos anuais.
Em 2024, o calor extremo causou perdas de mais de US$ 1 trilhão — cerca de 1% da produção econômica global — devido à redução da produtividade e afastamentos no trabalho.

Além das perdas econômicas, o relatório indica que o aumento das temperaturas pressiona os sistemas de saúde e amplia as desigualdades entre países ricos e pobres. Por isso, os autores reforçam a urgência de medidas estruturais de adaptação.

Doenças tropicais avançam com o calor

Mosquitos e carrapatos transmissores de doenças estão invadindo novas regiões à medida que as temperaturas sobem.
Em outubro, mosquitos foram documentados pela primeira vez na Islândia, um exemplo claro da expansão causada pelo aquecimento.
O número global de casos de dengue bateu recorde em 2024, com 7,6 milhões de infecções. O potencial médio de transmissão da doença aumentou 49% desde os anos 1950.

“Sabemos que as mudanças climáticas estão alimentando parte dessa disseminação”, afirmou Romanello.
Mesmo quando não são fatais, essas doenças causam semanas de afastamento e graves impactos econômicos. Assim, o problema se torna tanto sanitário quanto social.

A saúde mental também está em risco

As mudanças climáticas afetam o equilíbrio psicológico. Pessoas expostas a enchentes, incêndios ou furacões podem desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
De acordo com Jenni Miller, diretora da Global Climate and Health Alliance, perdas agrícolas, escassez de água e noites quentes geram ansiedade e insônia, agravando o quadro de saúde mental no mundo.

Além disso, a combinação entre calor extremo e insegurança alimentar está associada ao aumento de depressão e esgotamento emocional, especialmente em comunidades rurais e regiões mais pobres.

Caminhos para reduzir os danos

Os cientistas propõem três medidas centrais para conter os impactos sobre a saúde:

  1. Expandir a produção de energia renovável, reduzindo o uso de combustíveis fósseis.

  2. Adaptar cidades e edifícios às condições climáticas extremas.

  3. Reforçar os sistemas de saúde, tornando-os mais preparados para emergências climáticas.

Entre 2010 e 2022, o avanço da energia limpa evitou mais de 160 mil mortes, segundo o relatório. Mesmo assim, o balanço é claro: o planeta está adoecendo — e nós junto com ele.
Portanto, a mitigação da crise climática é, ao mesmo tempo, uma ação ambiental e uma política de saúde pública.

Fonte: Istoé