
Tragédia reacende alerta sobre o acesso infantil à internet
Maria Pereira, de 30 anos, viveu o que nenhuma mãe deveria enfrentar. Sua filha, Sarah Raíssa, de apenas 8 anos, morreu após tentar cumprir o chamado “desafio do desodorante”, um conteúdo viralizado nas redes sociais que incentiva a inalação de aerossol.
“Uma criança não deve ter acesso a telas. Elas não têm maturidade para entender o perigo que pode estar ali”, disse Maria, emocionada.
O desafio consistia em inalar desodorante spray pelo maior tempo possível — prática que pode ser fatal. Sarah sofreu uma parada cardiorrespiratória, recebeu atendimento por cerca de 60 minutos, mas não resistiu. A morte encefálica foi confirmada no sábado.
Redes sociais e o perigo do conteúdo não filtrado
A família relata que Sarah usava o celular de forma controlada, por no máximo duas horas por dia, em horários específicos. Ainda assim, isso não impediu o contato com o conteúdo mortal.
“Na internet, é tudo sem controle. As pessoas postam o que querem, não há filtros ou avisos”, afirmou o pai, Cássio Batista.
Em meio à dor, os pais pedem justiça e fazem um apelo: a regulamentação mais rigorosa do ambiente digital. “Por que exigimos documento em tantos lugares, mas na internet qualquer um pode tudo?”, questiona Cássio.
Luto e consternação na escola onde Sarah estudava
Na Escola Classe 6 de Ceilândia, a comunidade escolar ainda tenta lidar com o trauma. Em frente ao prédio, uma faixa prestava solidariedade à família de Sarah.
Durante as aulas, professores acolheram os alunos e incentivaram conversas sobre o ocorrido. “Algumas crianças disseram já ter visto o desafio na internet”, relatou a orientadora educacional Lilian Tamar Oliveira.
Exposição precoce a conteúdos virais tem consequências reais
Especialistas reforçam que o impacto psicológico desses desafios é potencializado pela estrutura do cérebro infantil. A neuropsicóloga Juliana Gerbrim, da UnB, explica que crianças buscam aceitação e recompensas sociais — e que os algoritmos das redes exploram isso com eficiência.
“Esses conteúdos ativam o sistema de recompensa cerebral. O efeito de contágio social é perigoso quando não há filtros”, disse a especialista.
Ela defende um monitoramento ativo por parte dos pais, combinado a políticas públicas e educação digital desde o ensino fundamental.
Educação digital é urgente e indispensável
Proibir não é o caminho, mas educar, sim. A especialista defende que crianças precisam de acompanhamento constante para navegar de forma segura. “O mundo digital é real. E suas consequências também são”, concluiu.