Retrato histórico de Antonieta de Barros e Salomão Becker, símbolos da criação do Dia dos Professores no Brasil
A parlamentar negra Antonieta de Barros e o professor Salomão Becker inspiraram a criação do Dia dos Professores há quase 80 anos.

A origem de uma data que nasceu da sala de aula

O Dia dos Professores, celebrado em 15 de outubro, surgiu da iniciativa de Salomão Becker, professor de escola pública, e da parlamentar Antonieta de Barros, pioneira na luta pela educação e primeira mulher negra eleita no Brasil. O movimento começou de forma simples, dentro de uma sala de aula em São Paulo, e se transformou em símbolo nacional de valorização docente.

Becker lecionava no tradicional Ginásio Caetano de Campos, na Rua Augusta, e buscava uma pausa no calendário escolar para aliviar o cansaço de professores e alunos. Inspirado por uma tradição de sua cidade natal, Piracicaba, ele propôs um dia de confraternização entre mestres e estudantes — um gesto que, aos poucos, ganhou o país e mudou a forma de celebrar o ensino.

De São Paulo a todo o Brasil: o legado de Salomão Becker

Em 1947, a escola onde Becker ensinava passou a celebrar oficialmente o Dia dos Professores. No ano seguinte, a ideia virou lei em São Paulo e, com o tempo, se espalhou por outras regiões.

Segundo o pesquisador Rinaldo Allara Filho, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a proposta surgiu de uma “gênese afetiva e comunitária”. Ele explica que Becker enxergava o esgotamento dos colegas e quis criar um momento de pausa, reflexão e reconhecimento. “Era um dia para trocar experiências, descansar e sentir-se valorizado por seus pares”, afirmou.

Além disso, a iniciativa de Becker nasceu “de baixo para cima”, baseada na vivência real da docência. Esse espírito colaborativo se tornou a base da comemoração nacional instituída em 1963, por decreto do presidente João Goulart. Assim, a data passou a representar não apenas descanso, mas também o reconhecimento de uma classe essencial.

Antonieta de Barros: pioneirismo, luta e representatividade

Antonieta de Barros foi uma das figuras centrais na criação do Dia do Professor

Enquanto isso, em Santa Catarina, Antonieta de Barros também trabalhava por uma causa semelhante. Professora, jornalista e política, ela foi responsável por criar uma lei estadual que transformou o Dia dos Professores em feriado escolar.

Filha de uma ex-escravizada, Antonieta cresceu em meio à pobreza, mas construiu uma trajetória marcante. Criou um curso particular para alfabetizar crianças carentes, fundou o jornal A Semana e se tornou a primeira mulher negra eleita deputada estadual no Brasil.

Além de educadora, Antonieta foi símbolo de resistência e igualdade. Seu trabalho combinava educação, equidade e empoderamento. Para estudiosos como Allara, sua contribuição “ressignifica a data”, pois mostra que a valorização docente está profundamente ligada à luta por uma sociedade mais justa e democrática.

Por fim, em 2023, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, um reconhecimento tardio, mas essencial para a história da educação brasileira.

A importância da Lei Imperial de 1827

A escolha de 15 de outubro também tem um peso simbólico. Nessa data, o imperador Dom Pedro I sancionou, em 1827, a primeira lei que organizou o ensino público no Brasil. Essa norma determinou a criação de escolas de primeiras letras em todo o território nacional — marco fundador da educação básica brasileira.

De acordo com o linguista Vicente de Paula da Silva Martins, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), o decreto imperial foi “o reconhecimento jurídico do papel fundamental do professor na formação moral e cívica do cidadão”.

Além disso, a lei previa remuneração aos docentes e definia currículos com leitura, escrita, aritmética, moral cristã e história do Brasil. Para a época, tratava-se de um avanço ousado em direção à universalização do ensino.

Celebração e desafios da valorização docente

Apesar do simbolismo histórico, a valorização efetiva dos professores ainda enfrenta obstáculos. Especialistas destacam que o 15 de outubro mantém viva a dimensão afetiva e simbólica da profissão. No entanto, o reconhecimento estrutural continua sendo um desafio.

“Há uma dualidade entre a homenagem e a realidade”, observa Allara. “Enquanto o dia desperta gratidão e carinho, o magistério ainda luta por melhores condições de trabalho e políticas de valorização.”

Por outro lado, o legado de Salomão Becker e Antonieta de Barros permanece inspirando gerações. A data é um lembrete de que a educação é o pilar da transformação social e que cada professor é um agente fundamental da cidadania brasileira.

Assim, o Dia dos Professores segue como um símbolo de esperança, resistência e amor pelo conhecimento.

Fonte: BBC Brasil