Motorista e entregador simbolizam os 1,7 milhão de brasileiros que têm nos aplicativos sua principal fonte de renda, segundo o IBGE.
O levantamento do IBGE mostra o avanço do trabalho digital e o crescimento da informalidade no Brasil.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 1,7 milhão de brasileiros têm nos aplicativos sua principal fonte de renda. A pesquisa inédita mostra o avanço expressivo das plataformas digitais na economia do país, especialmente entre motoristas de transporte individual e entregadores de comida.

O levantamento, feito pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), indica que o trabalho mediado por aplicativos tornou-se uma alternativa de sobrevivência e, ao mesmo tempo, um símbolo da nova informalidade urbana.

Motoristas e entregadores dominam o trabalho digital

Dos 1,7 milhão de trabalhadores que dependem de aplicativos, 58,3% atuam no transporte de passageiros, enquanto 41,7% realizam entregas. A pesquisa mostra que esses profissionais estão presentes em todas as regiões do país, com maior concentração nos centros urbanos.

O IBGE destacou que o trabalho por aplicativo oferece flexibilidade, mas também impõe desafios, como a ausência de garantias trabalhistas e previdenciárias. Apesar disso, muitos brasileiros veem nesse modelo uma oportunidade de autonomia financeira em meio à escassez de empregos formais.

Perfil socioeconômico e desigualdade persistente

A maioria dos trabalhadores de aplicativos é composta por homens jovens, com ensino médio completo e inseridos em faixas de renda de até dois salários mínimos.
O estudo também revela diferenças regionais: Nordeste e Sudeste concentram o maior número de trabalhadores, refletindo desigualdades estruturais no mercado de trabalho brasileiro.

Para o IBGE, o fenômeno evidencia a transformação do emprego tradicional e a expansão de novas formas de trabalho autônomo, impulsionadas pela tecnologia e pela conectividade móvel.

Economia digital cresce, mas proteção social não acompanha

O crescimento do trabalho digital evidencia uma contradição: enquanto a economia se digitaliza, as leis trabalhistas permanecem defasadas.
Especialistas apontam que a falta de regulamentação específica para profissionais de aplicativos aumenta a vulnerabilidade social e amplia a dependência econômica desses trabalhadores.

O IBGE ressalta que, apesar do dinamismo do setor, mais da metade dos trabalhadores não contribui para a Previdência Social, o que os deixa desprotegidos em casos de acidentes ou doença.

Um retrato do novo Brasil do trabalho

O relatório do IBGE é mais do que um retrato estatístico: é um espelho do novo Brasil do trabalho, em que milhões de pessoas encontram na tecnologia uma ponte entre desemprego e sobrevivência.
A expansão dos aplicativos redefine o conceito de ocupação, mas também traz à tona o debate sobre dignidade, direitos e futuro do trabalho.