Feminicídio no Brasil: Um Problema Estrutural e Crescente
Feminicídio no Brasil: Um Problema Estrutural e Crescente

A violência contra a mulher segue alarmante no Brasil. Segundo o boletim Elas Vivem: Um Caminho de Luta, divulgado nesta quinta-feira (13) pela Rede de Observatórios da Segurança, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 17 horas no país. O estudo aponta que, em 2024, foram registrados 531 casos de feminicídio nos nove estados analisados, evidenciando um aumento significativo na violência de gênero.

Aumento da Violência Contra Mulheres

A pesquisa monitorou os estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. O Amazonas foi incluído apenas em 2024, enquanto os demais estados já faziam parte do estudo anteriormente.

Os dados revelam que, a cada 24 horas, ao menos 13 mulheres foram vítimas de violência nos estados analisados. No total, 4.181 mulheres sofreram violência em 2024, representando um aumento de 12,4% em relação a 2023. O estado de São Paulo lidera o ranking de ocorrências, com 1.177 registros, seguido pelo Rio de Janeiro (633) e Amazonas (604). Maranhão e Pará apresentaram os maiores aumentos percentuais, com crescimento de 87,2% e 73,2%, respectivamente.

Os Estados com Maiores Índices de Violência

São Paulo

  • Maior número de casos de violência contra mulheres: 1.177 registros
  • 374 mortes de mulheres por feminicídio e homicídio
  • 53 feminicídios cometidos com objetos cortantes
  • 378 vítimas tinham entre 18 e 39 anos

Rio de Janeiro

  • 633 registros de violência contra mulheres
  • 103 casos de violência sexual
  • 50,8% dos feminicídios foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros
  • 20,3% dos casos de violência foram cometidos por agentes da segurança pública

Amazonas

  • 604 registros de violência contra mulheres
  • 33 feminicídios
  • 84,2% das vítimas de violência sexual tinham entre 0 e 17 anos
  • 97,5% dos casos não tiveram identificação de raça/cor

Maranhão

  • Maior crescimento percentual de violência: 87,2%
  • 54 feminicídios
  • 85,2% dos crimes cometidos por parceiros ou ex-parceiros
  • 61 casos de violência sexual
  • 93,7% dos casos sem identificação de raça/cor

Pará

  • 388 registros de violência contra mulheres
  • Aumento de 73,2% em relação a 2023
  • 69 homicídios de mulheres
  • 41 feminicídios, sendo 26 cometidos por parceiros ou ex-parceiros
  • 21 feminicídios praticados com objetos cortantes

Ceará

  • 80 casos de homicídio e tentativa de homicídio
  • 45 feminicídios, sendo 21 vítimas entre 18 e 39 anos
  • 51,9% dos casos sem motivação identificada
  • 2024 foi o ano mais violento dos últimos sete anos

Pernambuco

  • 312 registros de violência contra mulheres
  • 35 dos 69 feminicídios cometidos por parceiros ou ex-parceiros
  • 129 eventos de violência com presença de arma de fogo
  • 31 vítimas de feminicídio tinham entre 18 e 39 anos
  • Segundo estado com mais mortes de mulheres no levantamento

Piauí

  • Aumento de 17,8% nos casos de violência contra mulheres
  • 64 mortes (feminicídio, transfeminicídio e homicídio)
  • 52,7% dos feminicídios sem informação de motivação
  • 42,6% dos eventos violentos ocorreram em Teresina

Bahia

  • 257 registros de violência contra mulheres
  • 46 vítimas de feminicídio
  • 68 eventos de violência em Salvador
  • 73,9% das vítimas não tiveram raça/cor identificada

Violência Doméstica e Falhas na Proteção das Mulheres

Os dados revelam que a violência contra a mulher está enraizada na sociedade e, frequentemente, ocorre dentro de casa. Em 75,3% dos casos, os crimes foram cometidos por familiares da vítima. Se considerados apenas cônjuges, ex-cônjuges, namorados e ex-namorados, esse percentual chega a 70%.

O estudo também aponta um crescimento expressivo nos crimes de violência sexual e estupro, com um aumento de 70,5% em um ano. Apesar dos avanços na legislação, as medidas de proteção ainda são insuficientes. Muitas vítimas continuam sofrendo agressões mesmo após solicitarem medidas protetivas.

A subnotificação e a dificuldade de acesso a serviços especializados são desafios que impedem a identificação do real impacto da violência de gênero no país. Pesquisadores alertam que os números não apenas confirmam a escalada da violência, mas também evidenciam a ineficácia das políticas públicas para garantir a segurança das mulheres.