Mãos trocando envelope pardo sobre mesa com prova de concurso, representando a máfia dos concursos no Brasil.
Arte mostra a troca simbólica de um envelope de suborno sobre prova de concurso, ilustrando o esquema da máfia dos concursos desmantelado pela Polícia Federal.

A Polícia Federal desmontou a máfia dos concursos, uma organização criminosa que vendia aprovações em seleções públicas por valores de até R$ 500 mil.
O grupo, com base na Paraíba, atuava de forma sofisticada, combinando tecnologia de ponta, corrupção e lavagem de dinheiro.
Com o tempo, o esquema se espalhou e passou a atingir concursos federais e estaduais em diversas regiões do país.

Estrutura familiar e hierarquia organizada

O grupo era liderado por Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021.
Ele coordenava irmãos, sobrinhos e a cunhada, todos com funções bem definidas.
Enquanto uns recrutavam candidatos, outros implantavam dispositivos eletrônicos e transmitiam as respostas das provas.
Com o uso de parentes como “exemplo de sucesso”, a quadrilha atraía novos interessados e ampliava sua rede de clientes.
Além disso, o grupo mantinha uma rotina estruturada, com divisão de lucros e estratégias para despistar as autoridades.

Como o esquema operava

As fraudes envolviam pontos eletrônicos implantados cirurgicamente nos ouvidos dos candidatos.
Durante as provas, cúmplices passavam as respostas corretas em tempo real.
Em certos casos, dublês treinados substituíam os inscritos e realizavam as provas no lugar deles.
Esses métodos garantiam gabaritos idênticos, inclusive nos erros, o que levantou suspeitas imediatas da PF.
Por outro lado, o grupo também manipulava a comunicação de forma codificada, o que dificultava a detecção inicial do crime.

Lavagem de dinheiro e fachada de legalidade

Para disfarçar os lucros, a quadrilha movimentava altas quantias em espécie, comprava imóveis, veículos de luxo e utilizava empresas de fachada.
De acordo com a PF, Geórgia Neves, uma das integrantes, depositou R$ 419 mil em dinheiro vivo, mesmo sem vínculo de trabalho há mais de vinte anos.
Além disso, o grupo usava uma clínica odontológica para legitimar transações e ocultar a origem dos recursos.
Essas práticas criaram um fluxo financeiro artificial, mas eficiente para manter a operação ativa por quase uma década.

Concursos fraudados em todo o país

Entre 2015 e 2025, a máfia atuou em dezenas de seleções, incluindo as da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e universidades federais.
O esquema também atingiu o Concurso Nacional Unificado (CNU), em 2024, quando pelo menos dez candidatos foram beneficiados.
Entre eles, estavam membros da família Limeira e comparsas ligados a outros grupos.
Por causa dessas descobertas, o Ministério da Gestão suspendeu resultados e bloqueou nomeações até a conclusão das investigações.

Provas e operação da PF

A Operação Última Fase, deflagrada em 2 de outubro, prendeu três suspeitos e afastou servidores envolvidos.
A PF apreendeu gabaritos idênticos, áudios comprometores e transferências bancárias suspeitas.
Segundo especialistas, a probabilidade de coincidência entre as respostas equivalia a ganhar 19 vezes seguidas na Mega-Sena, o que eliminava qualquer dúvida sobre fraude.
Portanto, a operação consolidou o caso como um dos maiores escândalos de corrupção em concursos públicos no país.

Defesa e repercussão

As defesas dos investigados negam participação no esquema.
Os advogados alegam falta de provas concretas e garantem que seus clientes colaboram com as autoridades.
Apesar disso, a Polícia Federal segue com novas diligências, analisando celulares, computadores e documentos apreendidos.
Enquanto isso, o governo estuda medidas para reforçar a segurança dos sistemas de aplicação de provas.

Consequências e próximos passos

A descoberta da máfia dos concursos reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade dos processos seletivos no Brasil.
Como resultado, a PF e o Ministério da Gestão prometem ampliar o uso de inteligência artificial e rastreabilidade digital para coibir fraudes.
Além disso, novas operações devem mirar outros grupos suspeitos, já identificados em investigações paralelas.
Por fim, o caso expõe a necessidade urgente de transparência e fiscalização constante nos concursos públicos.

Fonte: G1