Biblioterapia conquista espaço como apoio à saúde emocional

Leitura terapêutica cresce como aliada no enfrentamento emocional

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ilustração conceitual de uma pessoa tomando um “banho” dentro de um livro gigante — simbolizando o poder regenerativo da leitura.
ilustração conceitual de uma pessoa tomando um “banho” dentro de um livro gigante — simbolizando o poder regenerativo da leitura.

O que é a biblioterapia e por que ela atrai quem busca bem-estar

A biblioterapia, técnica que utiliza a leitura como ferramenta de apoio à saúde mental, tem ganhado destaque entre pessoas que enfrentam estresse, ansiedade e outras dificuldades emocionais. A prática propõe que a conexão com personagens e histórias possa promover alívio psicológico, empatia e reflexão sobre dilemas pessoais.

Leitura como remédio: origem e crescimento da prática

banho de leituras – ilustração de cura emocional através da leitura imersiva, simbolizando renovação interior.
banho de leituras – ilustração de cura emocional através da leitura imersiva, simbolizando renovação interior.

A prática remonta à Primeira Guerra Mundial, quando livros eram usados para aliviar o sofrimento de soldados. Desde os anos 1990, a biblioterapia passou a se consolidar no Reino Unido, com profissionais especializados oferecendo sessões pagas ou até mesmo indicações de leitura em sistemas públicos de saúde.

O médico Andrew Schuman, do NHS britânico, é um dos defensores da prática. Segundo ele, “a leitura, combinada com outras terapias, pode ser extremamente poderosa”.

Experiência pessoal mostra como livros ajudam a enfrentar crises

A leitura tem sido usada como apoio terapêutico para pessoas que enfrentam situações difíceis e buscam conforto nas palavras
A leitura tem sido usada como apoio terapêutico para pessoas que enfrentam situações difíceis e buscam conforto nas palavras

A norte-americana Elizabeth Russel recorreu à biblioterapia durante um divórcio difícil. Ao receber recomendações de ficção com personagens que enfrentavam desafios semelhantes, sentiu-se compreendida e menos solitária. “Isso abriu algo dentro de mim que precisava ser curado”, relatou.

Segundo especialistas, esse efeito é possível porque os leitores se identificam com os personagens e vivem, de forma simbólica, processos de superação.

Benefícios e riscos da biblioterapia

Estudos sugerem que leitores frequentes tendem a ser menos solitários, mais empáticos e resilientes. Programas como o Reading Well, no Reino Unido, já emprestaram quase 4 milhões de livros indicados para condições como depressão e demência.

No entanto, a biblioterapia também levanta alertas. Pesquisas mostraram que certos livros, especialmente com personagens que enfrentam transtornos alimentares, podem agravar sintomas. A pesquisadora Emily Troscianko defende que o tipo de leitura precisa ser cuidadosamente escolhido, sob risco de reforçar gatilhos emocionais.

Como praticar a biblioterapia com segurança

Para quem deseja experimentar a técnica, recomenda-se:

  • Procurar indicações de leitura em bibliotecas públicas;

  • Participar de clubes do livro para compartilhar reflexões;

  • Escolher obras que tragam conforto ou inspiração;

  • Evitar leituras que possam causar angústia ou desconforto;

  • Sempre buscar apoio profissional quando necessário.

A psicóloga Giulia Poerio ressalta que o impacto positivo da leitura está ligado ao envolvimento emocional com o conteúdo. “Quando a história ressoa, os efeitos sobre o bem-estar são perceptíveis.”

o poder de não se sentir sozinho

Para Elizabeth Russel, a maior descoberta foi perceber que não estava sozinha. “Você pode respirar fundo e dizer: eu não estou sozinha nessa jornada.”

Apesar de não substituir terapias tradicionais, a biblioterapia é vista como uma aliada importante para o cuidado com a saúde mental — especialmente em tempos de solidão, incertezas e sobrecarga emocional.