Silhuetas armadas diante de uma favela iluminada e mapa do Brasil em vermelho, simbolizando a expansão do Comando Vermelho.
Capa jornalística retrata a origem e expansão do Comando Vermelho, em meio à violência urbana e às operações policiais no Rio de Janeiro.

Megaoperação reacende debate sobre o poder das facções

Na terça-feira (28), o Rio de Janeiro viveu um dos dias mais violentos de sua história recente. A Operação Contenção, organizada pelas polícias Civil e Militar, resultou em 64 mortos e 81 presos, quase o triplo do número inicial de vítimas. O objetivo era impedir o avanço territorial do Comando Vermelho (CV), grupo que domina comunidades e impõe regras em diversas regiões da cidade.

Entretanto, a ação gerou um clima de caos. Enquanto tiroteios se espalhavam pela Tijuca e pelo centro, ônibus foram bloqueados e lojas encerraram o expediente antes do previsto. Nos metrôs lotados, os moradores trocaram palavras de coragem e desejaram sorte uns aos outros para voltar para casa em segurança.

Megaoperação no Rio provocou recorde de mortes

Assim, o episódio se tornou símbolo da fragilidade do Estado diante do poder das facções, reacendendo o debate sobre o uso da força e a eficácia das estratégias de segurança pública.

Das celas à favela: o nascimento do Comando Vermelho

O Comando Vermelho surgiu entre as décadas de 1970 e 1980, dentro do sistema prisional do Rio de Janeiro. Naquele período, presos políticos e criminosos comuns foram colocados nas mesmas celas durante a ditadura militar. Essa convivência forçada acabou criando um senso de união e lealdade entre os detentos, que passaram a compartilhar ideias, estratégias e objetivos.

O Comando Vermelho nasceu no interior dos presídios — “no coração do Estado”, segundo a socióloga Carolina Grillo

Com o passar dos anos, porém, o ideal político foi se perdendo. A facção então adotou uma estrutura voltada para o tráfico de drogas e o controle das favelas, especialmente na Penitenciária Cândido Mendes, na Ilha Grande, onde nasceu oficialmente.
Desde então, o CV se transformou em um poder paralelo dentro e fora dos presídios, mantendo códigos próprios de conduta e uma forte rede de comunicação.

A expansão pelo território nacional

Ao longo das décadas seguintes, o Comando Vermelho ampliou seu domínio para além do Rio de Janeiro. A facção aproveitou brechas no sistema prisional e a ausência de políticas públicas eficazes para expandir sua influência. Além disso, travou guerras contra rivais como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e estabeleceu alianças estratégicas em diversas regiões.

Mais de 100 fuzis apreendidos e 81 pessoas foram presas na operação desta semana

Atualmente, o grupo atua em cerca de 20 Estados brasileiros e controla rotas internacionais de drogas, especialmente nas fronteiras do Norte e do Centro-Oeste.
Por causa da sua estrutura descentralizada, o CV consegue se reorganizar rapidamente sempre que líderes são presos ou mortos. Essa flexibilidade explica por que, mesmo após décadas de repressão, a facção continua ativa e com grande capacidade de articulação.

O poder paralelo nas comunidades

De acordo com especialistas em segurança pública, o Comando Vermelho se fortalece ao ocupar espaços deixados pelo Estado. Em muitas comunidades, o grupo atua como autoridade local, impondo regras, distribuindo alimentos e até interferindo na segurança dos moradores. Dessa forma, cria uma relação complexa com a população, misturando medo e dependência.

Além disso, o grupo mantém uma identidade simbólica forte, baseada em códigos de conduta e valores de “irmandade”. Essa estrutura garante coesão entre os membros e dificulta a infiltração de agentes externos.

Segundo um pesquisador ouvido pela BBC, “o Rio virou um abrigo para chefes do tráfico do Brasil inteiro”. Essa afirmação reforça a necessidade de ações integradas entre os governos federal e estaduais, já que operações isoladas não são capazes de conter um fenômeno tão enraizado.

O futuro da segurança pública

A megaoperação no Rio de Janeiro reacendeu discussões sobre os limites do uso da força e os impactos das operações policiais em áreas densamente povoadas. De um lado, o governo estadual defende a ação, alegando que ela foi necessária para enfraquecer o poder das facções. De outro, organizações de direitos humanos pedem investigações sobre possíveis abusos e violações cometidos durante a operação.

Diante desse cenário, fica evidente que o combate ao crime organizado precisa ir além da repressão. É essencial investir em educação, oportunidades e políticas sociais, especialmente nas áreas dominadas por facções.
Somente assim será possível enfraquecer a influência do Comando Vermelho e garantir segurança pública de forma sustentável.

Fonte: BBC Brasil