A vida de Jozivan de Sousa, de 43 anos, mudou após receber um diagnóstico precoce de Parkinson, aos 36. Natural de Entre Rios, na Bahia, ele enfrentava dificuldades motoras graves, chegando a precisar de ajuda para se virar na cama. Apesar dos desafios, alimentava a esperança de recuperar sua autonomia por meio de um tratamento inovador. E, em 13 de fevereiro de 2025, esse desejo tornou-se realidade.

Na data, Jozivan se tornou o primeiro paciente do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA/Ebserh) a passar pela cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS – Deep Brain Stimulation). O procedimento, que envolve tecnologia de ponta, representa um marco para a unidade e para o SUS na Bahia. Além disso, reforça o papel da Ebserh em levar terapias avançadas a quem mais precisa.

Crescimento da doença e atuação do SUS

Comemorado em 11 de abril, o Dia Mundial da Conscientização da Doença de Parkinson chama atenção para a importância do diagnóstico e do tratamento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 8,5 milhões de pessoas convivem com a doença no mundo. Esse número tende a crescer com o envelhecimento da população.

Nesse cenário, a atuação dos hospitais universitários da Ebserh tem feito a diferença. Eles oferecem atendimento especializado e intervenções modernas, como a estimulação cerebral profunda. “Já fui pela terceira vez ao hospital receber o estímulo. Já consigo tomar banho e escovar os dentes sozinho. Isso é uma grande vitória”, afirma Jozivan, emocionado.

O que é a doença de Parkinson?

De acordo com Roberta Kauark, preceptora da residência de Neurologia do Hupes, o Parkinson é a segunda doença degenerativa mais comum do sistema nervoso central, ficando atrás apenas do Alzheimer. Ela afeta principalmente pessoas com mais de 60 anos, podendo atingir até 4% dos idosos com mais de 80.

A condição é progressiva e impacta a vida dos pacientes em diferentes aspectos. Há prejuízos motores, como tremores e rigidez, além de sintomas não motores, como depressão e distúrbios intestinais. Em muitos casos, o impacto social é profundo, levando à perda da autonomia e ao isolamento.

Causa ainda é desconhecida

Para o neurocirurgião Jairo Ângelos, do HU-UFMA, a origem do Parkinson permanece um mistério. Em cerca de 95% dos casos, a doença surge sem causa identificável. No entanto, há hipóteses que apontam para uma combinação de predisposição genética e fatores ambientais.

O Parkinson está diretamente ligado à diminuição de dopamina no cérebro. Esse neurotransmissor é responsável pelo controle dos movimentos. Quando seus níveis caem, surgem os sintomas clássicos da doença.

Tratamentos disponíveis no SUS

A principal medicação utilizada é a levodopa, disponível no Brasil desde a década de 1970. Conforme explica a neurologista Ana Lucia Rosso, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/Ebserh), esse medicamento é combinado a outras substâncias para aumentar sua eficácia. Apesar disso, ainda não existe um remédio capaz de interromper a progressão da doença.

Por outro lado, estudos indicam que atividades físicas regulares, como natação, dança ou caminhada, podem retardar os sintomas. Contudo, ainda faltam comprovações científicas definitivas sobre esse efeito.

Além dos medicamentos, a cirurgia de estimulação cerebral profunda surge como uma alternativa promissora. Esse procedimento consiste na implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro. Esses eletrodos são conectados a um gerador que emite impulsos elétricos, controlando os sintomas motores.

É importante ressaltar que nem todos os pacientes são elegíveis para a cirurgia. Cada caso é avaliado individualmente por uma equipe multidisciplinar.

Terapias avançadas nos hospitais da Ebserh

Nos hospitais da rede Ebserh, diversos recursos estão disponíveis para pacientes com Parkinson:

  • Hupes-UFBA (BA): atende entre 80 e 100 pacientes por mês. Oferece desde o diagnóstico até a cirurgia e o ajuste do dispositivo DBS.

  • HUCFF-UFRJ (RJ): realiza cerca de 20 atendimentos semanais. Entre os serviços estão exames neurológicos, aplicação de toxina botulínica e avaliações cirúrgicas.

  • HU-UFMA (MA): mantém um ambulatório voltado aos distúrbios do movimento. Além de consultas e aplicação de toxina botulínica, realiza a palidotomia e está implementando o procedimento de DBS.

Jairo Ângelos explica que a palidotomia, por exemplo, é indicada para casos em que os sintomas afetam apenas um lado do corpo. Já a estimulação cerebral profunda é ideal para quadros mais avançados e bilaterais.

Sobre a Ebserh

Criada em 2011 e vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares administra atualmente 45 hospitais universitários federais. Essas unidades aliam atendimento pelo SUS à formação de profissionais da saúde e ao desenvolvimento de pesquisas.

Dessa forma, a atuação da Ebserh representa um elo entre ciência, ensino e cuidado com a população. No caso do Parkinson, os avanços tecnológicos oferecidos nos hospitais federais têm proporcionado mais qualidade de vida e esperança a milhares de brasileiros.