Tartaruga-da-Amazônia inicia a desova ao amanhecer no Vale do Guaporé, em Rondônia, sob luz dourada e monitoramento ambiental.
Tartarugas-da-Amazônia retomam o ciclo de desova após dois meses de atraso no Vale do Guaporé, em Rondônia. O fenômeno mobiliza ambientalistas e voluntários na proteção dos ninhos.

O amanhecer no Vale do Guaporé, em Rondônia, marca o início de um espetáculo natural aguardado por meses. Depois de dois meses de atraso, as tartarugas-da-Amazônia finalmente retomaram o ciclo de desova, enchendo as praias do rio de vida, esperança e alerta ambiental. Enquanto o sol nasce, a paisagem revela o equilíbrio delicado entre o tempo da natureza e o impacto das mudanças climáticas.

Saiba mais: Neste vídeo, mostramos imagens impressionantes da natureza amazônica e refletimos sobre o impacto ambiental que ameaça a reprodução de uma das espécies mais simbólicas da região.

Ritual de resistência na natureza amazônica

Inicia a desova dos quelônios (Foto: Ecovale I Divulgação)

Durante o dia, centenas de tartarugas descansam nas margens do rio. À noite, sob a luz da lua, sobem lentamente pela areia para abrir ninhos e depositar os ovos — um ritual ancestral que simboliza a força e a resiliência da Amazônia.
Entretanto, neste ano, o processo começou diferente. Segundo José Soares Neto, o “Zeca Lula”, fundador da Associação Comunitária e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale), o atraso não representa uma ruptura, mas sim uma adaptação natural.

“O rio encheu mais tarde, o calor se espalhou diferente e isso atrasou o ciclo. Agora, precisamos observar como será o nascimento, já que o nível da água estará mais alto”, explicou.

Por esse motivo, o fenômeno revela o quanto o equilíbrio ecológico depende da harmonia entre o clima, o curso dos rios e o tempo natural da Amazônia. Além disso, reforça a necessidade de manter políticas públicas de proteção ambiental contínuas.

Monitoramento e cuidado com os ninhos

Tartarugas descansam às margens do Rio Guaporé (Foto: Ecovale)

Durante o período noturno, biólogos, ribeirinhos e voluntários percorrem as praias com lanternas para proteger as tartarugas-da-Amazônia e seus ninhos. Em paralelo, o trabalho coordenado envolve a Ecovale, o Ibama, a Sedam, a Polícia Militar Ambiental e dezenas de parceiros locais.

O biólogo Deyvid Muller destaca que o sucesso do processo depende da cooperação entre todos:

“A gente não vem só olhar, vem cuidar. Esse trabalho exige muita gente, especialmente na fase de eclosão, para garantir que os filhotes cheguem ao rio.”

Por outro lado, há uma preocupação adicional: com o atraso da desova, a areia pode ficar mais compacta, dificultando a saída dos filhotes. Por isso, as equipes planejam reforçar o número de voluntários para ajudar na travessia até a água.

Com essa mobilização, a comunidade demonstra que a proteção da fauna amazônica é um esforço coletivo e constante.

Ações da Assembleia Legislativa reforçam proteção ambiental

Audiência Pública sobre o zoneamento realizada em Nova Mamoré (Foto: Thyago Lorentz | Secom ALE/RO)

Atenta às mudanças ambientais, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero) tem intensificado o acompanhamento de projetos e políticas voltadas à conservação do Vale do Guaporé.

Entre as principais medidas, está a atualização do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Rondônia, ferramenta essencial para equilibrar o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Graças a esse instrumento, é possível definir áreas de manejo, proteção e recuperação com base em critérios científicos.

O deputado Ismael Crispin, presidente da Comissão, destacou a importância do zoneamento como ferramenta de gestão responsável:

“O zoneamento é mais que um mapa técnico, é um instrumento de equilíbrio entre o homem e a natureza. Quando vemos as tartarugas desovando, entendemos que proteger esse ciclo é também proteger o futuro de Rondônia.”

Dessa forma, a Assembleia reforça seu papel como agente de conscientização e de formulação de políticas públicas sustentáveis.

Ciclo da vida segue vivo

Mesmo diante das mudanças climáticas e da ação humana, o ciclo das tartarugas-da-Amazônia resiste. Assim, o trabalho conjunto entre comunidades, pesquisadores e órgãos públicos simboliza o esforço coletivo para preservar uma das maiores riquezas naturais do estado.

O Vale do Guaporé, que abriga o maior berçário de quelônios de água doce do Brasil, continua sendo palco de um espetáculo que une tradição, ciência e esperança. Ao fim, essa união mostra que a Amazônia ainda respira — e depende do compromisso de todos para continuar viva.