Por que diabetes tipo 1 é mais grave em crianças

Novo estudo explica por que o pâncreas imaturo torna a doença mais agressiva nos primeiros anos de vida

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O diabetes tipo 1 sempre levantou uma dúvida importante entre médicos e famílias: por que a doença costuma evoluir de forma mais rápida e severa em crianças pequenas, especialmente nas que têm menos de sete anos. Agora, uma pesquisa publicada na revista Science Advances oferece uma resposta inédita para essa questão — e abre caminho para novos tratamentos.

Desenvolvimento do pâncreas torna crianças mais vulneráveis

Cientistas da Universidade de Exeter analisaram amostras de pâncreas de 250 doadores para entender como as células beta — responsáveis por produzir insulina — amadurecem ao longo da vida. Eles descobriram que, na primeira infância, o pâncreas ainda está em formação, e as células beta existem em pequenos aglomerados frágeis.

Essas células imaturas são destruídas rapidamente quando o sistema imunológico inicia o ataque característico do diabetes tipo 1. Por serem mais vulneráveis, elas não chegam a se desenvolver totalmente. Como resultado, a criança perde a capacidade de produzir insulina em um ritmo muito mais acelerado do que adolescentes ou adultos diagnosticados com a doença.

Ilhotas maiores oferecem proteção parcial

Com o passar dos anos, as células beta amadurecem e se organizam em estruturas maiores, chamadas ilhotas de Langerhans. Quando o ataque imunológico acontece em pessoas mais velhas, parte dessas ilhotas consegue resistir por mais tempo.

Essa diferença explica por que adolescentes e adultos podem manter algum nível de produção de insulina por meses ou até anos, enquanto crianças pequenas perdem rapidamente essa função.

A pesquisadora Sarah Richardson, que liderou o estudo, afirma que as conclusões “esclarecem finalmente por que o diabetes tipo 1 é tão agressivo na infância”.

Esperança com novos tratamentos

Os avanços também fortalecem o uso de medicamentos de imunoterapia para atrasar o início da doença. O Reino Unido já aprovou o teplizumabe, um tratamento que desacelera o ataque às células beta e pode dar ao pâncreas tempo para amadurecer. O medicamento ainda não está disponível no sistema público britânico, mas representa uma perspectiva promissora.

Entidades como a Diabetes UK e a Breakthrough T1D classificaram o estudo como uma “peça que faltava no quebra-cabeça”, pois ajuda a direcionar pesquisas para terapias mais eficazes em crianças.

Diagnóstico precoce continua decisivo

Especialistas reforçam que reconhecer os sintomas cedo — como sede excessiva, cansaço, emagrecimento e aumento da urina — é fundamental para evitar quadros graves como cetoacidose diabética.

Com triagem mais ampla, novos medicamentos e maior conhecimento sobre o funcionamento do pâncreas infantil, pesquisadores acreditam que o futuro do tratamento do diabetes tipo 1 em crianças será mais seguro e menos invasivo.