A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, nesta quarta-feira (21), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com a reeleição no Brasil para prefeitos, governadores e presidente da República.
Além disso, a proposta amplia os mandatos de todos os cargos eletivos para cinco anos e unifica as eleições municipais e gerais a partir de 2034. Agora, o texto segue para votação no plenário, onde precisará de ao menos 49 votos favoráveis, em dois turnos, para avançar.
Fim da reeleição: como será a transição
A PEC estabelece datas-limite para a última possibilidade de reeleição no Executivo. A mudança valerá de forma escalonada:
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Prefeitos: poderão se reeleger pela última vez em 2028, se eleitos em 2024.
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Governadores e presidente da República: terão última chance de reeleição em 2030, se eleitos em 2026.
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Vereadores, deputados e senadores: continuam aptos à recondução.
Essa medida visa garantir maior alternância no poder e evitar o uso político da máquina pública em campanhas.
Ampliação dos mandatos e novo calendário eleitoral
A PEC propõe ampliar os mandatos de 4 para 5 anos, com aplicação gradual até 2034. Veja como será a transição:
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Presidentes e governadores eleitos em 2026 e 2030 continuam com mandatos de 4 anos. A partir de 2034, passam a cumprir 5 anos.
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Prefeitos e vereadores eleitos em 2028 terão mandato de 6 anos. Já os eleitos em 2034 cumprirão 5 anos.
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Deputados estaduais e federais terão seus mandatos estendidos para 5 anos também a partir de 2034.
Portanto, essa mudança trará maior estabilidade no planejamento e execução de políticas públicas, além de uniformizar o ciclo político nacional.
Novo formato para o Senado
A proposta também altera os mandatos dos senadores. Após acordo no colegiado, o relator Marcelo Castro (MDB-PI) acatou a sugestão de reduzir os mandatos dos atuais 8 anos para 5 anos.
A transição ocorrerá da seguinte forma:
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2026: senadores eleitos terão 8 anos de mandato.
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2030: os eleitos cumprirão 9 anos.
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2034: todos os eleitos terão mandatos de 5 anos.
Com isso, a partir de 2039, o Senado será completamente renovado a cada eleição, o que hoje não acontece, pois apenas uma parte das cadeiras é disputada em cada ciclo.
Eleição unificada a cada cinco anos
Atualmente, os brasileiros votam em prefeitos e vereadores em anos diferentes das eleições para presidente, deputados e senadores. Essa lógica mudará em 2034, quando ocorrerá a primeira eleição nacional unificada.
Ou seja, em uma única data, os eleitores escolherão todos os seus representantes: vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e presidente.
De acordo com o relator, essa medida reduz os custos da Justiça Eleitoral e diminui a polarização política constante. A proposta ainda cria um intervalo fixo de cinco anos entre todas as eleições, o que evitará que o país entre em clima eleitoral a cada dois anos.
Reeleição: da criação à crítica
A possibilidade de reeleição no Brasil surgiu em 1997, com uma emenda que permitiu ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disputar novo mandato e ser reeleito em 1998. Anos depois, FHC reconheceu que a mudança foi um erro e passou a defender a revogação da medida.
Desde então, todos os presidentes em primeiro mandato conseguiram se reeleger, com exceção de Jair Bolsonaro (PL), derrotado em 2022.
Nos últimos anos, aumentaram as críticas à reeleição. Em 2024, por exemplo, 2.461 prefeitos foram reeleitos, um recorde histórico. Dois anos antes, o Brasil também registrou 18 governadores reeleitos.
Senado quer estimular renovação política
Segundo o relator Marcelo Castro, o fim da reeleição favorece a elaboração de projetos de longo prazo. Ele defende que, sem a pressão de buscar novo mandato, os governantes terão mais liberdade para focar em políticas estruturantes.
“A experiência com a reeleição não atingiu as expectativas. Além de impedir a renovação, gerou um viés eleitoreiro nas decisões dos governantes”, afirmou.
Liderança da CCJ apoia o fim da reeleição
Para o presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), o atual sistema desgasta tanto eleitores quanto candidatos. Ele avalia que eleições a cada dois anos criam um ambiente político permanentemente tenso, dificultando a governabilidade.
“Hoje, nem bem termina uma eleição, já começa outra. O Brasil precisa de estabilidade para que seus líderes governem com foco, não em disputas”, ressaltou.