Tarifaço dos EUA afeta exportações de 22 estados brasileiros

Sobretaxa de 50% imposta por Trump atinge fortemente regiões Norte e Nordeste e pressiona economia nacional

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Arte com contêineres e fitas de advertência “Tariffs” destaca impacto do tarifaço dos EUA sobre exportações brasileiras.
Imagem ilustra o impacto da sobretaxa de 50% dos EUA sobre exportações de 22 estados brasileiros.

As novas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas pelo governo dos Estados Unidos afetam diretamente pelo menos metade das exportações de 22 estados. Além disso, o impacto é ainda mais severo em oito estados, onde mais de 95% das vendas ao mercado americano estão sobretaxadas. Entre eles estão Tocantins, Alagoas, Acre, Amapá, Ceará, Rondônia, Paraíba e Paraná. Este tarifaço dos EUA traz consequências graves.

Norte e Nordeste são os mais penalizados

Enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste conseguem reduzir parte das perdas devido à lista de 694 isenções — que inclui produtos como aviões, petróleo e suco de laranja —, Norte e Nordeste enfrentam um cenário mais crítico. Nessas regiões, as exportações se concentram em produtos de baixo valor agregado. Além disso, a maioria deles, como frutas, pescados, calçados, mel e derivados agroindustriais, ficou de fora das isenções, agravando o tarifaço dos EUA.

No Ceará, 98,6% das exportações para os EUA sofrerão sobretaxa, abrangendo ferro, aço, frutas e mel. Já em Tocantins, 100% das vendas aos americanos — como carne bovina, sebo animal e gelatina — foram incluídas no tarifaço, o que agrava a situação.

Impacto no Sul e Sudeste

O Sul enfrenta tarifas sobre 88% das exportações, o que afeta diretamente a competitividade regional. No Paraná, 96% do valor vendido aos EUA foi incluído na medida. Essa sobretaxa atinge principalmente madeira, móveis, calçados e têxteis. No Rio Grande do Sul, a cobrança extra pode reduzir até 1,1% do PIB estadual em um ano. Além disso, prejudica cadeias produtivas como fumo, armas e calçados concentradas em São Leopoldo.

Em São Paulo, maior exportador brasileiro para os EUA, a medida atinge 56% das vendas, equivalentes a US$ 7,5 bilhões. Embora o estado conte com isenções em produtos estratégicos, as perdas continuam significativas devido ao tarifaço dos EUA.

Setores e empresas em alerta

Empresários de diferentes segmentos demonstram preocupação crescente. Mauro Lúcio Peçanha, da Atum do Brasil (ES), teme inviabilizar o envio de 80% da produção de pescados para os EUA. Já no setor coureiro, Cezar Müller, da A.P. Müller (RS), reduziu jornadas e concedeu férias coletivas após perder 90% do mercado americano.

A fabricante de equipamentos eletrônicos Novus (RS) adiantou embarques para estocar produtos nos EUA. No entanto, o estoque garante apenas três meses de vendas. A Randa (PR), produtora de portas e molduras, reduziu a produção e alerta que o efeito se espalhará para outros negócios locais.

No café, produtores de grãos especiais como Raquel Meirelles, de Minas Gerais, buscam alternativas como exportar via Colômbia. Ainda assim, enfrentam dúvidas sobre custos adicionais e manutenção de contratos, o que pode reduzir a rentabilidade em função do tarifaço dos EUA.

Consequências econômicas e cenário futuro

Especialistas alertam que, mesmo com impacto moderado no PIB total de alguns estados, o efeito regional e setorial é elevado. Assim, cadeias produtivas inteiras podem perder competitividade e cortar empregos. Portanto, o governo precisa adotar medidas de apoio direto e acelerar negociações diplomáticas com os EUA.

Caso o tarifaço continue, empresas poderão transferir parte da produção para território americano ou buscar novos mercados. Contudo, esse processo pode levar até um ano para surtir efeito e exigirá investimentos adicionais.

Fonte: Brasil Agro