As investigações sobre o esquema bilionário de fraudes nos descontos aplicados a aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelam conexões com seis partidos políticos. O escândalo dos descontos do INSS atinge figuras tanto da base aliada do presidente Lula (PT) quanto da oposição, incluindo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Desde dezembro de 2023, o portal Metrópoles publicou reportagens que detalharam o esquema. Essas informações serviram de base para a operação da Polícia Federal (PF), deflagrada em abril de 2024. Estima-se que os desvios somem R$ 6,3 bilhões. Em consequência direta, Alessandro Stefanutto deixou a presidência do INSS, e Carlos Lupi saiu do Ministério da Previdência.
O PDT enfrentou as maiores consequências. Embora Carlos Lupi não tenha sido formalmente investigado, os alertas ignorados durante sua gestão o forçaram a deixar o cargo. A pressão aumentou após reportagens e uma reunião do Conselho Nacional do INSS que expuseram o esquema.
Wolney Queiroz, também do PDT, assumiu o ministério. Ele participou da mesma reunião e assinou, em 2021, uma emenda que prorrogou prazos para revalidação de cadastros. O partido também mantém presença no INSS por meio de Adroaldo da Cunha Portal, ex-chefe de gabinete do senador Weverton Rocha (PDT-MA).
Depois da queda de Lupi, os deputados do PDT anunciaram afastamento do governo. Por outro lado, os senadores optaram por permanecer na base aliada.
José Carlos Oliveira, ex-ministro da Previdência no governo Bolsonaro, aparece na investigação. Um assessor de entidade suspeita repassou valores a um sócio dele, o que levantou suspeitas. A Conafer, entidade envolvida, multiplicou seu faturamento em 57.000% entre 2019 e 2023.
Embora citado, Oliveira ainda não responde formalmente como investigado.
O PSB também teve nomes expostos no escândalo dos descontos do INSS. Alessandro Stefanutto, que liderava o instituto até janeiro de 2024, perdeu o cargo por ordem judicial. Durante buscas da PF, surgiram anotações que indicam possível pagamento de propina a ele e ao ex-procurador Virgílio Oliveira Filho.
Além disso, o deputado estadual Edson Araújo (PSB-MA) recebeu R$ 5,4 milhões de uma das entidades investigadas, entre maio de 2023 e maio de 2024. A federação de pescadores que ele presidia recebeu repasses de outra entidade, a CBPA, que obteve R$ 99 milhões via descontos de aposentadorias.
O governo Lula afirma que o esquema surgiu na gestão anterior. No entanto, dados mostram que os repasses aumentaram nos últimos dois anos. A Contag, presidida por Aristides Veras Santos (irmão do deputado Carlos Veras, PT-PE), arrecadou R$ 2 bilhões de 2019 a 2024.
Apesar de ser alvo de mandado de busca, a Contag escapou do bloqueio de recursos. O ministro Paulo Teixeira (PT) se reuniu com membros da entidade, mas omitiu o encontro da agenda oficial. Frei Chico, irmão de Lula, também está ligado ao caso como vice-presidente de uma das entidades que mais arrecadaram: o Sindnapi.
Em apenas três anos, o número de aposentados filiados ao Sindnapi passou de 170 mil para 420 mil. Segundo o TCU, o faturamento da entidade cresceu em R$ 100 milhões nesse período.
A operação também envolveu o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL). Ele recebeu R$ 60 mil de Felipe Gomes, então presidente da ABCB, em sua campanha ao governo do RS em 2022. A ABCB firmou acordo com o INSS meses antes.
Lorenzoni afirma que não sabia sobre as entidades habilitadas para fazer os descontos e que não possui relação com Gomes.
Abraão Lincoln, ex-dirigente do Republicanos no Rio Grande do Norte, lidera a CBPA, uma das entidades investigadas. Em 2022, a CBPA não possuía associados. Um ano depois, ultrapassou 340 mil filiados e arrecadou R$ 57,8 milhões.
Lincoln ainda frequenta eventos do partido e manteve contato com figuras como Marcelo Crivella e Hugo Motta.