Em 30 de agosto de 1880, o deputado Joaquim Nabuco fez história ao defender no plenário da Câmara a abolição imediata da escravidão no Brasil. Ele foi interrompido 17 vezes e boicotado pela maioria dos parlamentares — que se recusaram até mesmo a manter a sessão no dia seguinte para votar sua proposta.

Apesar da derrota, aquele dia marcou o início de uma nova fase da luta abolicionista: o tema, até então marginalizado, chegava ao centro do debate institucional.

A tentativa de silenciar a liberdade

Joaquim Nabuco discursando contra a escravidão na Câmara em 1880
Nabuco discursou sozinho contra um Congresso dominado por parlamentares ligados à elite escravocrata. Sua proposta era clara: abolir imediatamente a escravidão, sem indenizações aos senhores e com garantias de cidadania para os libertos.

Nabuco discursou sozinho contra um Congresso dominado por parlamentares ligados à elite escravocrata. Sua proposta era clara: abolir imediatamente a escravidão, sem indenizações aos senhores e com garantias de cidadania para os libertos.

Mas o que enfrentou foi um plenário hostil. Deputados o interromperam com ironias e apartes, enquanto os líderes da Casa manobravam para enterrar o tema com silêncio e procrastinação.

“Não há mais escravos no Brasil!”, declarou, prevendo um futuro que seus colegas tentavam evitar.

Brasil, última trincheira da escravidão

Cena histórica de punição pública a escravizados no Brasil colonial
Brasil, última trincheira da escravidão. Naquele momento, o país era um dos últimos do Ocidente a manter o regime escravocrata. Cuba já caminhava para a abolição. França, Inglaterra e Estados Unidos haviam encerrado a prática décadas antes.

Naquele momento, o Brasil era um dos últimos países ocidentais a manter a escravidão. Cuba caminhava para a abolição. França, Inglaterra e Estados Unidos já haviam abandonado o regime décadas antes.

Internamente, o Brasil sofria pressões internacionais e internas. O movimento abolicionista crescia, mas o Congresso resistia — protegendo os interesses econômicos do agronegócio escravista, especialmente no Vale do Paraíba e Oeste Paulista.

A defesa constitucional de Nabuco

Para Nabuco, a escravidão era ilegal: a Constituição de 1824 não a previa. Ele rejeitava qualquer indenização, defendia a reinserção dos libertos na sociedade e pedia uma nova Constituição para tornar o Brasil um país moderno e justo.

Poucos dias depois, ele fundou, com José do Patrocínio e André Rebouças, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão — marco da articulação civil abolicionista.

Derrotado no voto, vitorioso na história

O projeto foi barrado pelo então presidente do Conselho de Ministros, José Antônio Saraiva, que retirou o tema da competência parlamentar. Mas o discurso plantou a semente da virada.

O historiador Vitor Soares define aquele 30 de agosto como o momento mais próximo da abolição antes da Lei Áurea. A proposta de Nabuco foi o primeiro esforço real para extinguir o regime desde a Lei do Ventre Livre, de 1871.

Em 1888, já em seu último mandato, Nabuco viu sua luta se concretizar com a assinatura da Lei Áurea. Ele mesmo pediu à Câmara a dispensa das formalidades para acelerar a votação.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese