Xícara de café vista de cima com desenho de cérebro formado pela espuma e luz azul, simbolizando o impacto da cafeína no cérebro humano.
Arte conceitual mostra o poder do café sobre o cérebro humano e sua influência no prazer, foco e ciência.

A bebida que move o cérebro, o prazer e até a diplomacia internacional

O café é muito mais do que uma bebida: ele é um fenômeno global que une ciência, cultura e economia. Desde as reuniões políticas até a rotina de bilhões de pessoas, o grão brasileiro influencia tanto a produtividade quanto as relações internacionais.

O café no centro da economia e da política

Recentemente, o presidente americano reconheceu a falta que o café brasileiro faz aos Estados Unidos, após o aumento de tarifas de importação. O país, que não produz o grão em escala comercial, depende das exportações do Brasil — líder mundial e responsável por quase metade da oferta global de arábica.

Além disso, essa dependência vai muito além do comércio: reflete o quanto o café se tornou parte essencial da vida moderna e da engrenagem global de consumo e energia.

O segredo está no cérebro

De acordo com pesquisadores, o poder do café começa em uma molécula chamada adenosina, que sinaliza ao corpo que é hora de desacelerar.
A cafeína, por sua vez, atua como um impostor químico: ocupa os receptores da adenosina e bloqueia a sensação de cansaço, criando uma falsa impressão de energia.

Por essa razão, uma simples xícara é capaz de despertar o corpo e o raciocínio, mesmo em dias de exaustão. Estudos com eletroencefalogramas indicam que a substância altera o ritmo das ondas cerebrais, reduzindo o padrão relaxado e aumentando o estado de alerta.

Em outras palavras, a cafeína engana o cérebro, que acredita ainda ter energia disponível, prolongando o estado de vigília.

Ciência do prazer e da motivação

A neurociência também explica o lado emocional do café. Ele ativa as vias dopaminérgicas do cérebro, associadas ao prazer e à motivação — o mesmo sistema envolvido quando ouvimos música ou praticamos algo prazeroso.

De acordo com o professor Antonio Herbert Lancha Junior, da USP, “a ligação da cafeína com os receptores de adenosina melhora a vigília porque diminui a sinalização de cansaço”.

Consequentemente, essa combinação química e emocional transforma o café em um verdadeiro ritual: ele desperta, mas também acolhe, socializa e reforça comportamentos de foco e produtividade.

Mais que estímulo: um comportamento aprendido

A nutricionista Manuela Dolinsky, presidente do Conselho Federal de Nutrição, destaca que o café é também um comportamento social: envolve horários, pausas e interações.
“Tomar café é quase sempre um comportamento situado — envolve o contexto, o som da xícara, o aroma e a temperatura”, explica.

Dessa forma, esses estímulos sensoriais criam uma associação positiva entre prazer e desempenho, reforçando a rotina e a sensação de bem-estar.
Portanto, o ato de tomar café vai além do gosto: ele representa conexão, conforto e estímulo.

O que a ciência ainda busca compreender

Pesquisadores como Octavio Marques Pontes Neto, da USP de Ribeirão Preto, afirmam que ainda há lacunas sobre os efeitos completos do café no corpo humano.
Sabe-se que o consumo regular está associado a menor risco de depressão e doença de Parkinson, mas a relação causal ainda não é comprovada.

Além disso, os estudos atuais tentam diferenciar os efeitos químicos da cafeína daqueles provocados pelo prazer sensorial e pelo ritual do consumo.
Compreender essa interação, segundo os especialistas, pode ajudar a explicar por que o café é tão eficaz em manter o foco, o humor e o sentimento de conexão.

Um símbolo de energia e humanidade

Com mais de 2,5 bilhões de xícaras consumidas diariamente, o café é hoje um símbolo universal de energia e convivência.
Por fim, seja nas mesas de escritórios, nas conversas políticas ou nos laboratórios científicos, o café continua movendo economias, hábitos e cérebros — um elo entre prazer, foco e cultura.

Fonte: G1