Imagem mostra cena de violência infantil, com criança encolhida no canto e mão adulta se aproximando para agredir.
Mesmo com a Lei da Palmada em vigor, pesquisa revela que 29% dos cuidadores de crianças admitem o uso de castigos físicos como disciplina.

Quase um terço dos cuidadores ainda bate em crianças no Brasil

Mesmo com a Lei da Palmada em vigor desde 2014, 29% dos cuidadores de crianças de até 6 anos admitem utilizar castigos físicos como palmadas, beliscões e apertos. O problema da violência infantil no Brasil ainda é alarmante. O dado alarmante vem do estudo Panorama da Primeira Infância, realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em parceria com o Instituto Datafolha.

Além da lei, persiste o desconhecimento

Além da resistência à lei, a pesquisa revelou um dado ainda mais preocupante: 84% dos entrevistados desconhecem que a primeira infância é o período mais importante do desenvolvimento humano. Pior ainda, apenas 2% souberam informar corretamente que essa fase vai até os seis anos de idade, o que perpetua a violência infantil.

De acordo com Mariana Luz, diretora-executiva da fundação, esse dado mostra como a cultura da violência ainda prevalece. “Não ajuda e não resolve. A gente continua repetindo padrões que não funcionam”, destaca.

Embora proibidos, castigos ainda são vistos como disciplina

Mesmo diante das evidências científicas sobre os danos causados, 17% dos entrevistados consideram os castigos uma estratégia eficaz. Essa aceitação revela aspectos culturais que facilitam a violência infantil. Outros 13% afirmam que os aplicam sempre, o que indica uma naturalização do comportamento violento.

Ainda segundo a pesquisa, 40% dos que utilizam castigos físicos acreditam que a consequência é ensinar respeito à autoridade. Entretanto, 33% reconhecem que a agressividade é um efeito comum e 21% admitem que há impactos na autoestima da criança, evidenciando os danos duradouros da violência infantil.

Contudo, conversar ainda é a prática mais comum

Apesar do índice preocupante de violência, o estudo também mostra um dado positivo: 96% dos cuidadores entrevistados afirmam que explicam os erros às crianças. Na luta contra a violência infantil, é importante promover práticas positivas. Além disso, 93% dizem que procuram acalmá-las ou tirá-las da situação antes de aplicar punições.

Por outro lado, a prática do brincar ainda é subvalorizada. Para a maioria, ensinar a respeitar os mais velhos (96%) é mais importante que estimular o desenvolvimento cognitivo por meio da ludicidade.

Tempo de tela e ausência do Estado agravam o cenário

Além da violência, o levantamento aponta que as crianças passam, em média, duas a três horas por dia diante das telas. Contudo, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de 2 a 5 anos não ultrapassem uma hora por dia, sempre com supervisão. Para as menores de dois anos, o ideal é nenhum contato com dispositivos eletrônicos.

Conforme a diretora Mariana Luz, muitas vezes os cuidadores não têm outra opção. “A inclusão da criança na rotina doméstica pode ser uma alternativa. Mesmo assim, o Estado precisa garantir vagas em creches”, defende.

Desde 2022, o Supremo Tribunal Federal decidiu que é dever do Estado oferecer vagas em creches e pré-escolas para todas as crianças de até 5 anos. No entanto, a realidade ainda está distante desse ideal, o que contribui para a violência infantil.

Investimento na infância gera retorno coletivo

Além da proteção, o cuidado nos primeiros anos de vida tem retorno comprovado. Conforme estudos do Nobel de Economia James Heckman, cada dólar investido na primeira infância gera sete dólares de retorno social. Isso se traduz em melhorias na educação, segurança, saúde e empregabilidade futura.

Mariana conclui: “A infância não pode esperar. É preciso atuar de forma integrada: sociedade, família e Estado têm responsabilidade sobre nossas crianças”.