O impacto silencioso da gordura no fígado
A esteatose hepática, conhecida como gordura no fígado, afeta cerca de 30% dos brasileiros e, portanto, se tornou uma das condições mais preocupantes entre especialistas. Embora muitos imaginem que o problema esteja restrito ao fígado, ele vai muito além disso. Na prática, o acúmulo de gordura no órgão desencadeia uma série de processos inflamatórios que podem sobrecarregar o coração e ampliar o risco de doenças cardiovasculares.
De acordo com o cardiologista Rafael Marchetti, o perigo cresce porque a inflamação é silenciosa e avança de forma gradual. Dessa maneira, hipertensão, infarto e AVC tornam-se consequências possíveis, especialmente quando não há acompanhamento médico ou mudanças no estilo de vida.
Gordura no fígado intensifica danos e pressiona o sistema cardiovascular
Especialista explica como a gordura no fígado pode impactar a saúde do coração
Quando o fígado passa a acumular gordura, ele libera substâncias inflamatórias que circulam pelo sangue e, assim, atingem diversas partes do corpo. Conforme explica Marchetti, essas substâncias podem danificar as paredes das artérias carótidas, responsáveis por levar sangue ao cérebro. Com o tempo, essas artérias ficam mais espessas e rígidas, o que aumenta significativamente o risco de AVC.
Além disso, o médico reforça que o impacto não se limita ao fígado. A gordura visceral — localizada na região abdominal — também exerce papel ativo na liberação de moléculas inflamatórias. Por essa razão, ela contribui para a degradação das artérias do coração e do cérebro, criando um ambiente favorável para a formação de placas que podem obstruir os vasos.
Gordura abdominal aumenta o risco de infarto e AVC
Embora muitos associem gordura abdominal apenas ao visual, Marchetti explica que ela funciona como um tecido metabolicamente ativo. Por isso, quanto maior o acúmulo visceral, maior a produção de substâncias inflamatórias. Assim, cresce o risco de infarto e AVC, especialmente entre pessoas sedentárias ou que apresentam outros fatores de risco.
O médico destaca ainda que a relação entre fígado e coração é direta. À medida que a gordura se acumula, a inflamação aumenta e, consequentemente, o sistema cardiovascular sofre mais pressão. Portanto, atenção aos sinais é fundamental.
Mudanças no estilo de vida podem reverter o quadro
Apesar dos riscos, a esteatose hepática pode ser revertida. Segundo o especialista, a estratégia mais eficaz é alcançar o chamado déficit calórico, que ocorre quando o gasto energético diário supera a ingestão de calorias. Embora isso pareça complexo, pequenas ações fazem grande diferença ao longo do tempo. Caminhar mais, subir escadas, reduzir o tempo sentado e incluir movimentos durante o dia, por exemplo, já ajudam a acelerar a melhora.
Além disso, a alimentação desempenha papel decisivo. Ajustes simples, mas consistentes, contribuem para reduzir a inflamação e proteger o coração. Entre eles estão:
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Reduzir o consumo de açúcar
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Evitar o álcool com frequência
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Aumentar a ingestão de vegetais, fibras e alimentos integrais
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Priorizar proteínas de qualidade
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Incluir gorduras boas, como azeite e abacate
Segundo Marchetti, a perda de 5% a 10% do peso corporal já é suficiente para diminuir a inflamação e melhorar o funcionamento das artérias.
Melhora significativa pode surgir entre três e seis meses
Com disciplina, alimentação equilibrada e prática regular de exercícios, é possível notar mudanças expressivas entre três e seis meses. Além disso, ao reduzir a gordura acumulada, o organismo responde rapidamente: os vasos passam a funcionar melhor, a inflamação diminui e até a pressão arterial tende a se estabilizar.
Por fim, Marchetti reforça que cuidar do fígado significa proteger o coração. “Quando você elimina essa gordura, o coração agradece”, conclui o cardiologista.