Lobo extinto realmente voltou à vida em laboratório? - TVDOPOVO.COM
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segunda-feira , 7 julho, 2025

A empresa norte-americana Colossal Biosciences anunciou o nascimento de três filhotes de lobo com genes do extinto lobo-terrível, espécie que desapareceu há cerca de 12 mil anos. O feito, descrito como um avanço da engenharia genética, chamou a atenção por lembrar enredos da série Game of Thrones.

Entretanto, cientistas e especialistas destacam que o experimento não trouxe de volta a espécie extinta, apesar da semelhança física entre os filhotes e o lobo-terrível original.

O que aconteceu no laboratório?

Na segunda-feira (7), a Colossal apresentou Romulus, Remus e Khaleesi, os três filhotes com traços genéticos do lobo-terrível. Segundo a empresa, os animais representam o primeiro passo na “ciência da desextinção”.

A equipe usou engenharia genética para inserir genes do lobo-terrível em lobos cinzentos modernos. Assim, a Colossal pretende aproximar-se da recriação de uma espécie extinta.

No entanto, a comunidade científica reagiu com ceticismo e apontou que o resultado não configura uma verdadeira desextinção.

Cientistas "ressuscitam" lobos de "Game of Thrones"
Empresa afirma ter restaurado lobo de 12 mil anos pela primeira vez por meio da “ciência da desextinção”. Crédito: Colossal Biosciences

Resumo do caso:

Cientistas criticam a proposta de desextinção

O geneticista Jeremy Austin, diretor do Centro Australiano de DNA Antigo, afirmou que os filhotes não são lobos-terríveis. De acordo com ele, a Colossal apenas modificou lobos cinzentos para se parecerem com o animal extinto.

Em entrevista ao Science Alert, Austin comparou a iniciativa à fábula “As Roupas Novas do Imperador”, dizendo que a empresa promove uma ilusão. Ele ressaltou que recriar uma espécie extinta exige milhares de alterações genéticas, o que não ocorreu no caso.

Além disso, o geneticista Adam Boyko, da Universidade Cornell, também se posicionou contra a ideia de “ressurreição”. Ele explicou que os filhotes carregam apenas 20 genes do lobo-terrível. “Talvez precisemos de 2 mil genes para chegar perto”, alertou.

Aparência e comportamento não bastam para definir uma espécie

Filhotes criados em laboratório pela Colossal Biosciences, que se refere a eles como a “ressuscitação” do lobo-terrível. Crédito: Colossal Biosciences

A bióloga evolucionista Beth Shapiro, que integra a equipe da Colossal, defendeu o projeto. Para ela, se o animal parece, se comporta e cumpre o papel ecológico da espécie extinta, isso pode ser suficiente. Em entrevista ao New Scientist, ela afirmou que “o conceito de espécie é subjetivo”.

No entanto, muitos cientistas discordam dessa visão. Jeremy Austin reforçou que sem rigor genético, não é possível afirmar que uma espécie foi ressuscitada. Ele alertou que aparência física, sozinha, não comprova a identidade genética de um animal extinto.

Além disso, Boyko lembrou que os filhotes vivem em ambientes modernos, com dietas e comportamentos diferentes dos antigos lobos-terríveis. Por isso, o projeto também falha em recriar o contexto ecológico da espécie.

Desextinção ou marketing científico?

O projeto da Colossal levanta uma questão importante: estamos diante de um avanço real ou de uma estratégia de marketing? Embora o experimento represente um marco na manipulação genética, a maioria dos cientistas não o considera desextinção de fato.

Portanto, mesmo com as inovações da biotecnologia, ainda estamos longe de ver o verdadeiro lobo-terrível de volta ao planeta. Por enquanto, temos apenas uma versão moderna e modificada de um lobo cinzento com alguns traços do passado.