Sul terá enchentes mais severas até 2100, diz estudo

Projeções indicam até cinco vezes mais eventos extremos no Sul, com cheias mais altas e períodos secos mais longos.

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Mapa da região Sul sob chuva intensa com destaque para projeções de enchentes até 2100
Arte mostra mapa da região Sul sob chuva intensa, destacando projeções de enchentes mais severas até 2100.

Um novo estudo do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS revela que o Sul do Brasil deve enfrentar enchentes mais severas até 2100. Além disso, as projeções climáticas mostram que os eventos extremos tendem a ocorrer com mais frequência e intensidade. Como resultado, o risco para cidades vulneráveis aumenta, sobretudo porque os períodos secos também devem ficar mais longos.

Região Sul pode registrar até cinco vezes mais eventos extremos

De acordo com os pesquisadores, a região Sul pode experimentar até cinco vezes mais eventos extremos nos próximos anos. Para chegar aos resultados, os especialistas cruzaram diversos modelos climáticos com simulações hidrológicas. Assim, identificaram que a vazão das cheias frequentes deve crescer 14% no Rio Grande do Sul, 17% em Santa Catarina e 18% no Paraná.

Além disso, o estudo indica que o nível das cheias pode subir até 3 metros em áreas serranas. Já nas regiões planas, a elevação varia entre 50 centímetros e 1 metro. Embora os percentuais pareçam pequenos, eles representam danos consideráveis quando aplicados a municípios que já sofrem com enchentes recorrentes.

Cidades vulneráveis enfrentam risco maior

 

Muitas cidades gaúchas convivem com enchentes quase todos os anos. Por isso, os impactos projetados podem ser ainda mais intensos nesses locais. As regiões próximas aos rios Jacuí, Caí e Taquari — além das áreas ribeirinhas de Porto Alegre — ainda se recuperam da maior cheia já registrada no estado.

O evento deixou 185 mortos, 23 desaparecidos e mais de 540 mil desalojados. Além disso, afetou 2,3 milhões de pessoas. Dessa forma, o estudo reforça que pequenas mudanças na vazão dos rios ampliam drasticamente o risco humano, ambiental e econômico.

Santa Catarina e Paraná também estão no centro das projeções

Vista aérea de bairro alagado no Sul do Brasil após forte enchente
Vista aérea mostra casas, comércios e ruas tomadas pela água após uma forte enchente em cidade da região Sul, evidenciando a gravidade dos eventos climáticos extremos.

Em Santa Catarina, a bacia do Itajaí-Açu aparece como uma das áreas mais sensíveis. Em novembro, um temporal colocou 11 municípios em situação de emergência. Como consequência, mais de 360 casas foram danificadas. O estudo indica que esses episódios podem se tornar mais frequentes conforme as projeções climáticas avançam.

Enquanto isso, a bacia do rio Uruguai apresenta aumento de 15% nas cheias regulares e 14% nas cheias raras. Entre os rios avaliados, o rio Uruguai é o único que deve registrar aumento na disponibilidade hídrica, estimado em 7,9%. Entretanto, esse ganho não elimina os riscos, já que chuvas muito intensas podem provocar deslizamentos e transbordamentos.

No Paraná, o cenário é diferente. Apesar do aumento nas cheias, o estado deve enfrentar seca mais dura. As projeções apontam queda de 2% na precipitação anual e até dez dias extras de estiagem. Por isso, agricultores e cidades que dependem de reservatórios podem sofrer impactos expressivos.

Projeções combinam dados históricos e modelos avançados

Os pesquisadores utilizaram um modelo hidrológico sofisticado, além de 28 Modelos Climáticos Globais. Em seguida, compararam os resultados com dados coletados entre 1951 e 2014. Apesar disso, o relatório reconhece limitações naturais, como incertezas do próprio clima. Ainda assim, os especialistas afirmam que os sinais de mudança são consistentes e preocupantes.

Por outro lado, o estudo reforça que políticas de adaptação podem reduzir danos. Investimentos em infraestrutura, drenagem eficiente, monitoramento constante e planos municipais de prevenção ajudam a evitar tragédias e prejuízos.

Assim, os pesquisadores destacam que a preparação antecipada é fundamental para enfrentar um cenário de mudanças climáticas cada vez mais intenso.

Fonte: Folha