Prisão de brasileira nos EUA expõe monitoramento secreto do ICE

Brasileira foi presa após informação em grupo do Signal vigiado pelo ICE. Caso expõe violações às leis estaduais no Colorado.

0
2764
A estudante brasileira Caroline Dias Gonçalves vive nos EUA desde os 7 anos. Ela foi detida pelo ICE após uma infração leve de trânsito no Colorado.
A estudante brasileira Caroline Dias Gonçalves vive nos EUA desde os 7 anos. Ela foi detida pelo ICE após uma infração leve de trânsito no Colorado.

Prisão de brasileira acende alerta sobre cooperação ilegal do ICE

A prisão de brasileira nos EUA, Caroline Dias Gonçalves, de 19 anos, revelou um esquema de monitoramento sigiloso por parte do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE). Segundo apuração da polícia do Colorado, a jovem foi detida após um policial local compartilhar informações em um grupo do aplicativo Signal — que, sem o conhecimento dos participantes, estava sendo monitorado pelo ICE.

Abordagem policial e detenção da estudante

Caroline foi abordada no dia 5 de junho por um policial estadual no Colorado. O agente Alexander Zwinck registrou a ocorrência no grupo do Signal, e, em seguida, ela foi novamente parada, desta vez por um agente federal de imigração, sendo levada sob custódia — mesmo possuindo status migratório regular nos EUA.

A brasileira foi libertada no dia 18 de junho após pagamento de fiança, conforme informou o advogado Jonathan M. Hyman. O caso agora tramita na Justiça Federal de Salt Lake City, Utah, onde a jovem reside com sua família.

<yoastmark class=

Grupo no Signal era acessado pelo ICE

Segundo o Gabinete do Xerife do Condado de Mesa, o grupo de mensagens tinha como objetivo o compartilhamento de informações sobre tráfico de drogas. No entanto, após o vazamento do caso de Caroline, foi confirmado que o canal era acessado por autoridades federais, incluindo o ICE, o que pode configurar violação às leis do Colorado, que proíbem cooperação informal com órgãos de imigração.

“O uso de dados compartilhados para fins migratórios não é permitido pelas leis do Colorado”, informou o gabinete em nota oficial. Após o escândalo, todos os membros do grupo foram removidos.

Família vive legalmente nos EUA e aguarda decisão de asilo

A família de Caroline reside legalmente nos Estados Unidos há 12 anos. Eles solicitaram asilo há três anos, após episódios de violência no Brasil. Enquanto aguardam a decisão judicial, possuem documentos regulares como autorizações de trabalho, carteira de motorista e número da seguridade social.

Estudante de enfermagem na Universidade de Utah, Caroline foi contemplada com bolsa da organização TheDream.US, voltada a jovens imigrantes. Ela estava com todos os documentos em dia no momento da abordagem.

Estudante passou 13 dias em centro de detenção

Caroline ficou detida por quase duas semanas em um centro federal de imigrantes localizado em Aurora, próximo a Denver. A abordagem foi gravada por uma câmera corporal e divulgada oficialmente. Nas imagens, é possível ver que a estudante foi parada por trafegar muito próxima a um caminhão na rodovia Interstate-70.

O policial, após perceber o sotaque de Caroline, insistiu para saber sua nacionalidade. Ao confirmar que ela era brasileira, acionou o ICE — o que, segundo o advogado, foi feito sem base legal.

Advogado denuncia violação de direitos e ilegalidade da prisão

O advogado Jonathan M. Hyman afirma que a conduta do policial e o compartilhamento de informações migratórias sem mandado judicial ou indícios de crime violam as leis do Estado. Ele também questiona a existência de outras vítimas dessa prática.

“Quantos motoristas tiveram seus dados migratórios compartilhados indevidamente? Que outras agências participam desse grupo secreto?”, declarou Hyman em entrevista à BBC News Brasil.

O caso da prisão de brasileira nos EUA pode desencadear desdobramentos legais, especialmente se for comprovada a violação de direitos garantidos por leis estaduais do Colorado.