Cérebro humano com sinapses acesas, DNA ao fundo e rostos de idosos
Cérebro mantém neurônios com a idade, mas perde eficiência genética; pesquisa pode mudar prevenção de Alzheimer e Parkinson

Queda genética e não morte celular muda visão da ciência

Um estudo publicado na revista Nature revelou o mapa mais completo do envelhecimento cerebral humano já feito, elucidando como o cérebro envelhece. Diferentemente do que se acreditava, o cérebro não perde grande quantidade de neurônios com o passar do tempo. Na verdade, o que entra em declínio é a eficiência dos genes responsáveis pela manutenção celular.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram mais de 360 mil células do córtex pré-frontal, uma região do cérebro ligada à memória, atenção e tomada de decisões. Os cérebros examinados iam de recém-nascidos a centenários, permitindo uma comparação ampla ao longo das faixas etárias.

Genes vulneráveis sofrem mais mutações ao longo da vida

Conforme o estudo, os neurônios continuam existindo, mas perdem desempenho. Isso ocorre porque os genes ligados à energia, ao reparo e ao metabolismo começam a falhar. Esse processo se intensifica após os 40 anos, quando os mecanismos naturais de correção já não dão conta do desgaste acumulado.

Além disso, foi identificado um padrão importante: os genes curtos e muito ativos, que são responsáveis pela manutenção das células, sofrem mais mutações. Por outro lado, os genes longos — ligados às funções cognitivas — possuem mecanismos de proteção mais eficazes e permanecem relativamente estáveis.

Comunicações cerebrais se desequilibram com a idade

À medida que os anos passam, a comunicação entre os neurônios também se deteriora. O estudo observou uma queda na expressão de genes inibitórios, como o SST e o VIP. Eles funcionam como freios naturais do cérebro. Com essa redução, aumenta o “ruído” nas conexões, o que contribui para o declínio cognitivo e o surgimento de doenças neurodegenerativas.

De acordo com o neurologista Renato Anghinah, da USP, os neurônios preservam sua identidade genética, mas a base que sustenta sua atividade entra em colapso. Isso mostra que o envelhecimento cerebral acompanha o desgaste do corpo como um todo.

Novo foco: prevenir antes dos 40 anos

A principal mudança prática, segundo os especialistas, é o redirecionamento da prevenção. Até agora, tentava-se compensar os efeitos do envelhecimento com vitaminas, colágeno ou cálcio. No entanto, essa nova descoberta abre caminho para tratar as causas genéticas do envelhecimento cerebral.

Para o geneticista Ciro Martinhago, é fundamental preservar a eficiência dos genes antes que o declínio comece. Ele afirma que isso pode ser feito com hábitos saudáveis e, futuramente, com terapias específicas para proteger essas funções genéticas.

Com base nos dados obtidos, a ciência começa a vislumbrar uma nova geração de medicamentos — não apenas para aliviar sintomas, mas para retardar, de fato, o envelhecimento do cérebro. Além disso, o estudo poderá permitir diagnósticos mais precoces e tratamentos personalizados.

Fonte: G1