Mulher olha pela janela ao lado do texto “Esperança para lutar contra o câncer”, simbolizando avanços no controle da doença crônica
Arte horizontal com o texto “Esperança para lutar contra o câncer” ao lado de uma mulher em perfil, representando novos avanços no tratamento oncológico

Câncer caminha para se tornar doença crônica controlável

A medicina oncológica está passando por uma transformação significativa. Antigamente visto como uma sentença de morte, o câncer agora pode ser controlado, em muitos casos, por vários anos. Graças ao avanço da ciência e ao diagnóstico precoce, a doença caminha para se tornar uma condição crônica, semelhante ao HIV ou à diabetes. O câncer, uma doença crônica, está deixando de ser visto somente como um fim inevitável.

Essa mudança se reflete em histórias como a de Izabella Barroso, de 32 anos. Após notar sangramentos intestinais, ela procurou ajuda médica. Mesmo sendo saudável, sem vícios e sem histórico familiar, recebeu o diagnóstico de câncer colorretal. Submetida a duas cirurgias, Izabella não precisou de quimioterapia. Atualmente, encontra-se em remissão. “O diagnóstico precoce me salvou. Hoje estou voltando a viver”, afirma.

Novos tratamentos mudam o destino de pacientes

Segundo especialistas, o câncer pode ser tratado por décadas sem impedir uma vida ativa. “Não vamos erradicá-lo, mas vamos aprender a controlá-lo”, afirma Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation.

Nesse contexto, três frentes principais impulsionam essa nova realidade:

  • Diagnóstico precoce, que amplia as chances de sucesso

  • Terapias personalizadas, desenvolvidas com base na genética do tumor

  • Estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e prática de exercícios

Além disso, a conscientização sobre o autocuidado tem crescido, o que também favorece o controle da doença em longo prazo.

Terapias modernas já estão em uso no Brasil

A medicina deixou de tratar todos os tumores da mesma forma. Atualmente, os tratamentos consideram as mutações específicas de cada paciente. Isso permite abordagens mais eficazes e, ao mesmo tempo, reduz os efeitos colaterais.

Entre as terapias já disponíveis no país, destacam-se:

  • Larotrectinibe, para tumores com fusão NTRK

  • Pembrolizumabe, indicado para alta carga mutacional

  • Enhertu, voltado a tumores HER2+

  • Imunoterapia, que estimula a defesa natural do corpo

  • Terapias-alvo, com ação sobre mutações genéticas específicas

  • Terapias conjugadas e teranósticas, que unem diagnóstico e tratamento

  • CAR-T Cell, tecnologia que reprograma células de defesa do próprio paciente

Além disso, estudos com doses ultrabaixas de imunoterapia vêm demonstrando bons resultados. Essa abordagem, além de ser mais acessível, apresenta menos efeitos adversos, o que é especialmente relevante em países como o Brasil.

Casos entre jovens acendem alerta global

O número de casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos cresceu 79% nas últimas três décadas. Muitos desses pacientes não apresentam histórico familiar, o que revela o impacto de fatores ambientais e comportamentais.

Conforme explicam os especialistas, entre os principais fatores de risco estão:

  • Sedentarismo

  • Consumo excessivo de ultraprocessados

  • Obesidade

  • Poluição ambiental

  • Exposição a microplásticos

De acordo com Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, esses elementos têm relação direta com o aumento da incidência de tumores em adultos jovens.

Sistema de saúde ainda limita o acesso às terapias

Embora a medicina avance rapidamente, os benefícios nem sempre chegam a todos. A maior parte das terapias modernas ainda está fora do alcance de pacientes da rede pública, o que reforça desigualdades históricas no acesso à saúde.

Carlos Donnarumma, gerente nacional de oncologia da Rede Total Care, alerta para o cenário preocupante: “É um investimento pequeno para um problema gigantesco. Falta acesso a exames, biópsias e cirurgias que salvam vidas”, diz.

Hoje, menos de 4% do orçamento federal da saúde é destinado à oncologia, o que agrava a situação. Além disso, os recursos existentes não são bem distribuídos, o que prejudica ainda mais o tratamento integral dos pacientes.

Viver com câncer: uma nova realidade

Izabella continua em acompanhamento oncológico e psicológico. Embora enfrente dias difíceis, está reconstruindo sua vida. Ao lado de uma nova companheira, faz planos para o futuro. “Tem dias em que o medo bate, mas estou viva e cheia de planos”, relata.

A história dela ilustra bem o novo caminho que se abre. Com diagnóstico precoce, tratamento adequado e apoio emocional, viver com câncer se tornou possível e real. Mais do que isso, tornou-se um futuro viável para milhares de brasileiros.

Fonte: G1