Jequitinhonha se torna polo global de lítio até 2029

Vale atrai mineradoras, gera milhares de empregos e enfrenta desafios em saúde, moradia e qualificação

0
813
Vista aérea da planta de mineração de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Unidade de extração e beneficiamento de lítio no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, considerada estratégica na transição energética global.

Corrida global pelo lítio coloca Jequitinhonha no centro das atenções

Unidade industrial concentra parte da produção de lítio em Minas Gerais, com destaque no cenário mundial.

O Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, está no centro de uma transformação econômica. Com mais de R$ 5 bilhões em investimentos previstos até 2029, a região se tornou a maior reserva brasileira de lítio — parte da reserva mundial de lítio e mineral estratégico na transição energética global. A mudança vem impactando diretamente a vida nos 14 municípios da região.

Maior concentração de lítio do Brasil está em Minas

Vista aérea de correias e estruturas operacionais de mineração de lítio.
Equipamentos automatizados operam em larga escala na extração de lítio em Minas Gerais.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o Vale do Jequitinhonha concentra 45 dos 53 depósitos de lítio registrados no país. Vale destacar que isso representa cerca de 85% de todas as reservas brasileiras, proporcionando ao Brasil importância dentro da reserva mundial de lítio. Desde o decreto federal de 2022, que liberou a exportação do minério, o interesse de grandes empresas cresceu rapidamente.

Gigantes da mineração avançam com novos projetos

A presença de multinacionais como Sigma Lithium, Companhia Brasileira de Lítio (CBL), AMG e Atlas Lithium reforça o potencial do Vale, que já abrange grande parte da reserva mundial de lítio. Algumas delas já estão em operação, enquanto outras avançam nas fases de licenciamento e implantação de infraestrutura.

Investimentos bilionários e geração de empregos em alta

Ônibus transportando trabalhadores pela estrada de terra próxima à mineradora.
Ônibus percorre estrada de terra sob tráfego intenso de veículos pesados nas proximidades da Atlas Lithium.

Entre 2025 e 2029, o volume de recursos ultrapassará os R$ 5 bilhões. Com isso, estima-se a criação de até 14 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, os municípios registraram alta expressiva na arrecadação de tributos: 39,4% no ISS e 12% no ICMS, beneficiados pela proximidade com a reserva lítio mundial.

Desenvolvimento vem acompanhado de desafios sociais

Trabalhadores atuam em galeria subterrânea de extração de lítio com equipamentos pesados.
Estrutura subterrânea revela o avanço técnico das minas de lítio em operação no subsolo de Minas Gerais.

Por outro lado, o crescimento acelerado tem pressionado a infraestrutura das cidades. Em Araçuaí, por exemplo, a demanda hospitalar aumentou mais de 30% no último ano. Enquanto isso, o custo dos aluguéis disparou e a oferta de serviços públicos não acompanhou o ritmo da reserva mundial de lítio.

Formação técnica busca suprir nova demanda por mão de obra

Em resposta à chegada das mineradoras, instituições como o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) ampliaram cursos técnicos voltados à mineração, eletromecânica e automação industrial. A expectativa é preparar profissionais locais para ocupar as novas vagas devido ao desenvolvimento da reserva de lítio mundial.

Brasil ainda exporta lítio in natura e perde valor agregado

Apesar dos avanços, o Brasil ainda exporta quase todo o lítio em estado bruto. Especialistas defendem a criação de polos industriais na própria região, o que aumentaria o valor agregado do produto e geraria ainda mais empregos qualificados, aproveitando a proximidade de uma reserva mundial.

Próximos passos envolvem regulação e sustentabilidade

Vista panorâmica de área minerada com terraplanagem e mata ao fundo.
Abertura de novas frentes de exploração contrasta com a vegetação nativa da região.

Em contrapartida aos lucros gerados, a sustentabilidade dos projetos e o respeito às comunidades tradicionais permanecem como pontos de atenção. O governo federal planeja fortalecer a “Rota do Lítio” e incentivar boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG), dentro do contexto de uma reserva mundial de lítio.