Na tarde abafada de 1º de abril em Caxias do Sul, Thiago, João e Camila se encontraram próximo à escola João de Zorzi com um plano macabro em mente. Thiago, de 15 anos, carregava quatro facas em sua mochila, João, de 14, levava mais uma. As armas foram distribuídas entre eles, inclusive para Camila, de 13.
Apesar do comportamento aparentemente normal, os três adolescentes haviam premeditado um atentado. Entraram na escola sem levantar suspeitas e chegaram a mostrar discretamente as facas a colegas. Alguns acharam que era uma brincadeira de “dia da mentira”, mas não era.
Durante a aula de inglês com a professora Luana, o trio executou o plano. João foi o primeiro a golpear a professora, seguido por Thiago. Camila, apesar de armada, recuou no último instante. Foram pelo menos 13 golpes com faca, segundo o laudo pericial.
A sala se transformou em um cenário de horror. Alunos correram em pânico, enquanto a professora, ferida, clamava por socorro. Funcionários e colegas acionaram a Unidade Básica de Saúde próxima, que prestou os primeiros atendimentos.
De acordo com depoimentos, os adolescentes criaram um grupo chamado “Matadores” no Instagram, onde discutiram o plano nos mínimos detalhes: o momento do ataque, as armas, a fuga e até o que comeriam depois.
Mensagens obtidas pela polícia mostram a intenção clara de matar. Thiago escreveu: “Vou virar um serial killer, tô nem aí”. João respondeu: “Eu também, kkk”. Ambos posaram com facas em fotos nas redes sociais, indicando a gravidade da situação.
Luana, a professora de 34 anos, sobreviveu ao atentado, mas ainda lida com as consequências físicas e emocionais. Ela recebe acompanhamento diário de enfermagem e apoio psicológico fornecido pela prefeitura.
Seu advogado, Leonel Ferreira, declarou que não houve qualquer conflito prévio com os alunos. A professora havia iniciado suas atividades naquela escola há pouco tempo, com carga horária reduzida.
A Polícia Civil concluiu o inquérito inicial e não descarta a influência de grupos extremistas online. A delegada Aline Martinelli afirma que o grupo virtual onde o plano foi gestado será analisado com mais profundidade nesta nova fase da investigação.
Por enquanto, Thiago, João e Camila estão internados em unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), aguardando julgamento pela Vara da Infância e Juventude. A promotoria não descarta que o ataque tenha sido influenciado por discurso de ódio presente nas redes.
No dia seguinte ao ataque, as escolas de Caxias do Sul ficaram vazias. Professores protestaram em frente à prefeitura, pedindo medidas de proteção, apoio psicológico e valorização da profissão. Apenas duas viaturas da Guarda Municipal patrulham mais de 80 escolas, o que evidencia a falta de estrutura.
Além disso, o ataque reacendeu discussões sobre a redução da maioridade penal. No entanto, a professora atacada e seu advogado não defendem mudanças na legislação, mas sim a aplicação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a responsabilização adequada dos envolvidos.
Estudo do Grupo de Estudos em Educação Moral da Unicamp identificou ao menos 42 ataques a escolas desde 2001, sendo mais da metade entre 2022 e 2024. A maioria dos agressores é do sexo masculino, com histórico de isolamento social, sofrimento escolar e uso de redes para planejar os atos.
As pesquisadoras destacam que, mesmo sem participação formal em grupos extremistas, os jovens são expostos constantemente a discursos de ódio nos algoritmos das redes sociais.