Machismo entre jovens atinge níveis inéditos, alerta pesquisadora - TVDOPOVO.COM
back to top
sábado , 5 julho, 2025
Misoginia entre meninos acelera com IA e redes sociais
Misoginia entre meninos acelera com IA e redes sociais

Machismo entre jovens cresce e preocupa especialistas

A pesquisadora britânica Laura Bates, fundadora do projeto “Everyday Sexism”, afirma que o mundo vive hoje um movimento inédito: o crescimento do machismo entre os mais jovens. Segundo ela, atitudes misóginas que antes se concentravam em gerações mais velhas agora são comuns entre adolescentes.

Legenda da foto, Nos últimos anos, Laura Bates tornou-se uma das principais vozes do feminismo no Reino Unido

“Temos a ideia de que os jovens são mais progressistas. No entanto, pela primeira vez na História, vemos os mais novos com atitudes mais retrógradas do que os mais velhos”, afirmou Bates em entrevista ao podcast Radical with Amol Rajan, da BBC Radio 4.

Cultura digital estimula misoginia juvenil

Para a pesquisadora, algoritmos de redes sociais são um dos principais motores dessa radicalização. Além disso, ao criar um perfil com dados de um menino de 14 anos, por exemplo, Bates relata que é possível receber conteúdo misógino em menos de 30 minutos. “Não é preciso procurar. O material chega até você”, alerta.

Ela explica que essas ideias extremistas se espalham com facilidade. Plataformas afirmam ter regras e moderação. Contudo, muitas vezes não conseguem ou não querem conter o avanço da misoginia digital.

Consequentemente, adolescentes são expostos diariamente a conteúdos que reforçam estereótipos e desvalorizam as mulheres.

Misoginia em construção: o sinal de alerta que a série Adolescência trouxe

Assédio e violência moldam a percepção feminina

A trajetória de Bates no feminismo começou após três episódios seguidos de assédio. Ela foi seguida, apalpada e ouviu comentários obscenos em público. “Só percebi a gravidade do que vivia quando os eventos aconteceram em sequência. E eles não foram os únicos.”

Além disso, ela destaca que as mulheres crescem com cuidados diários para evitar riscos. Entre eles, estão evitar certos locais, usar tênis para correr de agressores ou não usar fones de ouvido nas ruas.

Essas precauções, segundo Bates, demonstram como o medo molda a vida cotidiana das mulheres desde muito cedo.

IA amplia desigualdades e reforça o sexismo

Na entrevista, Bates abordou também o papel da inteligência artificial nesse cenário. Ela alerta que ferramentas de IA já são usadas em seleções de emprego, análise de crédito e criação de imagens pornográficas falsas. “O sexismo está na base da configuração dessas tecnologias.”

Aplicativos que simulam nudez de mulheres a partir de fotos comuns já estão disponíveis em lojas digitais. Como exemplo, ela cita meninas de 11 anos, na Espanha, que tiveram imagens manipuladas e expostas. Isso gerou traumas e evasão escolar.

Além disso, ela observa que a disseminação dessas ferramentas reforça o sentimento de posse sobre o corpo feminino e incentiva a perseguição e o abuso no mundo real.

Responsabilidade das plataformas e novas masculinidades

Para Bates, combater o machismo juvenil exige responsabilizar as empresas de tecnologia. “Essas corporações não podem alegar que o problema é grande demais para ser resolvido. Elas têm recursos e devem priorizar a segurança.”

Adicionalmente, ela defende a criação de novas referências masculinas e mais diálogo com meninos. “Pais, tios, professores e treinadores esportivos podem ter papel fundamental na formação de jovens mais conscientes e empáticos.”

Apesar dos riscos atuais, Bates vê sinais de esperança. “Há um movimento crescendo. Uma voz coletiva que quer mudar o sistema e proteger meninas e mulheres de todo o mundo.”

Se você precisa de ajuda: