Homem encapuzado segura galão de agrotóxico ao lado de caixas marcadas com rótulos falsos, representando o mercado ilegal de defensivos agrícolas no Brasil.
rte jornalística mostra a infiltração do PCC no comércio de agrotóxicos ilegais, tema investigado pelo Ministério Público de São Paulo.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) confirmou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) atua no lucrativo mercado de agrotóxicos falsificados e contrabandeados. As investigações apontam que o esquema movimenta cerca de R$ 20,8 bilhões por ano em todo o país e envolve diferentes etapas, desde o roubo de cargas até a venda de produtos adulterados.

A operação que revelou o esquema ocorreu em Franca (SP), durante uma investigação sobre agiotagem. Durante as interceptações telefônicas, integrantes da facção foram flagrados negociando defensivos agrícolas usados em lavouras de café. Dois suspeitos acabaram presos, e os promotores identificaram pagamentos de até R$ 40 mil por cargas roubadas, além de ameaças contra compradores inadimplentes.

Esquema dividido em núcleos especializados

Criminosos que atuam no mercado paralelo de agrotóxicos costumam se dividir em diversos núcleos, explica promotor.

De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira (Idesf), o mercado paralelo de agrotóxicos opera com base em quatro crimes principais.
Primeiro, há o roubo de cargas de produtos químicos legalizados. Em seguida, ocorre a falsificação dos defensivos, feita com misturas de substâncias lícitas e ilícitas. Além disso, as quadrilhas realizam o contrabando de mercadorias proibidas no país e o desvio de finalidade, quando produtos legais servem para fabricar agrotóxicos falsos.

As facções dividem as funções em núcleos operacionais, o que torna a estrutura altamente organizada. Alguns grupos criam embalagens falsas, outros emitem notas fiscais fraudulentas, enquanto diferentes células adulteram o conteúdo químico.

Segundo o presidente do Idesf, Luciano Stremel Barros, o contrabando é o método preferido das quadrilhas. “O criminoso importa produtos baratos de fronteiras como o Paraguai, reembala com marcas conhecidas no Brasil e revende com alto lucro, sem precisar misturar substâncias”, explicou.

Rotas de contrabando e danos ambientais

O contrabando acontece principalmente pela BR-163, rota que liga o Paraguai ao Brasil. O país vizinho liberou em 2019 o uso do princípio ativo benzoato de emamectina, substância que impulsionou o comércio ilegal. Entre 2018 e 2021, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu 54,8 mil quilos de agrotóxicos ilegais somente nessa estrada.

Além disso, o descarte irregular de embalagens agrava o problema. O promotor Adriano Mellega, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), explica que, “quando as embalagens não seguem para reciclagem, elas acabam nas mãos de quadrilhas, que as reutilizam para falsificar produtos e ampliar o lucro”.
Com isso, o ciclo ilegal se mantém ativo e provoca impactos diretos no solo, na água e na saúde da população rural.

Setor pede reforço urgente na fiscalização

A CropLife Brasil, entidade que reúne empresas de pesquisa e inovação agrícola, alerta para a expansão rápida desse mercado clandestino. A organização defende ações conjuntas entre órgãos públicos e forças de segurança para conter o avanço.
“É fundamental intensificar as fiscalizações e desmantelar a cadeia criminosa que ameaça produtores, consumidores e o meio ambiente”, afirmou a entidade.

Enquanto isso, o UOL procurou a Polícia Federal e a PRF para comentar as investigações. As instituições ainda não haviam se manifestado até o fechamento da reportagem.

PCC amplia fronteiras do crime organizado

A infiltração do PCC no agronegócio representa um novo capítulo na atuação da facção. O grupo explora rotas internacionais, brechas legais e a vulnerabilidade do campo para expandir suas operações. Essa prática compromete a segurança alimentar, distorce a concorrência e fragiliza o produtor que atua dentro da lei.
Por isso, especialistas alertam: o combate ao contrabando e à falsificação precisa ocorrer de forma integrada, com inteligência e cooperação entre estados e fronteiras.

Fonte: UOL