Motoristas de aplicativo em carreata com braços erguidos para protesto e destaque circular de Leonardo Sakamoto falando em estúdio.
Motoristas de aplicativo realizam protesto enquanto análise de Leonardo Sakamoto destaca exploração e falsa promessa de autonomia no trabalho por plataformas.

Rotina exaustiva evidencia modelo de exploração

Motoristas de aplicativo enfrentam uma rotina marcada por longas jornadas, ganhos reduzidos e pressão constante. Embora muitos tenham começado acreditando em autonomia e liberdade de horários, o cenário atual revela um modelo de trabalho que, na prática, concentra lucro nas plataformas e deixa os profissionais cada vez mais vulneráveis.

O cientista político Leonardo Sakamoto analisa esse fenômeno no livro “O que os coaches não te contam sobre o futuro do trabalho”. A obra, escrita em parceria com o jornalista Carlos Juliano Barros, reúne reflexões sobre as transformações do mercado e os impactos diretos das novas formas de contratação no Brasil.

Divisão desigual dos ganhos agrava a precarização

Além das longas horas dirigindo, motoristas convivem com uma distribuição desigual dos valores das corridas. As empresas ficam com grande parte do faturamento, enquanto os trabalhadores recebem menos do que reivindicam. Desse modo, muitos precisam aumentar as horas na rua apenas para manter a renda mínima.

Ao mesmo tempo, grande parte desses profissionais atua sem direitos básicos, sem contribuição previdenciária e sem qualquer proteção em caso de doença ou acidente. Por isso, a promessa de autonomia acaba se transformando em insegurança e dependência.

Sakamoto destaca que a narrativa de “empreendedorismo” funciona como um escudo que esconde responsabilidades. Segundo ele, a culpa pelo baixo rendimento não está na suposta falta de esforço dos motoristas, mas na estrutura desigual do modelo.

Velhas práticas persistem apesar do avanço tecnológico

Embora o trabalho por aplicativo seja apresentado como parte de uma nova era digital, o pesquisador lembra que muitas formas antigas de exploração continuam presentes. A pejotização, a contratação de freelancers fixos sem direitos e até situações análogas à escravidão mostram que avanços tecnológicos não garantem automaticamente progresso social.

Por outro lado, o país ainda enfrenta resistência quando o assunto é ampliar direitos. Sakamoto cita que mudanças como a ampliação das garantias das trabalhadoras domésticas revelaram tensões profundas, especialmente entre setores da elite econômica. Assim, mesmo com novas plataformas e ferramentas digitais, a disputa por dignidade permanece.

Tecnologia precariza, mas também fortalece mobilizações

A tecnologia que aumenta a pressão sobre motoristas é a mesma que tem sido usada para uni-los. Depois da reforma trabalhista, que enfraqueceu sindicatos, muitos trabalhadores passaram a se mobilizar pelas redes sociais. Portanto, mesmo sem estruturas tradicionais de organização, as categorias encontraram meios para pressionar e reivindicar mudanças.

As principais demandas incluem a definição de um valor mínimo por corrida, maior transparência das plataformas e condições de trabalho mais seguras. Ainda assim, o processo avança lentamente e depende de pressão social contínua.

Proteção social precisa acompanhar o ritmo da tecnologia

O Brasil conta com instituições importantes de fiscalização e proteção trabalhista, como o Ministério Público do Trabalho e a Justiça do Trabalho. No entanto, garantir direitos diante de novas formas de contratação exige políticas mais claras, regulamentações atualizadas e diálogo com diferentes setores da sociedade.

Enquanto isso, o crescimento do trabalho mediado por plataformas mantém o tema no centro do debate. Assim, estudos e análises como as de Sakamoto reforçam a necessidade de repensar modelos econômicos que impactam diretamente milhões de pessoas.

Fonte: Agência Brasil